01 de abril de 2020 | 05h00
BRASÍLIA - Em plena quarentena, vizinhos atenderam ao pedido de uma mãe e se uniram para ir às janelas do bairro da Asa Norte, em Brasília, cantar parabéns pelos três anos de idade do pequeno Lucas, que teve a festinha de aniversário cancelada por conta do isolamento social recomendado no enfrentamento do novo coronavírus. Com palmas e vivas, a festa a distância significou conforto para o aniversariante e os "convidados".
Seria só um bilhete restrito a vizinhos e amigos próximos, mas o apelo dos pais de Lucas ganhou as redes sociais. "Isolados, cancelamos a festinha dele, que seria de dinossauros, e cantaremos parabéns em casa. Você pode fazer o Lucas feliz se, às 19 horas do dia 31 de março, for até a janela do seu apartamento e cantar parabéns conosco", dizia a mensagem. Em apenas uma das publicações foram mais de mil compartilhamentos.
E a vizinhança foi. Moradores do entorno compareceram nas janelas e em frente ao prédio para desejar coisas boas ao menino e à família, mais uma entre tantas que precisam adotar cuidados extras para proteger os seus pequenos e criar formas de distraí-los em casa.
"Não conheço o Lucas. Vi na internet a mensagem da mãe e achei que seria vir legal dar os parabéns para ele. A loja de açaí do bairro mandou um regalo. Um carro da polícia e outro dos bombeiros também apareceram para ajudar com barulho e luzes. Desconhecidos deixaram presentes. "Eu vi que ele gosta de dinossauro, mandei alguns. E passei álcool em gel na embalagem", disse Sandra Tiburtino após deixar a lembrança na portaria.
Na hora combinada, uma sonora cantoria surgiu dos prédios. Se uma boa estratégia para suportar as restrições impostas pela pandemia é enxergar aspectos positivos da nova rotina social, a comemoração agradou ao menino e também serviu de pretexto para que muitos adultos tivessem algo a comemorar em mais uma noite de quarentena.
"Vi o convite na internet e aproveitei para fazer uma caminhada até aqui com a Pietra", contou o empresário Vinícius Correa, que também não conhece o menino. A filha do empresário fará cinco anos em julho. Ambos esperam que até lá possam reunir a família em casa.
Com três anos de idade recém-completados, Lucas ainda não entende muito bem a gravidade do que está ocorrendo no mundo. Sabe que um "bichinho invisível" o obriga a permanecer em casa e a manter sempre as mãos bem limpas.
A tecnologia foi fundamental para reduzir as distâncias. Familiares que viriam de outras cidades não vieram e usaram a internet para brindá-lo. Os amigos da escolinha também enviaram vídeos.
"Adoro festa, adoro aniversário. Mas sou contra aglomeração, todo mundo tem que se preservar. Essa foi a forma de ter um pouco de alegria para o Lucas", disse a mãe, Andrea Cariello. "Ele gostou muito. Adorou a presença dos bombeiros e das pessoas".
Com os vários registros em texto, fotos e vídeos, um dia Lucas saberá também que seu aniversário funcionou como um breve respiro durante uma pandemia que já matou mais de 20 mil pessoas e levou ao colapso sistemas de saúde do mundo.
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