Atualizada às 21h42
Os médicos residentes do Hospital São Paulo entram em greve na manhã desta terça-feira, 23. por melhores condições de trabalho. A sobrecarga e a escassez de materiais básicos, como remédios, estão entre as principais queixas. Os residentes representam 38% dos quase 3,1 mil médicos do hospital, que vive grave crise financeira. Os principais serviços afetados, segundo a categoria, serão os ambulatórios e as internações eletivas.
Os residentes prometem manter 30% da equipe nos atendimentos de urgência e emergência da unidade, na Vila Clementino, zona sul. Procurada, a superintendência do hospital, administrado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), não informou se pretende suspender serviços. O Hospital São Paulo é um dos três principais centros médicos de alta complexidade da capital, ao lado do Hospital das Clínicas e da Santa Casa de Misericórdia. A unidade cobre uma área de aproximadamente 5 milhões de habitantes.
Os grevistas decidiram pela paralisação em assembleia ontem que reuniu quase 400 pessoas. “Nossas condições de trabalho estão insalubres e nosso aprendizado, prejudicado”, reclama Klaus Ficher, de 26 anos, que preside a associação dos residentes da Unifesp. “Ou o governo readequa o orçamento ou teremos de readequar as atividades”, afirma. De acordo com Ficher, a adesão será grande, com residentes de todas as especialidades. Os grevistas não pleiteiam aumento do valor da bolsa.
Na semana passada, o conselho gestor do hospital havia decidido suspender as internações eletivas por falta de recursos. Após a Secretaria Estadual de Saúde e o Ministério da Educação (MEC) prometerem R$ 7 milhões, somados, o serviço foi retomado. O governo federal ainda deve repassar mais R$ 2 milhões.
Para os grevistas, o repasse de R$ 7 milhões não é suficiente. “Isso sustenta o hospital só por mais um mês”, diz Ficher. “São medidas paliativas, que não resolvem o problema de subfinanciamento”, acrescenta ele, que defende mais verbas fixas para o hospital. O residente, que entrou na Unifesp em 2008, avalia que o centro médico da universidade vive a pior fase que já testemunhou.
A superintendência também não se posicionou sobre as reivindicações de grevistas. Disse, porém, que tem 48 horas, contadas a partir da tarde de ontem, quando foi avisada oficialmente sobre o movimento, para definir uma negociação.
Braços cruzados. Desde o fim de maio, o Hospital São Paulo já trabalha com equipe reduzida. Os servidores das universidades federais entraram em greve por um reajuste de 27,3% e abertura de novos concursos públicos, entre outras queixas.
Além das pautas conjuntas, problemas pontuais também motivaram a paralisação. “Estamos sobrecarregados e com superlotação das unidades de emergência”, criticou Socorro Lima, enfermeira e uma das líderes do comando de greve.
Segundo o centro médico, a área mais afetada é a de enfermagem. O Sindicato dos Trabalhadores da Unifesp estima adesão de 50% dos servidores federais do hospital, contratados pelo MEC. Para os trabalhadores terceirizados, contratados diretamente pelo hospital, a entidade pede reajuste salarial e a criação de um plano de carreira.
O ministério disse que recebeu os servidores federais por três vezes no último mês e apresentou respostas a todas as reivindicações. Sustentou ainda que a categoria teve reajuste de 25%, entre 2013 e 2015.Segundo a pasta, o diálogo com os grevistas vai continuar nos próximos dias. A superintendência do hospital também não comentou as pautas desse grupo.
Na semana passada, o superintendente do hospital, José Roberto Ferraro, relatou ao Estado que o hospital opera com cerca de 120 trabalhadores a menos do que precisa. Segundo ele, o déficit mensal é de cerca de R$ 2,5 milhões desde 2012.