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Saúde afirma que 1,5 milhão de pessoas não voltaram para tomar segunda dose da vacina contra covid

São Paulo tem o maior número de pessoas com a vacina atrasada (343,9 mil), seguido pela Bahia (148,8 mil) e o Rio de Janeiro (143 mil pessoas). Especialistas cobram do governo mobilização para encontrar quem precisa da segunda dose

Por Mateus Vargas
Atualização:

BRASÍLIA - O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, informou nesta terça-feira, 13, que mais de 1,5 milhão de pessoas não voltaram para tomar a segunda dose da vacina da covid-19 dentro do prazo estipulado pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Segundo dados divulgados pelo ministério, São Paulo tem o maior número de pessoas com a vacina atrasada (343,9 mil), seguido pela Bahia (148,8 mil) e o Rio de Janeiro (143 mil pessoas). Especialistas cobram do governo mobilização para encontrar quem precisa da segunda dose, sob risco de prejudicar a estratégia de combate à pandemia. 

Vacina de Oxford/Astrazeneca. Foto: Miguel Medina/AFP

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Segundo a coordenadora do PNI, Francieli Fontana, mesmo fora do prazo, todos devem retornar para tomar a segunda dose. Ela afirmou que o ministério irá conversar com Estados e municípios para traçar formas de ir atrás de quem está com a segunda dose atrasada. Fontana será nomeada chefe da secretaria que tratará apenas de assuntos da covid dentro do ministério, área que ainda depende da publicação de uma medida provisória para ser criada. 

As vacinas de Oxford/AstraZeneca e a Coronavac, distribuídas até agora no Brasil, são aplicadas em duas doses, com intervalos de até 3 meses e de 14 a 28 dias, respectivamente. Para alcançar a eficácia observada em estudos, o esquema vacinal precisa ser seguido à risca. O número de pessoas vacinadas com ao menos uma dose contra a covid-19 no Brasil chegou nesta segunda a 23.847.792, o equivalente a 11,26% da população total, segundo dados do consórcio formado por veículos de imprensa.

"Falta uma grande campanha de mobilização explicando sobre a exigência de duas doses. Poderíamos ter feito cadastramento, enviado e-mail, mensagem até por SMS, como todos os países estão fazendo, para as pessoas voltarem aos locais de vacinação", disse a epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o PNI de 2011 a 2019.

O ministério não explicou o número de pessoas que não receberam a segunda dose. Algumas prefeituras, como as de Campina Grande (PB) e Natal (RN), interromperam nesta semana a aplicação por falta de estoque. Já o Distrito Federal (DF) suspendeu na última semana a distribuição da primeira dose, também por falta de estoque, mantendo apenas em curso a etapa seguinte da imunização. "As pessoas buscam a segunda dose e não encontram em alguns locais. Em outros, sobram vacinas, há a 'xepa"', disse Domingues, ao criticar a falta de coordenação nacional sobre a campanha de vacinação.

O Ministério da Saúde passou a orientar, no fim de março, que não é mais preciso reservar metade dos lotes da Coronavac para a aplicação da segunda dose. A pasta faz reuniões semanais com Estados e municípios para decidir qual parte dos lotes que serão entregues devem servir para a primeira ou segunda aplicação.

Epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel afirma que quem receber apenas uma dose pode desenvolver proteção mais baixa e menos duradoura contra a covid-19. Ela também vê prejuízo coletivo. "Para atingir uma boa cobertura vacinal e imunidade coletiva, é importante que mais de 70% da população receba as duas doses", disse Maciel.

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Ex-coordenadora do PNI, Domingues afirma que não há campanha efetiva do ministério, Estados e municípios para orientar sobre a aplicação da segunda dose. Para a epidemiologista, os aplicadores das vacinas estão sendo sobrecarregados com a tarefa de orientar a população. "Se a pessoa não sabe ler ou tem dificuldade de entendimento, vai saber que tem de voltar em 28 dias ou em até 3 meses?", questionou Domingues.

Procurado, o ministério não informou se fará campanha de comunicação específica para reforçar a exigência da segunda dose. As peças divulgadas pela pasta tratam da distância entre as aplicações com pouca ênfase. "A comunicação não existe. Não temos campanha de mobilização ou educativa", disse a ex-coordenadora do PNI.

Queiroga e sua equipe participaram de uma conversa com a imprensa nesta terça-feira. O ministro disse que não há previsão de quando grupos prioritários (cerca de 77,2 milhões de pessoas) serão vacinados. "Com as doses que tenho aí, não tem ainda condições de estabelecer prazo", disse Queiroga. 

A coordenadora do PNI informou que trabalhadores da limpeza urbana devem ser inseridos na lista de prioridades para a vacinação, mas não detalhou qual o tamanho deste grupo e nem em que momento eles devem ser imunizados. 

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O ministro disse que há tratativas para tentar antecipar o envio de doses de vacinas. Há expectativa de que países com ritmo de vacinação mais avançado enviem doses ao Brasil de modelos já contratados pelo ministério, em uma espécie de permuta. Mais tarde, o mesmo número de doses antecipadas ao governo federal seriam remetidas a estes outros países. 

Queiroga voltou a afirmar que não irá barrar a discussão sobre facilitar a compra de vacinas pela iniciativa privada, mas mostrou ceticismo sobre as chances de empresários conseguirem as doses em plena disputa global pelo produto. "Se é uma lei, não é 'fura-fila'", disse Queiroga.

Coordenadora do PNI, Fontana disse que a expectativa do governo é receber 30 milhões de doses de vacinas neste mês dos modelos Coronavac e Oxford/AstraZeneca. Ela não detalhou se todas seriam entregues pela Fiocruz e pelo Butantan. Como mostrou o Estadão, a Saúde não atualiza mais o cronograma de entrega para todo o ano, como fazia a gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello. No site do ministério, há disponível um documento de 19 de março, totalmente defasado, que previa mais de 47 milhões de doses entregues em abril.

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Orientações ao transporte público

Sem dar detalhes, Queiroga disse que a Saúde prepara orientações para evitar que o País "chegue em cenários extremos". Segundo o ministro, a ideia é "disciplinar determinadas condutas". "Uso de máscaras é uma das medidas, de maneira rigorosa", afirmou. Queiroga também citou regras para o transporte urbano, além da ideia de testar passageiros e funcionários do setor, como motoristas.

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Questionado se já não há casos "extremos" no País que justificam a adoção de medidas mais rígidas, como um lockdown, Queiroga desviou. "Estados já fizeram medidas restritivas e o resultado não foi o esperado", disse o ministro, que citou dificuldade de convencer a população a aderir às recomendações sanitárias. Queiroga não respondeu se essas medidas teriam maior adesão, caso o presidente Jair Bolsonaro apoiasse as recomendações. 

Em junho de 2020 o Ministério da Saúde já lançou orientações sobre "retomada segura" das atividades, inclusive com regras ao transporte público e orientações para o uso de máscaras e distanciamento social. Queiroga não explicou o que mudaria com as novas regras. 

Testes encalhados

Secretário-executivo da Saúde, Rodrigo Cruz informou que a Saúde deve distribuir os exames do tipo RT-PCR que vencem em breve, como mandou o Tribunal de Contas da União (TCU). O estoque foi revelado pelo Estadão, em novembro, quando havia cerca de 6,8 milhões de unidades encalhadas. Os testes venceriam no mês seguinte, mas tiveram a validade renovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por mais 4 meses. Agora, há cerca de 2,65 milhões de testes em estoque, sendo que quase 90% (2,34 milhões) vence de 12 a 31 de maio.

Segundo Cruz, há ainda possibilidade de a fabricante do produto fazer uma doação de testes. Ele não informou o número que poderia ser entregue. O secretário também citou a possibilidade de compra de testes rápidos de antígeno, um pleito desde outubro, pelo menos, de secretários de Estados e municípios. O exame é mais ágil e tem boa capacidade para encontrar o vírus ativo no organismo.

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