Laboratório tenta frear alarde sobre droga para emagrecer

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Por Agencia Estado
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Depois de criar uma enorme expectativa sobre o rimonabant, uma promissora droga para o tratamento de obesidade e da chamada síndrome metabólica, que predispõe as pessoas a doenças cardiovasculares e diabete, o laboratório francês Sanofi-Aventis está empenhado agora em conter os exageros na imprensa sobre os múltiplos benefícios potenciais do remédio. O esforço do Sanofi-Aventis para desestimular notícias sobre os poderes mágicos da droga provocou uma curiosa inversão de papéis entre seus representantes e um grupo de jornalistas que a empresa convidou para assistir à última reunião anual do American College of Cardiology, na semana passada em Atlanta, nos EUA. Os repórteres foram confrontados com uma série de manchetes sensacionalistas projetadas numa tela. Anunciavam a chegada do rimonabant como uma droga milagrosa - não só para ajudar a emagrecer, como também a parar de fumar, aumentar o HDL (o colesterol bom) e evitar a síndrome metabólica. Uma manchete na capa da revista Forbes saudava a chegada como "pílula definitiva". Uma manchete do News Day descrevia o Acomplia (nome comercial do rimonabant) como a "droga do prazer", referindo-se ao fato de que as pesquisas se basearam em estudos sobre os receptores cerebrais que regulam a sensação de fome causada pela maconha. O remédio bloqueia uma proteína nas células cerebrais e suprime o apetite provocado pelo uso da erva. "Por que esse sensacionalismo?", perguntou aos jornalistas uma consultora do Sanofi-Aventis. Seu objetivo era, obviamente, distanciar o laboratório francês do fenômeno de marketing que ele certamente tinha ajudado a criar a partir do final de 2004, antes mesmo de submeter o pedido de aprovação do Acomplia ao FDA (agência de alimentos e remédios dos EUA). Em dezembro de 2004, o New York Times informou que a comunidade médica considerava exagerada e prematura a euforia em torno de um remédio ainda inacessível. Um editor do Journal of the American Medical Association ironizou: "Meu Deus, também faz crescer cabelo?". Em seguida, foram divulgados os resultados de quatro estudos com o rimonabant. Envolveram 6.500 obesos que apresentavam algum outro risco, como diabete, hipertensão e colesterol alto. Publicados nas mais respeitadas revistas científicas, os estudos validaram as pesquisas do laboratório sobre os efeitos na regulação do apetite. O futuro uso da droga foi tema de duas das centenas de sessões científicas assistidas pelos cerca de 20 mil médicos que compareceram ao congresso da semana passada. Vários deles disseram que vêem o rimonabant como mais uma droga, potencialmente eficaz. Mas lembraram que, como qualquer nova droga, os efeitos colaterais ainda não são conhecidos. Médicos do serviço de saúde pública dos EUA disseram que a onda em torno do rimonabant não os surpreende. "É normal que os laboratórios queiram gerar demanda e levar os pacientes a pedir o remédio aos médicos", disse um deles. A História Se Repete - Foi assim com as estatinas (Liptor, Zocor e Crestor, que reduzem o colesterol), com a lepitina (Xenical) e com as drogas "fen-phen" (combinação de fenfluramina e phentermina, para o tratamento de obesidade). O uso extensivo das estatinas, por exemplo, revelou efeitos colaterais que não haviam sido detectados nos estudos iniciais. As "fen-phen" foram retiradas do mercado pelo FDA em 1997, depois da morte de 30 usuários. A preocupação da empresa em reduzir o sensacionalismo em torno do Acomplia foi aparentemente reforçada por um tropeço no processo de aprovação pelo FDA. No final do mês passado, em vez de anunciar a esperada aprovação, a agência notificou a Sanofi-Aventis de que o rimonabant é "aprovável" para tratamento da obesidade, mas pediu informações adicionais. O FDA negou a aprovação da droga para tratamento do tabagismo. Como analistas da indústria farmacêutica no mercado de capitais já haviam embarcado na euforia e projetado um faturamento anual de mais de US$ 5 bilhões no terceiro ano de vendas da droga, a decisão da FDA foi mal recebida. Provocou uma queda das ações do laboratório. Esperada para o segundo trimestre, a aprovação deve atrasar mais alguns meses.

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