'Maioria dos novos médicos terá dificuldade em diagnósticos básicos'

Presidente do Cremesp defende a obrigatoriedade da aprovação no exame para o exercício da profissão

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Por Fabio de Castro
Atualização:
Maioria dos médicos recém formados terão terão dificuldades para diagnosticar e tratar as condições clínicas mais comuns na população paulista, de acordo com Mauro Aranha, presidente do Cremesp Foto: Divulgação

De acordo com dados divulgados nesta quarta-feira, 9, pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), mais da metade dos médicos recém-formados no Estado de São Paulo em 2016 foram reprovados no exame da instituição. A aprovação, no entanto, não é exigida para o exercício da profissão.

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Em entrevista ao Estado, o presidente do Cremesp, Mauro Aranha, afirma que os médicos reprovados terão dificuldades para fazer diagnósticos e tratamentos para as doenças mais comuns. Ele afirma que o Cremesp luta pela obrigatoriedade da aprovação no exame e explica como a instituição pretende fazer isso sem agravar o problema de escassez de médicos no País.

De acordo com o Cremesp, de 2.677 formados em cursos de Medicina que prestaram o exame no ano passado, 1.511 (56,4%) foram reprovados, por acertar menos de 60% das 120 questões da prova. O problema tem se perpetuado na última década. Leia, a seguir, trechos da entrevista.

O que representa esse alto índice de reprovação nos exames do Cremesp?

Esse resultado significa que mais da metade dos médicos egressos das faculdades de Medicina no Estado de São Paulo terão dificuldades para diagnosticar e tratar as condições clínicas mais comuns na população paulista. O exame do Cremesp tem complexidade de média a baixa e contempla os diagnósticos e terapêuticas atuais sobre as doenças mais encontradas na população. 

A população terá que lidar com médicos despreparados?

Alguns desses médicos, se conseguirem entrar em instituições de referência médica, vão suprir parte dessas deficiências, corrigindo-as na residência com um melhor treinamento. A princípio, todos eles podem ter acesso a um programa do Cremesp, feito em parceria com o Hospital Albert Einstein, que oferece educação médica gratuita nos temas em que eles tiveram dificuldades no exame. Mas tudo isso são medidas paliativas.

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O que seria o ideal?

O ideal é que as escolas médicas estejam preparadas para formar bem os profissionais de saúdee médicos - especialmente naquelas condições clínicas e de patologias que são epidemiologicamente mais relevantes. Se isso acontecesse, de 70 a 80 % dos casos seriam resolvidos apenas com uma boa história clínica, um bom exame físico e um conhecimento básico sobre terapêutica. É isso o que esperamos das escolas.

Pode-se dizer que os resultados das escolas privadas puxaram o desempenho geral para baixo?

Não. Se observarmos as 16 melhores colocadas - aquelas em que o total dos alunos tiveram mais de 60% dos acertos -, 10 são públicas e 6 são privadas. As escolas públicas ainda são, na média, melhores que as privadas. Mas ambas tiveram queda de rendimento.

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Existe algum interesse, ou alguma iniciativa voltada para tornar o exame do Cremesp obrigatório para o exercício da profissão, como ocorre com o exame dos advogados?

Há bastante tempo se fala em tornar o exame obrigatório para o exercício. Temos nos empenhado em reincidir nessas tentativas. Nosso último contato foi com o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), para quem enviamos um anteprojeto de lei. Tivemos uma reunião institucional com o senador, que nos deu boas esperanças. Temos também o apoio formalizado da OAB-SP para que o exame seja obrigatório. Defendemos isso. E também que os egressos não aprovados só recebam o registro após sanarem essas deficiências. 

Se a aprovação no exame se tornasse obrigatória imediatamente, mais de 50% dos novos médicos ficariam sem condições de atuar. Isso não agravaria a escassez de médicos no País?

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Além do exame de egressos, que tem sido feito, defendemos exames seriados. Os alunos seriam avaliados por um exame após os dois primeiros anos do curso e teriam um outro exame para avaliar o terceiro e quarto anos. Dessa forma, as escolas teriam maior oportunidade para corrigir as necessidades dos alunos. Mas isso leva um tempo. Tanto que vamos oferecer para escolas esses exames seriados já neste ano. Se isso efetivar uma melhora dos cursos, poderemos estabelecer regras de transição para que a população não fique privada de médicos e, ao mesmo tempo, para que haja um compromisso desses médicos em se requalificarem conforme as suas necessidades.

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