Missão Covid completa um ano com 93 mil atendimentos gratuitos prestados; saiba como acessar

Plataforma de consulta médica virtual teve mais de 4,5 milhões de acessos no período; número de solicitações registrou alta expressiva após o carnaval

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Por Renata Okumura
Atualização:

SÃO PAULO - Com 93 mil teleatendimentos gratuitos realizados em quase 2,3 mil cidades do País, além de brasileiros que moram no exterior, o projeto Missão Covid completa um ano no próximo sábado, 20. Após realizar o cadastro na plataforma, o paciente que apresenta sintomas do novo coronavírus recebe atendimento por meio da telemedicina, em videochamada feita por um médico voluntário.

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Entre os atendidos nesse período estão, em sua maioria, pessoas de 30 a 60 anos, das classes C e D, sem convênio médico. Idosos geralmente são inscritos por familiares jovens que acompanham o teleatendimento. O perfil também se concentra no Rio de Janeiro e São Paulo, com 21.041 e 18.487 cadastros, respectivamente, entre março de 2020 e fevereiro de 2021. O total geral de pacientes atendidos pela plataforma que teve hipótese diagnóstica de covid-19 foi de 83%.

Diante de novas variantes e do aumento de casos, internações e mortes pela doença, a plataforma, que teve em um ano mais de 4,5 milhões de acessos, teve um crescimento na procura pelo serviço principalmente após o carnaval. "Registramos um aumento absurdo pelo teleatendimento chegando a receber até 1 mil cadastros diariamente", afirma o médico cardiologista Leandro Rubio, fundador da Missão Covid.

Médico cardiologista Leandro Rubio, fundador da Missão Covid Foto: Arquivo Pessoal

Em 13 de fevereiro, três dias antes do feriado, foram feitos 57 cadastros, contra 1.038 registrados em 11 de março, menos de um mês depois - o que representa uma alta quase 20 vezes maior. Mesmo com as comemorações suspensas, aglomerações também tiveram impacto na elevação de pessoas que tiveram diagnóstico confirmado para a doença.

Além disso, com o número de casos mais graves atingindo a população mais jovem, a Missão Covid também acompanhou mais cadastros de pessoas entre 31 e 50 anos, por exemplo: de 4.711 (entre 1º e 15 de junho de 2020) para 10.285 (entre 1º e 15 de março de 2021). No mesmo período, foi observada elevação de 1.374 para 3.736 nos cadastros entre 51 e 70 anos. Todas as outras faixas etárias, inclusive as acima de 90 anos, demonstram crescimento, mas em ritmo menor. Em um ano foram feitos mais de 260 mil cadastros na plataforma.

Rede voluntária com 1,5 mil médicos

Em média, 1,5 mil médicos de diferentes especialidades e localidades do País já contribuíram com o projeto. "Esse número mostra a quantidade de profissionais que nos ajudaram desde o início do projeto nos atendimentos remotos. No entanto, ativamente, hoje temos aproximadamente 100 médicos, em sua maioria aposentados. Mas muitos jovens também, como eu que tenho 35 anos", afirma.

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"Nos últimos 15 dias, atendemos 10% do total de cadastrados. Em alguns momentos, 20% da demanda que chega diariamente. Isso varia muito e depende da quantidade de médicos disponíveis para atender", explica o médico.

Com o aumento da procura, nem todos os pacientes que se cadastram conseguem entrar atualmente na fila de atendimento. Por isso, Rubio convida médicos de todo o País a fazerem parte do projeto. "Pedimos que mais médicos sejam voluntários, pois, com mais profissionais, poderemos aumentar o número de atendimentos", pede Rubio, que também atua no Hospital Samaritano de Higienópolis em São Paulo e atualmente dedica maior parte de seu tempo ao projeto.

"Quando tivemos a ideia da Missão Covid, não imaginávamos onde chegaríamos. Somos muito gratos pela experiência que ganhamos profissionalmente, pessoalmente e, mais do que tudo, por ter acreditado em uma missão humanitária que fez e ainda faz a diferença na vida de tantas pessoas. É um projeto movido por valores e propósitos, sem fins lucrativos", afirma.

No início, muitas pessoas desesperadas e inseguras com a explosão de casos de covid no mundo procuraram a Missão Covid para os mais diversos atendimentos. "A pessoa sentia dor de garganta e já acessava. Pessoas sem sintomas típicos da doença, até com dor no joelho, que não tinham atendimento de outra forma, também buscaram orientação médica. Hoje, o perfil de pacientes já é mais voltado para a covid-19, que é o foco do atendimento. Mais atentas aos sintomas, as próprias pessoas já fazem uma autotriagem antes de realizarem o cadastro em nossa plataforma", explica.

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'Atendimento excelente' 

No último fim de semana, o aposentado Antônio Pereira Borges, de 61 anos, fez a inscrição para a filha Michelle Cristhini Bruschi Pereira Borges, de 30, estudante de pedagogia. "Quando observei que minha filha estava com um pouco de dificuldade para respirar, eu ia levá-la ao hospital, mas nisso recebi o link da Missão Covid encaminhado por um amigo pelo WhatsApp. Já conhecia o projeto. Eu me inscrevi no domingo à tarde, 14, e no mesmo dia, felizmente, recebi o retorno de um médico", afirma.

"O atendimento foi excelente. Minha filha relatou os sintomas para o médico. Explicou que teve covid-19 em dezembro do ano passado. Na época, teve dificuldade para respirar, dor no corpo e dor de cabeça. Foi até a Unidade Básica de Saúde (UBS) da Vila Carmosina, na região leste de São Paulo, onde fez o teste e foi confirmado que estava com a doença. Além dela, eu e minha esposa testamos positivo. Fomos medicados e nos recuperamos bem."

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Assim como no Brasil, a Missão Covid ganhou reconhecimento internacional entre brasileiros que moram fora do País. "Atendemos pacientes com sintomas de covid-19 que moram na Austrália, Estados Unidos, Irlanda, França e Inglaterra. Até um angolano que mora na Angola, por falar nosso idioma, fez cadastro e foi atendido por um de nossos médicos voluntários", conta Rubio.

"Além da população comum, extrativistas e até indígenas aldeados foram atendidos pela Missão Covid. Observamos que é possível tornar o acesso à saúde democrático. Acesso capilar, podendo chegar a todo lugar do Brasil e do mundo. O paciente só precisa ter um telefone e acesso à internet. Com certeza, um trabalho que ajudou muito ao longo do último ano e ainda ajuda muitas pessoas", acrescenta o fundador do projeto.

Número de mortes no Brasil chegou a 2.798 nas últimas 24 horas, segundo dados divulgados na terça-feira, o que impacta no aumento da procura por atendimentos em hospitais e também pela Missão Covid Foto: EFE/FERNANDO BIZERRA

Telemedicina em debate

A prática da telemedicina, no entanto, ainda é uma questão em debate. O uso da tecnologia para o atendimento médico foi autorizado em caráter emergencial no Brasil e está liberado até o fim da pandemia, de acordo com a aprovação do projeto de lei PL 696/020 pelo Senado.

"No momento em que a pandemia chega ao seu maior pico, com hospitais lotados em todo o País, a Missão Covid continua contribuindo desta forma para que pessoas com sintomas leves da doença não precisem sair de casa para receber uma orientação médica", avalia o fundador do projeto.

Ainda segundo ele, a telemedicina representa uma mudança cultural, que demonstrou ser muito eficaz. "É uma mudança cultural. Com a pandemia, pessoas foram forçadas a receber esse tipo de atendimento. Mas a experiência, até pela Missão Covid, é de que a pontuação de satisfação é de 97%, ou seja, algo realmente positivo relacionado à saúde", afirma.

Rubio admite que apesar de toda a dedicação que tem com a Missão Covid, assim que a situação se estabilizar, o projeto deixará de existir. No entanto, para essas pessoas que dependem de atendimento médico acessível para outras enfermidades, funciona desde novembro do ano passado a iniciativa Starbem.

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Também fazendo uso da telemedicina, o projeto reúne profissionais das mais diversas especialidades médicas. Por meio do aplicativo, disponível para os sistemas Android e IOS, os pacientes têm à disposição consultas por videochamada, renovação de receita médica, além de descontos em exames pagando entre R$ 14,90 por mês (anual) e R$ 19,90 por mês (mensal).

O que você precisa saber sobre a Missão Covid:

O que é a iniciativa?

É um projeto sem fins lucrativos realizado por médicos que atendem gratuitamente (por ligação de vídeo) pacientes que apresentam sintomas da covid-19. A parceria com diferentes empresas do ramo de telefonia e do setor farmacêutico, por exemplo, também permitiu a sustentabilidade da Missão Covid.

Como funciona?

O paciente precisa realizar um cadastro pela plataforma que dura três minutos. Após a solicitação, ele é atendido por um médico por chamada de vídeo pelo WhatsApp, em poucas horas, dependendo da demanda de inscritos no dia. O profissional pode orientar ao paciente que procure atendimento presencial em uma unidade de saúde próxima caso ache necessário.

"Em alguns casos, apenas receitamos remédios que ajudam a aliviar os sintomas da covid-19. Pela plataforma, não é possível indicar medicamentos que necessitem de prescrição médica. Desta forma, evitamos que sejam indicados o uso de medicamentos como a cloroquina e azitromicina, que não têm eficácia comprovada contra o novo coronavírus. Ou seja, quando observamos pela aparência do paciente ou pelo relato que seu estado de saúde é grave, indicamos que procure imediatamente atendimento em uma unidade de saúde mais próxima", afirma Rubio.

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Como surgiu o projeto?

A Missão Covid é uma iniciativa liderada pelo médico cardiologista Leandro Rubio e o CEO da GO.K Cristiano Kanashiro, responsável pela tecnologia. A decisão de criar a plataforma surgiu em 20 de março de 2020, sendo debatida entre amigos médicos que estavam ociosos no início da pandemia, em seguida foi criado o perfil no Instagram, e em apenas três dias, o projeto foi lançado oficialmente com apenas 20 profissionais voluntários empenhados na realização de consultas gratuitas por meio da telemedicina.

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