Média diária de mortes por covid-19 supera patamar de vítimas de enfarte

Coronavírus somou 1.262 vítimas nas últimas 24 horas. 'Projeção é devastadora', diz o infectologista José David Urbaéz

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Por Gonçalo Junior
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A covid-19 já mata diariamente mais do que enfartes no Brasil. Essa é uma das conclusões da comparação entre o número diário de mortes por coronavírus e a média das principais causas de óbitos no País de acordo com o Ministério da Saúde. Os dados mais atualizados do órgão são de 2018.

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De acordo com o órgão, enfarte é a causa de morte de 255 pessoas por dia no Brasil. Na média desde o primeiro óbito por covid-19 no País, são 394 mortes pelo novo coronavírus diariamente. Nos últimos dias, porém, a covid-19 tem apresentado números semelhantes ou até superiores ao de mortes diárias por câncer (624) e doenças cardiovasculares em geral (980).

No dia 1º de junho, o Brasil confirmou 623 mortes em 24 horas. Nesta terça-feira, foram 1.262 mortes, um recorde. Por quatro dias seguidos, de 26 a 29 de maio, foram registradas mais de mil mortes pelo novo coronavírus em 24 horas.

“Se a gente seguir nesse ritmo de mortes, a covid vai ultrapassar a taxa de mortes de outras doenças em breve. Foram 30 mil mortes em dois meses e meio. Imagine essa projeção para os outros meses. É devastadora”, opina o infectologista José David Urbaéz, da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Túmulos recém-escavados são retratados no cemitério São Francisco Xavier, no Rio de Janeiro. Foto: REUTERS/Ricardo Moraes

De acordo com o Ministério da Saúde, o número de mortes registradas nas últimas 24 horas não indica quantas pessoas faleceram entre um dia e outro, mas sim o número de mortes que tiveram como causa confirmada o coronavírus nesse intervalo. Ou seja, esse número pode conter óbitos que ocorreram anteriormente, mas que só recentemente foram diagnosticados como decorrentes do novo coronavírus e registrados nas estatísticas oficiais.

Luciana Costa, diretora-adjunta do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estabelece a comparação com outras infecções virais. “Esse é um número muito significativo, um aumento em mais de 100% no número de mortes por doença respiratória aguda. Ele demonstra a letalidade preocupante deste vírus e a importância de fortalecermos os sistemas de saúde para poderem enfrentar de forma adequada essas infecções”, afirma.

A última pandemia mundial, da gripe A (H1N1), matou cerca de 18 mil entre 2009 e 2010, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). O número, porém, deve ser maior. Estimativas do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), dos EUA, apontam entre 151 mil e 575 mil mortes. No mundo, a covid-19 já matou 376 mil pessoas. 

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Embora reconheça que a covid-19 esteja matando tanto quanto outras doenças, o epidemiologista Paulo Lotufo descarta a comparação. “Não dá para comparar covid e outras doenças. As doenças cardíacas e câncer acontecem de forma regular ao longo dos anos. A covid é uma nova forma de se morrer, além daquela que nós já conhecemos. Apesar da comparação não ter validade, o número diário de mortes por covid já é maior que doenças cardíacas e câncer", diz Lotufo. 

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