Mandetta reafirma defesa por isolamento, mas diz que é possível compatibilizar plano com economia

Ministro da Saúde também afirmou que não é momento para "apontar o dedo" para os governadores e prefeitos

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Foto do author Julia Lindner
Foto do author Marlla Sabino
Por Julia Lindner e Marlla Sabino
Atualização:

Diante da pressão para que as medidas de isolamento não interfiram na economia, o  ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que é possível criar um plano mínimo que compatibilize as duas áreas sem deixar de lado o distanciamento social. Em meio a conflitos entre o governo federal e os Estados, Mandetta também afirmou que não é momento para "apontar o dedo" para os governadores e prefeitos. 

"A Saúde não é uma ilha. E a Economia é, sim, muito importante para a saúde", disse Mandetta. O ministro concedeu entrevista coletiva na tarde deste sábado, 28, para apresentar o balanço de casos de covid-19 no País.

Presidente Jair Bolsonarono Palácio do Planalto Foto: Sergio Lima/AFP

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Mandetta falou que não há parâmetro no Brasil para a realização da quarentena porque a última vez que isso ocorreu foi durante a gripe espanhola, em 1917, e que será preciso tomar medidas alinhadas em todo o País. Ao defender as novas orientações feitas pela sua pasta aos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS), Mandetta disse que o fechamento de escolas é necessário, por exemplo, para evitar que crianças assintomáticas contaminem idosos. O documento encaminhado aos Estados e Municípios endurece as medidas de isolamento em abril, maio e junho.

"Estamos discutindo com secretários estaduais e municipais para a gente construir um consenso. E vamos medir todo dia, onde vermos que podemos perder a guerra, vamos lá e apertamos (as medidas), onde vemos que apertamos demais, a gente solta. Vamos acertar, errar, ter dias bons e ruins, porque estamos ainda vendo qual vai ser o tamanho do dano", afirmou.

Nos últimos dias, o presidente Jair Bolsonaro criticou medidas mais rígidas adotadas por alguns Estados e Municípios, que em alguns casos se anteciparam às recomendações do Ministério da Saúde. O principal alvo tem sido o governador de São Paulo, João Doria, a quem Bolsonaro acusa até de manipular os dados sobre pessoas contaminadas pela doença para fazer uso político.

"Não é uma questão de apontar dedo para o governador A, B ou C, para o prefeito A, B ou C. Estão todos com uma arma na mão dizendo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) mandou eu fazer isso, e não pensam que essa medida precisa ser muito bem elaborada", disse Mandetta neste sábado.

Ao final da conversa com jornalistas, Mandetta também fez acenos ao presidente Jair Bolsonaro. "O presidente está certíssimo quando fala que crise econômica vai matar as pessoas, que a fome vai matar pessoas. Está certíssimo e somos 100% engajados para achar solução com a equipe da economia", afirmou.

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Mandetta disse que o governo vai buscar critérios para garantir o funcionamento das atividades essenciais, destacando o setor dos transportes. Segundo ele, quando o governo fala em 'colapso' não se refere apenas ao sistema de saúde, mas também na questão da logística, que tem sido discutida internamente.

"Tem que garantir alimento nas comunidades, a pessoa não consegue ficar na casa dela, a geladeira fica vazia, o estômago fica vazio. E, mesmo para quem tem condições, se a gente não tiver uma logística como a pessoa vai encontrar o alimento no supermercado? Vamos colocar critérios, mas não vai ser plano do Mandetta, vai ser um plano único." 

LOCKDOWN

O ministro da Saúde afirmou, neste sábado, que paralisação deve ser analisada em cada cidade e Estado, inclusive com a possibilidade de lockdown como forma de conter o avanço do novo coronavírus. "O lockdown (bloqueio total) pode vir a ser necessário em algum momento, em alguma cidade", afirmou o ministro em entrevista coletiva. A única medida que ele descartou foi o fechamento total de todo o território brasileiro. 

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O ministro evitou defender diretamente o isolamento horizontal, que conta com o apoio das entidades da área da saúde, ou vertical, defendido pelo presidente Jair Bolsonaro. "Não existe quarentena vertical, não existe quarentena horizontal, não existe nada. Existe necessidade de arbitrar em um determinado tempo qual grau de retenção que uma sociedade precisa fazer", afirmou.

O ministro afirmou que a partir da semana que vem o sistema de saúde contará com testes rápidos para profissionais da área de saúde e segurança e com o uso da telemedicina, para que o atendimento seja feito na casa do paciente.

Após rebater algumas declarações de Bolsonaro, Mandetta afirmou que ficará a frente da pasta, que coordena as medidas para combate do novo coronavírus no País até que o presidente permita ou que sua presença se faça necessária.

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