Japão assusta pais ao pedir fechamento de escolas por medo do coronavírus

Com os casos em alta e o receio de cancelamento dos jogos olímpicos, primeiro-ministro japonês está querendo mostrar que está tomando medidas à altura do problema

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

TÓQUIO - Após semanas de críticas ao Japão por uma reação vacilante ao avanço do coronavírus, o primeiro-ministro Shinzo Abe tomou uma medida drástica nesta quinta-feira, 27, ao pedir que todas as escolas do país fechem as portas por um mês. 

Com os casos em alta e o receio de cancelamento dos jogos olímpicos, Abe está querendo mostrar que está tomando medidas agressivas para controlar o vírus. 

Pais foram às redes sociais expressar preocupação com o fechamento das escolas e os efeitos sobre famílias trabalhadoras Foto: REUTERS/Athit Perawongmetha

PUBLICIDADE

A decisão de fechar escolas, que faria o Japão se unir à China como únicos países a adotar tal medida em todo o território nacional, soou como uma mudança abrupta ante o comportamento cauteloso adotado pela administração até então. 

Ao contrário da vizinha Coreia do Sul e de outros países, o Japão não passou por uma alta significativa nas infecções registrados. Lá, há 210 casos, com quatro mortes. Houve ainda outros 700 casos, com quatro mortes, no cruzeiro Diamond Princess, que passou duas semanas em quarentena atracado em Yokohama. 

Mas a atenção global e as questões relativas aos jogos olímpicos cresceram com o avanço do vírus fora da China. As ações do primeiro ministro começaram a refletir essas preocupações na quarta-feira, quando ele requisitou o adiamento de grandes eventos culturais e esportivos nas próximas semanas, um dia depois de dizer que tal medida não era necessária. 

Ao anunciar o fechamento das escolas na quinta, Abe disse que estava priorizando a saúde e a segurança das crianças e tentando antecipar o risco de surtos generalizados que poderiam resultar dos longos contatos diários entre crianças e professores. 

Falando antes de uma reunião de uma força-tarefa contra o coronavírus, o primeiro ministro disse que as escolas de nível básico, intermediário e o ensino médio deveriam permanecer fechadas durante o início da primavera. O ano letivo japonês acaba em março e um novo ano se inicia geralmente no começo de abril. Ele não mencionou universidades ou creches. 

Publicidade

Apesar de escolas em Hokkaido, ilha do norte do país, e Osaka, terceira maior cidade japonesa, já terem sido fechadas, o anúncio de Abe surpreendeu pais e especialistas. 

“Parece extremo e repentino”, disse Chelsea Szendi Schieder, professora de Economia na Universidade Aoyama Gakuin, em Tóquio. “As implicações para a população e a rotina será tão grande que não tenho certeza que é válida em termos de saúde pública.” 

O dr. Kentaro Iwata, infectologista da Universidade Kobe que havia criticado a resposta do governo ao surto no cruzeiro Diamond PRincess, disse que o fechamento de escolas não é recomendado. “Não entendo isso”, disse. “Primeiramente, crianças não são facilmente infectadas pelo coronavírus, e ainda que se infectem, elas não ficam seriamente doentes.” 

Especialistas disse que o cálculo político pesou mais do que a ciência, especialmente com a aproximação dos jogos olímpicos em julho. “A Olimpíada lançou uma sombra sobre a resposta do governo esse tempo todo", disse Tobias Harris, especialista em política japonesa da Teneo Intelligence, em Washington.  

PUBLICIDADE

“No começo, a resposta foi um pouco tímida e reativa por medo de afastar turistas internacionais”, ele disse, “e agora estão percebendo tardiamente que, a menos que possam de alguma forma impedir ou conter isso, as chances de cancelamento parecem aumentar a cada dia."

Pais foram às redes sociais expressar preocupação com o fechamento das escolas e os efeitos sobre famílias trabalhadoras - um desafio que pais em Hong Kong vem tendo de lidar por semanas já que as aulas vêm acontecendo online, assim como na China continental. 

"Como alguém que cresceu em uma família monoparental, espero que o governo e as empresas tomem medidas de alívio ou compensem as famílias monoparentais, de duas rendas e outras famílias que possam enfrentar dificuldades devido ao emprego", escreveu um comentarista no Twitter . "Estou prestes a vomitar só de pensar nisso."

Publicidade

Enquanto fechar as escolas quando o número de casos no Japão ainda não é muito superior a 200 parece uma reação exagerada, especialistas observaram que a resposta um tanto contida do país ao vírus até agora significa que ele ainda não testou muitas pessoas. O número real de casos de coronavírus no Japão pode ser muito maior.

"Gerenciar uma crise e desenvolver políticas sólidas depende de conhecer a escala do problema", disse Jeff Kingston, diretor de estudos asiáticos da Temple University, em Tóquio. "Isso é mais parecido com a forma como os regimes autoritários lidam com os problemas, então Abe ainda está falhando neste teste de liderança".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.