Litoral norte de SP rejeita plano estadual e mantém comércio ampliado em alta temporada

Governo regrediu o Estado para a fase amarela em razão da alta nos casos de covid-19. 'Não vamos seguir a orientação, pois o município está em segurança total', disse o prefeito de São Sebastião

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Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA – Com praias e hotéis lotados com a chegada da alta temporada, as prefeituras do litoral norte de São Paulo estão rejeitando as novas regras do comércio editadas pelo Plano São Paulo, do governo estadual. Na tentativa de frear um aumento no número de casos de covid-19, o plano estadual colocou todo o Estado na faixa amarela e limitou as atividades comerciais a dez horas diárias, com 40% da capacidade e fechamento obrigatório às 22 horas. As quatro cidades da região mais procurada do Estado pelos turistas no verão não acataram as medidas do decreto em vigor desde a última terça-feira, 1. 

A prefeitura de São Sebastião decidiu manter o comércio aberto 12 horas por dia, com 60% da capacidade, funcionando até 23 horas. Casas noturnas e de baladas não podem abrir, mas bares e restaurantes só fecham à meia-noite. “Não vamos seguir a orientação do Estado, salvo decisão judicial em contrário, pois nesse momento o município está em segurança total em relação à pandemia. Não faremos barreiras nem fechamento de praias”, disse o prefeito Felipe Augusto (PSDB).

Em meio ao novo agravamento da pandemia dacovid-19 em diferentes Estados brasileiros, o ritmo de perdas do turismo deve voltar a se agravar. Foto: Tiago Queiroz/Estadão/17-9-2020

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Segundo ele, a cidade tem menos de 20% dos leitos de UTI ocupados e está fazendo testes em massa para detectar o novo coronavírus. “Temos 25% da população já testada e em cada caso detectado, a pessoa é colocada em isolamento e tomamos medidas para evitar a transmissão.” Com 88.890 habitantes, São Sebastião está fora da lista de municípios em estado de atenção para a covid-19. A cidade registrava nesta quinta-feira, 3, 2.554 casos confirmados, 51 óbitos, seis pessoas internadas e 133 em quarentena domiciliar.

Conforme o prefeito, o município conta com equipes sentinelas formadas por médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde que monitoram as pessoas com diagnóstico positivo. Já os grandes eventos públicos de verão, inclusive o Réveillon com queima de fogos, foram suspensos. Na segunda-feira, 30, a prefeitura autorizou a retomada das atividades esportivas para alunos da rede municipal.

Em Caraguatatuba, a prefeitura manteve o comércio funcionando por 12 horas diárias, com até 60% da capacidade, e limite de funcionamento até 23 horas, sem aderir ao plano estadual. Não há restrições para as praias nem previsão de barreiras sanitárias. Hotéis e pousadas podem funcionar com 100% de ocupação. A única proibição é para ônibus com turistas de um dia, exceto aqueles que levam turistas com reserva na rede hoteleira.

A cidade está em atenção para a covid-19. A prefeitura informou que instalará faixas e distribuirá folders sobre a doença em locais de maior circulação de pessoas. A ocupação dos 119 leitos de UTI chegou a 48% e o município pediu a abertura de mais leitos no Hospital Regional. Nesta quinta, Caraguatatuba somava 3.359 casos positivos – 511 eram moradores de fora – e 119 mortes pela covid-19. A cidade de 121.532 habitantes tem 119 leitos, mas 48% dos leitos de UTI estão ocupados. O município pediu mais leitos ao governo estadual.

Em Ubatuba, de 91.824 moradores e também em estado de atenção, o comércio funciona 12 horas por dia, com 60% da capacidade. Bares e restaurantes fecham à meia-noite. O secretário de Turismo Potiguara do Lago lamentou a decisão do governo de restringir as atividades em plena alta temporada. “A prefeitura recebeu o decreto estadual e agendou uma reunião para esta sexta-feira, 4, quando discutiremos o que será feito. Vamos ter representantes do comércio e do turismo nesse encontro”, adiantou.

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Nesta quinta-feira, mesmo com o céu nublado, as praias recebiam bastante público. Os banhistas levavam cadeiras e guarda-sóis, e muitos não usavam máscara. Os quiosques estavam funcionando. O secretário disse que a fiscalização sobre o uso da máscara será reforçada. “O governo não consegue resolver tudo e a gente conta com o bom senso das pessoas.”

Dono de um quiosque, o comerciante Edson Costa disse que qualquer restrição agora será ruim. “Estava tudo parado e no prejuízo por conta da pandemia. Com a volta do movimento a gente esperava uma recuperação.” Ubatuba tem 2.192 casos e 45 mortes pela doença.

Em Ilhabela, o funcionamento do comércio já estava limitado às 22 horas, mas com capacidade de 60%, que será mantida, segundo a prefeitura. Não há mais restrição de acesso dos turistas à ilha pelo sistema de balsas e os hotéis podem operar com até 100% da ocupação. 

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Pesquisa divulgada nesta quinta-feira pela Associação Comercial e Empresarial de Ilhabela mostrou que a ocupação da rede hoteleira para o período de 4 a 6 deste mês já era de 90%. Neste fim de semana, estão previstas quatro festas de casamento na ilha, com total de 200 convidados. A menor cidade do litoral norte, com 34.970 habitantes, soma 2.328 casos positivos e 14 óbitos pelo novo coronavírus.

O secretário de Desenvolvimento Regional do governo paulista, Marco Vinholi, disse que a adoção de restrições nas praias do litoral norte são de responsabilidade de cada município da região. Já as regras de saúde previstas no Plano São Paulo são iguais para todos e apoiadas em dados técnicos. “Esperamos que os gestores possam ter a responsabilidade de atuar no sentido de reforçar o entendimento de que se trata da preservação da saúde pública”, afirmou.

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