07 de abril de 2021 | 15h00
BRASÍLIA – Mais de um ano após o começo da pandemia, o Ministério da Saúde mantém, em canais oficiais, informações desatualizadas ou erradas sobre o uso de máscaras durante a pandemia. O aplicativo oficial criado para orientar a população sobre os cuidados com o novo coronavírus recomenda o uso de máscara apenas para quem tem sintomas da covid-19 ou está cuidando de uma pessoa com suspeita do vírus. A recomendação contradiz falas do próprio ministro recém-empossado, Marcelo Queiroga, que tem defendido o uso da proteção por todos e já citou que o País deve adotar como slogan ser a "pátria de máscaras".
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“Para pessoas saudáveis, use máscara somente se você estiver cuidando de uma pessoa com suspeita de infecção por coronavírus”, afirma o programa que foi atualizado em outubro de 2020. Mais de 5 milhões de downloads deste aplicativo foram feitos apenas na “Play Store”, usada no sistema Android.
O mesmo aplicativo também afirma que ainda não há vacina disponível contra a covid-19, ainda que o Brasil tenha iniciado a sua campanha de imunização em janeiro.
Além do app, o site da pasta também continha informações desatualizadas sobre a doença. Até a semana passada, a sessão “perguntas e respostas” do Ministério da Saúde sobre a pandemia afirmava que o aperto de mãos era a principal forma de contágio da covid-19. Além disso, negava que a doença fosse transmitida pelo ar. A página foi excluída após questionamento do Estadão.
“O COVID-19 é transmitido pelo ar?”, questionava a Saúde, na página. “Não, a transmissão acontece de uma pessoa doente para outra por contato próximo, por meio de: aperto de mãos (principal forma de contágio)”, era a resposta. Além desta forma, também eram citadas gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro e objetos e superfícies contaminadas como formas e locais de contágio.
Em seu site, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que a transmissão da covid-19 é feita de uma pessoa a outra, por meio de gotículas que se propagam a partir do nariz ou da boca de uma pessoa, principalmente após tosse ou espirro. O órgão também cita a contaminação ao tocar olhos, nariz e boca depois de ter contato com uma superfície contaminada. O aperto de mão, porém, está longe de ser tratado como principal forma de transmissão.
O Portal do Servidor do governo federal também está desatualizado. Em texto sobre orientações para evitar a contaminação não há qualquer menção ao uso de máscaras. Atualizado em 16 de março, a página recomenda medidas como higienização das mãos, cobrir o rosto com lenço de papel ao espirrar ou tossir, evitar aglomerações e manter ambientes bem ventilados, mas ignora a necessidade de usar o equipamento de proteção.
Desde que assumiu o posto, após a saída de Eduardo Pazuello, Queiroga tem cobrado o uso das máscaras. "Agora é pátria de máscara", disse o médico, usando duas máscaras de proteção, em declaração no último dia 26, no Palácio do Planalto.
Procurada, a Saúde não informou se o ministro também pretende reservar recursos para a compra do equipamento à população, como fizeram alguns Estados e municípios. Queiroga também tem afirmado que uma de suas primeiras ações na pasta foi editar portaria para determinar o uso da proteção dentro do Ministério da Saúde, mais de um ano após o começo da pandemia.
Como mostrou o Estadão no mês passado, a falta de preocupação da pasta com os protocolos para conter a propagação do vírus motivou queixas entre os próprios funcionários.
O texto anunciado por Queiroga, porém, até agora não foi publicado. Em outubro, uma portaria já determinou o uso da proteção, o que não vinha sendo cumprido nem sequer por Pazuello e seus auxiliares. Este texto também afirmava que máscaras "profissionais", como os modelos descartáveis ou N95, devem ser prioridade apenas a profissionais que atuam no atendimento de pacientes. O próprio Queiroga, porém, tem usado proteção mais reforçada em reuniões de governo ou ao atender a imprensa.
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