PUBLICIDADE

Lemborexant: contra a insônia, nova droga é 'mais eficaz', diz pesquisa de Oxford

Medicamento, que deve chegar ao Brasil até o fim de 2023, bloqueia substância que mantém o estado de vigília; especialistas destacam que medidas não farmacológicas devem ser sempre priorizadas no tratamento

Por Roberta Jansen
Atualização:

RIO - Um novo medicamento contra a insônia, o lemborexant, avaliado em um amplo estudo no Reino Unido, se revelou mais eficaz que os atualmente disponíveis no mercado para tratar o problema em adultos. Feito por especialistas da Universidade de Oxford e publicado na Lancet, o trabalho explorou os diferentes tratamentos farmacológicos contra a falta de sono. A droga ainda não está disponível no Brasil. Mas a previsão do fabricante é que chegue ao mercado brasileiro até o ano que vem.

Trata-se do maior estudo já realizado sobre o tema. Envolveu 44 mil pessoas em 154 testes de duplo-cego sobre a eficácia e os efeitos colaterais de 36 medicamentos usados comumente no combate à insônia. A meta-análise, coordenada pelo psiquiatra Andrea Cipriani, de Oxford, avaliou diferentes aspectos. Abordou a qualidade do sono dos participantes, os efeitos dos diferentes tratamentos, a presença de eventos adversos e as consequências da interrupção da terapia.

No Brasil, de acordo com os números da Associação Brasileira do Sono, são pelo menos 73 milhões de pessoas com dificuldade crônica para dormir. Foto: Annie Spratt/Unsplash

PUBLICIDADE

“O remédio é bem diferente dos que dispomos hoje no mercado e passa a ser uma nova opção animadora, com evidências mais promissoras”, afirmou a neurologista Márcia Assis, vice-presidente da Associação Brasileira do Sono (ABS). “O estudo mostrou que ele é seguro tanto para induzir o sono quanto para manter o sono e que não provoca sonolência durante o dia, como outros remédios, tem baixo risco de dependência e é bem tolerado de forma geral, com poucos eventos adversos.”

73 milhões de brasileiros sofrem com o problema

A insônia é caracterizada pela dificuldade para adormecer e/ou manter o sono. O problema pode levar a sonolência durante o dia, problemas de memória, dificuldade de concentração e irritabilidade. No longo prazo, a insônia aumenta o risco para doenças cardiovasculares e metabólicas, como diabete e obesidade. No Brasil, de acordo com os números da Associação Brasileira do Sono (ABS), são pelo menos 73 milhões de pessoas com dificuldade crônica para dormir.

Embora não sejam recomendados por especialistas em sono, os medicamentos mais usados contra a insônia são os benzodiazepínicos. São remédios como Rivotril, Frontal, Lexotan, Dormonid, entre outros. Também indicados no tratamento da ansiedade, induzem uma redução da atividade do sistema nervoso central, provocando um efeito hipnótico.

Embora sejam eficientes, os benzodiazepínicos causam dependência. Se usados por prazo mais prolongado, favorecem o déficit cognitivo. Por isso, o uso contínuo é recomendado por no máximo quatro semanas. Devem ser usados sob acompanhamento médico. Além disso, apresentam riscos quando misturados com álcool ou ingeridos em excesso.

Publicidade

As chamadas drogas Z, como Zolpidem e Zolpiclona, também induzem uma redução na atividade do sistema nervoso central. Mas isso se dá de forma mais seletiva e, portanto, com menos efeitos colaterais. Os medicamentos dessa classe costumam ser mais indicados por especialistas em sono. Como mostrou o Estadão, relatos que envolvem alucinações e outros efeitos indesejados do Zolpidem se multiplicam nas redes sociais e psiquiatras alertam contra o uso recreativo de remédios ou fora das recomendações da bula.

Antagonistas

Aprovado nos EUA desde 2019 com o nome comercial de Dayvigo, o lemborexant pertence a uma classe de medicamentos distinta. São os chamados antagonistas da hipocretina. Este é um neurotransmissor cujo papel principal é manter o estado de vigília. Ao bloquear esse neurotransmissor, a droga acaba induzindo o sono.

PUBLICIDADE

 “Esperamos que a nossa análise seja de grande ajuda para médicos buscando o melhor tratamento para seus pacientes”, afirmou Andrea Cipriani, principal autor do estudo britânico. “Procuramos por toda informação publicada e não publicada para traçar a mais transparente e abrangente análise. Claramente, a necessidade de tratar a insônia da maneira mais eficiente possível é muito importante, uma vez que o problema tem um grande impacto na saúde do paciente, na sua vida cotidiana e no sistema de saúde.”

Os especialistas frisam que medidas não farmacológicas (que não se baseiam em medicamentos) devem ser sempre priorizadas no tratamento da insônia. São iniciativas como técnicas de higiene do sono, relaxamento e terapia cognitivo-comportamental.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.