Morfina pode acelerar alastramento do câncer, diz estudo

Cientistas dizem que a droga faz surgir novos vasos sanguíneos que levam oxigênio e nutrientes aos tumores

PUBLICIDADE

Por BBC
Atualização:

Testes com ratos em laboratório sugerem que a morfina teria o efeito de encorajar o alastramento do câncer, doença cujo tratamento com frequência envolve o uso de morfina para diminuir a dor resultante de cirurgias e tumores. Cientistas americanos dizem que opiáceos como a morfina promovem o crescimento de novos vasos sanguíneos que levam oxigênio e nutrientes aos tumores.

 

PUBLICIDADE

Em uma conferência da American Association for Cancer Research, em Boston, os pesquisadores também disseram ter identificado uma droga que teria a propriedade de anular esse efeito.

 

Comentando o anúncio pelos especialistas americanos, a entidade britânica de fomento a pesquisas sobre o câncer Cancer Research UK disse que são necessários mais testes antes de que sejam feitas mudanças nos tratamentos.

 

Estudo

 

O pesquisador Patrick Singleton, da University of Chicago, disse que testes mostraram que a morfina não apenas fortaleceu a circulação sanguínea como também pareceu facilitar a invasão de outros tecidos e o alastramento de câncer. Singleton disse, no entanto, que o efeito negativo da morfina poderia ser bloqueado com uma droga chamada metilnaltrexona, desenvolvida na década de 80 para combater a prisão de ventre associada ao uso da morfina.

 

Segundo o especialista, a metilnaltrexona, cujo uso só foi aprovado recentemente nos Estados Unidos, parece funcionar sem interferir com as propriedades analgésicas da morfina.

 

Nos testes em ratos com câncer de pulmão, a metilnaltrexona inibiu em 90% o alastramento do câncer supostamente encorajado pelo opiáceo - dizem os especialistas. "Se confirmado clinicamente, isto poderia mudar a maneira como fazemos anestesias cirúrgicas nos nossos pacientes com câncer", disse Singleton.

Publicidade

"(O estudo) também indica novas aplicações em potencial para essa nova classe de drogas", acrescentou, em referência à metilnaltrexona.

 

Os testes foram iniciados após um colega de Singleton ter notado que vários pacientes sendo tratados com a nova droga sobreviveram mais tempo após a cirurgia do que o esperado. Mas uma médica da entidade Cancer Research UK, Laura Bell, disse que a morfina apresenta um longo histórico de oferecer alívio efetivo para a dor.

 

Ela observou que as pesquisas sobre o assunto estão em fase inicial e, portanto, é muito cedo para que se possa afirmar que os analgésicos baseados em opiáceos possuem de fato um efeito sobre o crescimento do câncer. "Muitas pesquisas seriam necessárias para justificar mudanças na forma como os opiáceos são usados para tratar pessoas com câncer".

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.