Mortes por novo coronavírus passam de mil no Brasil e de 100 mil no mundo

Total de infectados no planeta é de 1,6 milhão. No País, São Paulo é o Estado mais afetado, e estudos indicam desaceleração no crescimento da doença após governo decretar isolamento, em 24 de março

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Por Ludimila Honorato
Atualização:

SÃO PAULO - A pandemia do novo coronavírus alcançou ontem duas marcas: no Brasil, o número de mortos ultrapassou a casa dos mil e no mundo, a dos 100 mil. Balanço divulgado pelo Ministério da Saúde aponta que já são quase 20 mil os brasileiros diagnosticados com a covid-19. No mundo, o total de infectados é de 1,6 milhão.

Primeiramorte pelonovo coronavírus no Brasil foi registrada em 17 março; total de óbitos passa de mil em menos de um mês. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Em 24 horas, o País registrou 115 novas mortes (acréscimo de 12%) e 1.781 casos a mais (aumento de 10%), elevando os números totais para 1.056 óbitos e 19.638 casos confirmados da doença em todas os Estados. São Paulo continua sendo o mais afetado, com 8.216 casos e 540 mortes, seguido por Rio de Janeiro (2.464 e 147) e Ceará (1.478 e 58). Na quinta-feira, o governador João Doria (PSDB) prometeu mais rigor nas medidas de distanciamento social, cogitando até prender quem desrespeitar a recomendação.

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O objetivo, segundo ele, é que o isolamento englobe cerca de 70% da população em todo o Estado, patamar considerado ideal para desacelerar a doença. Porém, o Sistema de Monitoramento Inteligente (SIMI-SP) do Governo de São Paulo mostra que o porcentual de isolamento social no Estado foi de apenas 47% na quinta-feira.

Segundo o infectologista e epidemiologista Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, do Comitê de Contingenciamento do Estado, estudos indicam desaceleração no crescimento da doença depois que Doria decretou quarentena a partir de 24 de março. “Hoje, uma pessoa passa o vírus para um pouco mais de uma. Isso ainda é um crescimento, mas mais lento. A questão é como ficará daqui duas semanas se não decretar prorrogação. Podemos ter crescimento exponencial.”

Para o infectologista Jean Gorinchteyn, do Hospital Emilio Ribas, as ações de isolamento tomadas em vários Estados podem ter feito com o que o pico da doença no País fosse um pouco adiado. O Ministério da Saúde estima que isso deve ocorrer entre o fim de abril e o começo de maio. A primeira morte em decorrência da covid-19 foi em 17 de março, em São Paulo, de um homem de 62 anos que tinha diabete e hipertensão, sem histórico de viagem ao exterior. Em menos de dez dias, em 25 de março, já eram 57 mortes. Passou para mais de 200 em 1.º de abril e ultrapassou os mil óbitos ontem.

“As curvas foram desaceleradas pelas quarentenas e, em paralelo, pela otimização dos hospitais de campanha, com leitos de UTI e aparelhos”, diz Gorinchteyn. “Mas se o número de casos crescer de forma acentuada, medidas terão de ser estabelecidas para garantir que pessoas não tenham risco de vida, não só para não sobrecarregar o sistema de saúde”, avalia.

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Ele alerta, porém, para o aumento da circulação de pessoas observado nos últimos dias. Na quinta-feira, o Estado mostrou que a quarentena afrouxou em todas as capitais entre a última semana de março e os primeiros dias de abril. Entre as dez maiores capitais, a que apresentou maior proporção de pessoas circulando nas últimas semanas foi Manaus. O Amazonas registrava ontem 981 casos e 50 mortes por covid-19.

'É irresponsabilidade deixar adoecer desde que tenha leito. Não vejo nenhuma possibilidade segura de abertura antes de meados ou fim de maio.”

Carlos Magno, infectologista e epidemiologista

“Isso pode fazer com que haja mais circulação do vírus e contaminação dos mais vulneráveis e a mais mortes”, diz Gorinchteyn.  No início da semana, o Ministério da Saúde propôs que algumas regiões afrouxem o isolamento, desde que estejam providas de leitos, respiradores, testes, equipamentos de proteção e equipes de saúde suficientes.

Avanço do novo coronavírus no mundo

Ainda sem nomear o vírus, em 31 de dezembro, o governo da cidade chinesa de Wuhan confirmou para autoridades de saúde a existência de dezenas de casos de uma pneumonia desconhecida na região. Em 11 de janeiro, foi informada a primeira morte. Desde então, a covid-19 se espalhou por todos os continentes e deixou mais de 100 mil mortos até ontem, segundo levantamento da universidade norte-americana Johns Hopkins. Os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam 92.798 mortos. São mais de 1,6 milhão de infectados.

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Da China, o novo epicentro da doença passou a ser a Europa em março, com Itália e Espanha destacando-se pelo crescente número de casos e mortes. Depois, os Estados Unidos passaram a chamar a atenção, superando registros europeus. Para Carlos Magno, três fatores colaboraram com a propagação do vírus pelo mundo: o padrão de deslocamento das pessoas, a velocidade de resposta dos países e o negacionismo dos líderes políticos. Ele avalia que a Itália reconheceu tarde que se tratava de uma emergência de saúde e que os norte-americanos “são vítimas do negacionismo do presidente”, que chegou a minimizar a doença.

Em comparação com esses países, Gorinchteyn diz que o Brasil está conseguindo fazer com que as pessoas entendam a importância de ficar em casa e, ao mesmo tempo, tem preparado as unidades de saúde. “Apesar do número de casos, estamos fazendo história diferente de China, Itália e EUA. Por isso, nesse momento, não é adequado afrouxar o isolamento.”

Bolsonaro erra em suas previsões

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Em 22 de março, o presidente Jair Bolsonaro disse em entrevista para a TV que a quantidade de mortes causadas pelo novo coronavírus não seria maior do que as provocadas pela H1N1 no ano passado. Em 2019, 796 brasileiros morreram de H1N1, segundo o Ministério da Saúde.

Quatro dias depois de sua declaração, em 26 de março, Bolsonaro comentou que o contágio pela covid-19 no País não seria como nos Estados Unidos porque, segundo ele, não acontece nada com o brasileiro. Queria dizer que seu povo era mais resistente. No mesmo dia, o presidente comentou que o brasileiro deveria ser estudado (por cientistas e médicos) porque mergulha no esgoto e não pega nenhuma doença.

Bolsonaro tem minimizado a pandemia do coronavírus em suas falas e ações, como a de isolamento que não cumpre, e chamou a doença de “gripezinha”. Ontem, ele caminhou pelo comércio de Brasília, reunindo apoiadores em torno de si, em meio ao isolamento social em vigência no Distrito Federal devido à pandemia. Seu ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, já comentou que o DF é um dos Estados que mais o preocupam. “Eu tenho direito constitucional de ir e vir. Ninguém vai tolher minha liberdade de ir e vir”, afirmou o presidente aos jornalistas presentes na saída de ontem com seus pares.

Já o ex-ministro e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que tem sido uma das principais vozes contrárias às medidas restritivas no combate ao coronavírus, disse em rádio que o Brasil terá menos mortes pela doença do que o Rio Grande de Sul terá por gripe no inverno. “Vai morrer mais gente de gripe sazonal no Rio Grande do Sul. Morrem, em média, 950 pessoas de gripe sazonal, principalmente os idosos”, disse, acrescentando que errar o que chamou de “vaticínio” seria desmoralizante para ele. “Vai morrer menos gente de coronavírus no Brasil do que gente no inverno gaúcho de gripe sazonal.”

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