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Investigação revela falhas da OMS em surto de ebola

Dois anos após reforma, Organização Mundial da Saúde sofre com falta de pessoal e de dinheiro e excesso de burocracia

Por Jamil Chade
Atualização:
Febre amarela, registrada no Brasil, foi uma das 47 emergências em saúde em 2017 Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

GENEBRA - Diante da emergência de saúde vivida pelo Iraque, uma equipe internacional foi enviada ao local para fornecer remédios e serviços de urgência à população. Para isso, o time formado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) buscou parceiros locais que pudessem implementar a estratégia e fornecer os medicamentos necessários para tratar as vítimas e os pacientes, muitos deles entre a vida e a morte. 

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Mas, para que a operação pudesse ser iniciada diante da urgência sanitária, havia um obstáculo inesperado a ser superado: a burocracia. Entre a assinatura de acordos, a implementação e a entrega de remédios, a OMS levaria 57 dias para completar o processo. No total, a estratégia passou por 24 etapas administrativas para ser aprovada. Só então remédios puderam chegar aos mais necessitados – ou aos que ainda estavam vivos.  

Essas e outras constatações fazem parte de um relatório independente realizado por uma auditoria dentro da OMS. A conclusão é de que a agência, apesar de avanços nos últimos anos, ainda não está preparada para fazer frente a uma eventual nova epidemia de grande proporção mundial. 

O documento interno obtido pelo Estado revela pela primeira vez que a forma como a crise do surto de ebola foi tratada na África, há três anos, é considerada um “fracasso catastrófico”. 

Marcando os cem anos da gripe espanhola, a comunidade internacional vem sendo confrontada por estudos que indicam que novas epidemias são inevitáveis. A questão, assim, não é se elas poderão se repetir, mas quando ocorrerão. 

Para os auditores, progressos vêm sendo realizados desde que a OMS passou por reformas importantes, em 2015 e 2016. Ainda assim, a criação de programas para lidar com emergências seriam insuficientes.  

“A origem do programa da OMS para emergências foi a dura lição aprendida do surto de ebola na África”, declarou o informe interno. A auditoria admitiu que a entidade colocou em funcionamento uma estrutura básica e sistemas para evitar fracassos catastróficos, como o que aconteceu no surto do ebola na África, mas um progresso considerável é necessário.  

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Segundo o levantamento, os obstáculos estão relacionados a administração, questões culturais, procedimentos, falta de funcionários e de dinheiro, e excesso de burocracia – este último considerado um dos principais problemas. Em certas ocasiões, avaliações de risco são realizadas por três níveis diferentes da OMS (na sede em Genebra, no escritório regional e nas bases nacionais), triplicando o mesmo trabalho e atrasando uma resposta às vítimas. 

Brasil. No total, nos dez primeiros meses de 2017, a OMS foi chamada a responder a 47 emergências de saúde, em mais de 40 países. Uma delas foi a de febre amarela no Brasil. Em resposta, a agência de Saúde da ONU indicou ter criado um sistema que permite um monitoramento contínuo de todos os eventos de saúde pública no mundo e determina quais deles devem ser acompanhados. 

“Por mês, recebe-se em média 7 mil sinais (de possíveis emergências). Desses, 300 são acompanhados e avaliados. Um total de 30 acabam sendo de fato investigados”, respondeu a OMS, num documento preparado para explicar o que tem feito.  Como recomendação, a auditoria sugere que a “produção e disseminação desse tipo de informe e avaliação devem ser racionalizados” com o objetivo de “reduzir o volume de trabalho para os funcionários”. 

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