'Minha filha grávida passou por três hospitais antes de morrer'

Aos sete meses de gestação, Regivane Mafra dos Santos não resistiu à espera por atendimento adequado em Manaus, no Amazonas

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Por Gonçalo Junior
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Depois de dar à luz duas meninas, a técnica de enfermagem Regivane Mafra dos Santos, de 28 anos, estava realizando o sonho de ter um menino no ano passado. A gravidez, no entanto, foi difícil por causa da covid-19

Regivane Mafra dos Santos (atrás) com a mãe, Renilce: filha estava grávida quando foi contaminada e não conseguiu atendimento em Manaus. Foto: Arquivo pessoal

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Aos sete meses de gestação, Regivane precisou ficar seis dias internada em sua cidade, Tonantins, distante 872 quilômetros de Manaus (AM). Como o caso era delicado, a família resolveu buscar tratamento na capital. Segundo a família da vítima, Regivane conseguiu "carona" numa UTI aérea reservada para um paciente de 60 anos, também com a doença. Na versão da prefeitura, a UTI aérea foi alugada para levar os dois pacientes. Foram quatro dias no Hospital de Campanha da prefeitura de Manaus, em maio do ano passado. Não conseguiu vaga em UTI.

O caso piorou. Dois dias depois, ela teve descolamento da placenta e precisou ser novamente transferida, desta vez para uma maternidade. Ela foi transferida às pressas para o hospital Ana Braga. Cesariana de emergência. A Secretaria de Saúde do Amazonas informou que o bebê não resistiu devido à prematuridade. Em estado grave após o parto, a mãe foi transferida para a UTI da maternidade Balbina Mestrinho, porque os leitos na maternidade Ana Braga estavam com ocupação máxima. Era o terceiro hospital. Ela morreu no dia seguinte por falência múltipla dos órgãos.

“Depois de um ano, ainda continua a mesma situação, muitas mortes e a precariedade no sistema de saúde devido inúmeros fatores como a falta de assistência e falta de conscientização da população. Essa é minha visão atualmente”, diz Renilce, mãe de Regivane, que hoje cuida das duas netas Debora, de 8 anos, e Tamilys, de 11. A Secretaria de Estado de Saúde (Susam) informou que, também, prestou toda assistência à paciente.

O Estado do Amazonas foi o primeiro a ver seu sistema de saúde entrar em colapso, em abril. As cenas com câmaras frigoríficas nos hospitais e o enterro das vítimas da covid-19 em trincheiras rodaram o mundo. Desde junho, quando Manaus registrou queda no número de novos casos e o Estado anunciou os planos de reabertura econômica, a situação parecia ter melhorado.

Com novos recordes de internação e aumento de 193% nos sepultamentos de dezembro para janeiro, o prefeito da capital, David Almeida (Avante), decretou estado de emergência por 180 dias. O ápice dessa nova crise foi visto no dia 14 de janeiro, quando o fim do estoque de oxigênio em unidades hospitalares levou pacientes internados à morte por asfixia.

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