Documentário traz perspectiva inédita sobre epidemia de ebola

Lançado pelos Médicos Sem Fronteiras, filme acompanha drama da mobilização contra o surto; estreia acontece em SP no sábado

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Por Fabio de Castro
Atualização:

MONRÓVIA - A organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) lança no Brasil o documentário Affliction – O ebola na África Ocidental, do diretor belga Peter Casaer. O filme acompanha o drama da mobilização contra a epidemia de ebola na África a partir do ponto de vista de populações atingidas, líderes comunitários, profissionais humanitários, pacientes e sobreviventes. 

A estreia do filme (veja o trailer abaixo) está marcada para o próximo sábado, 19, em São Paulo, no centro cultural independente Matilha Cultural, na região central da cidade.

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Casaer trabalhou por duas décadas em operações de ajuda humanitária. Durante as filmagens, ele teve acesso irrestrito às equipes da MSF que participaram do combate à doença nos três países mais atingidos – Guiné, Libéria e Serra Leoa. Por isso, o documentário apresenta cenas que normalmente estão fora do alcance das câmeras. 

O documentário começa na aldeia de Meliandou, no sul da Guiné. Ali, em dezembro de 2013, Émile Ouamouno, de 2 anos, caiu doente, com febre e vômitos. O menino morreu em apenas dois dias. Logo depois, sua irmã Philomène e sua mãe, Sia Dembadouno - grávida de seis meses - tiveram o mesmo fim. Depois disso, os casos de ebola se espalharam pela aldeia e cruzaram a fronteira da Libéria e de Serra Leoa. 

De acordo com Casaer, ao longo de 2014 a imprensa internacional focava o perigo da chegada do ebola na Europa, Estados Unidos e outras partes do mundo. Com isso, a maior parte das companhias aéreas extinguiram os voos para o oeste da África, que "se tornou um enclave isolado onde as pessoas eram deixadas para morrer, abandonadas pelo mundo". Os profissionais de saúde que voltaram da região afetada, segundo Casaer, eram vistos como "possíveis transmissores do vírus". Alguns foram forçados a permanecer de quarentena nas fronteiras de seus países, outros foram rejeitados pelas próprias famílias.

"Conheci e entrevistei vários deles no segundo semestre de 2014. Todos haviam corrido riscos ao ajudar vítimas de ebola na Libéria, na Guiné ou em Serra Leoa. Mas eles não queriam falar disso. Suas histórias eram cheias de um misto de sentimentos fortes, mas contraditórios", disse Casaer.

Os profissionais de saúde que voltaram da região afetada na Guiné, em Serra Leoa e na Libéria eram vistos como 'possíveis transmissores do vírus' Foto: Tommy Trenchard/Reuters

Encontros. Segundo Casaer, os entrevistados mostravam revolta pela falta de uma resposta internacional adequada. Mostravam frustração porque não havia tratamentos disponíveis. Mostravam também tristeza, por causa dos inúmeros pacientes e profissionais de saúde que viram morrer diante de seus olhos. E esperança, já que vários tratamentos experimentais iriam ser testados.

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"Ficou claro para mim que era preciso ir pessoalmente à África ocidental para ver, sentir e documentar o que eu havia ouvido. Por dois meses, nós viajamos pela região. Tivemos acesso ilimitado aos profissionais e aos centros de tratamento da MSF. Conhecemos pacientes que se tornaram amigos e nos convidaram para voltar às suas casas quando foram curados - outros morreram durante nossa estadia", disse Casaer. 

O filme, segundo ele, é o resultado desses encontros. "Affliction é uma estória de estigma e frustração, de raiva e revolta, de coragem e medo, mas também de uma imensa esperança e alegria", afirmou o diretor.

A MSF, que antes da última epidemia já tinha experiência no tratamento de pacientes com ebola em outros países - como a República Democrática do Congo e Uganda - desempenhou um papel fundamental na luta contra o vírus no oeste africano. A doença foi oficialmente identificada na região em março de 2014.

Nos sete meses seguintes, a organização montou seis centros de tratamento, dois em cada país afetado. Esses centros receberam 10.288 pacientes, dos quais 5.226 foram diagnosticados com ebola. No pico da epidemia, a organização chegou a mobilizar aproximadamente 4 mil profissionais locais e mais de 325 estrangeiros.

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Até o início de janeiro deste ano, foram registrados nos três países mais de 28.600 casos de ebola, que provocaram a morte de 11.300 pessoas.

Estreia. O filme fica em cartaz na Matilha Cultural até 30 de abril. Logo após a estreia, no dia 19 de março, a psicóloga da MSF Ionara Rabelo falará de sua experiência na luta contra a epidemia de ebola na Libéria. Ionara entrou para a MSF em 2010. Também trabalhou com a organização na Palestina, em Tabatinga (Amazonas) e na Turquia, com refugiados sírios. 

O artista plástico Alexandre Keto, que busca fazer uma ponte entre Brasil e África, falará de suas viagens ao continente, vinculadas a projetos sociais. Uma exposição de Médicos Sem Fronteiras e de Keto será inaugurada no local no mesmo dia. 

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A Matilha Cultural fica na Rua Rua Rêgo Freitas, 542, em São Paulo. O espaço funciona de terça-feira a domingo, das 12 horas às 20 horas, exceto aos sábados, quando abre das 14 horas às 20 horas. 

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