Jovens driblam blitze com remédio tarjado

Farmácias visitadas pela reportagem, além de venderem sem receita, indicam o medicamento

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Por e Rodrigo Burgarelli
Atualização:

SÃO PAULO - Com um largo sorriso no rosto, a atendente de uma pequena farmácia no bairro do Sumaré, zona oeste, não titubeia ao dar a sua prescrição médica um tanto peculiar. “Toma uns cinco, seis comprimidos que melhora a ressaca, é o que falam”, diz ela, sem rodeios, se referindo a um remédio de tarja vermelha que só deveria ser vendido com receita. “Não sei se funciona mesmo, mas tem um pessoal aí que compra para passar pelo bafômetro. Tenta, né?”

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Para fugir da Lei Seca, jovens estão usando um remédio indicado para tratamento de alcoolismo e alterações hepáticas: o Metadoxil. Relatos na internet ajudam a propagar ainda mais o uso alternativo da droga. Lançada no País em agosto de 2008, seu princípio ativo é o pidolato de piridoxina, um derivado da vitamina B6.

A medicação, pelo menos segundo a bula, “acelera o metabolismo do álcool, aumentando a sua eliminação”. Médicos, no entanto, afirmam que o Metadoxil não tem efeito comprovado e muito menos pode enganar o bafômetro. Pior: ele pode causar transtorno gástrico, erupção cutânea e, em caso de superdosagem, até taquipneia (aumento da frequência respiratória) e convulsões.

Riscos. “É preocupante isso, porque o motorista não só dirige bêbado como causa um dano ainda maior no corpo”, afirma o capitão da PM Sérgio Marques. Para quem usa outros remédios, ainda há a possibilidade de ocorrer algum tipo de interação medicamentosa, causando até colapso renal. 

Muitas farmácias não só vendem sem prescrição como até indicam o remédio. De sete estabelecimentos visitados pela reportagem na zona oeste e no centro da cidade, quatro não pediram receita e dois chegaram a ensinar como mascarar os efeitos de uma noitada. 

Para o médico Ronaldo Leão Abud, diretor científico do laboratório que produz o medicamento, ele simplesmente não funciona. “O Metadoxil não engana o bafômetro. Só acelera o metabolismo do álcool. É uma droga tarjada que, usada corretamente, pode salvar vidas”, afirma.

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