Medicamentos para intubação podem faltar em 1.316 municípios do Brasil, aponta pesquisa

De 2,6 mil prefeituras que responderam ao levantamento da Confederação Nacional de Municípios, 50,4% indicaram risco iminente de o hospital local não ter insumos para intubar pacientes

PUBLICIDADE

Por Julia Marques
Atualização:

Os medicamentos para intubação de pacientes com a covid-19 podem faltar em 1.316 municípios do Brasil nos próximos dias. O levantamento foi realizado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), após contato com 2,6 mil prefeituras entre os dias 23 e 25 de março. Metade dos municípios que responderam à pesquisa indicou que há risco iminente de o hospital local ficar sem medicamentos do kit intubação nesta semana. 

Segundo a CNM, os dados demonstram que "há grande preocupação dos gestores para atender aos pacientes internados com covid-19 nos hospitais". Medicamentos como analgésicos e bloqueadores neuromusculares estão em falta em todo o País, o que compromete o atendimento de pacientes já internados com a covid-19. 

Estoques de kit intubação estão no limite nos hospitais. Foto: Andre Penner/AP

PUBLICIDADE

O Fórum Nacional de Governadores já havia alertado para o risco de “um colapso dentro do colapso” pela falta desses medicamentos. De acordo com documento do fórum, 18 Estados relatam a escassez, por exemplo, de bloqueadores neuromusculares, usados para a intubação de pacientes nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).

A falta de medicamentos já afeta o atendimento de pacientes. A Santa Casa de São Carlos, por exemplo, chegou a parar de receber pacientes para UTI nesta quinta-feira, 25, por estar com estoque de medicamentos perto do fim. O hospital está com os seus 30 leitos da UTI para pacientes com covid-19 ocupados e não recebeu as três reposições de medicamentos previstas para esta semana. 

Na sexta-feira passada, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou medidas para evitar o desabastecimento de medicamentos. Uma delas simplifica os processos de importação de dispositivos médicos e de medicamentos prioritários para o uso em serviços de saúde, mesmo que não regularizados no País, em caráter excepcional e temporário por órgãos e entidades públicas e privadas. 

O problema da falta de medicamentos também afeta hospitais particulares. No Estado de São Paulo, unidades privadas já se mobilizam para fazer a compra coletiva de medicamentos que compõem o kit intubação.Os medicamentos devem ser importados por meio de um consórcio formado pelos hospitais particulares do Estado.

Nesta quinta-feira, a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) alertou para o risco de que a falta de remédios impeça o atendimento de pacientes. Segundo a Anahp, os medicamentos para intubação podem faltar em um prazo de três a quatro dias. Levantamento do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp) aponta que 52% dos hospitais particulares do Estado dizem ter medicamentos para até uma semana. A pesquisa ouviu 80 unidades particulares em São Paulo - 12% delas afirmam que os estoques duram menos de uma semana e 40% dizem ter estoque para uma semana. 

Publicidade

Oxigênio e lockdown 

A pesquisa da CNM investigou ainda a falta de oxigênio nos municípios, outro problema diante do aumento da demanda, relatado principalmente por unidades de saúde de menor porte. A maioria dos municípios (69,1%) afirmou não haver risco de faltar de oxigênio no hospital ou centro voltado para a covid nesta semana. Já 709 cidades informaram que esse risco existe. Oito em cada dez municípios ouvidos pelo levantamento afirmaram que não receberam oxigênio enviado pelo Estado. 

Apesar das dificuldades de atendimento dos pacientes, a minoria dos municípios (37,6%) pesquisados estão realizando lockdown (caracterizado como fechamento total das atividades não essenciais), enquanto 61,1% afirmaram que ainda não tomaram esta atitude. Sem fechar o comércio, as prefeituras estão restringindo a circulação de pessoas à noite. Oito em cada dez prefeituras estão com essa medida em vigor nesta semana e maioria (84%) paralisou as aulas presenciais. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.