MP avalia investigar ataques à secretária de saúde por lockdown em Araraquara

Pessoas contrárias às medidas, que já resultaram em queda nos casos e mortes por covid na cidade, expuseram o endereço da titular da pasta em redes sociais e conclamaram internautas para “fechar a rua”

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Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA – O Ministério Público de São Paulo (MPSP) avalia se abre investigação para apurar os ataques e ameaças sofridos pela secretária de Saúde de Araraquara, no interior de São Paulo, por causa da decretação de lockdown na cidade. Pessoas contrárias às medidas, que já resultaram em queda nos casos e mortes por covid na cidade, expuseram o endereço da titular da pasta, Eliana Honain, em redes sociais e conclamaram internautas para “fechar a rua” e mostrar a ela “como são as coisas aqui”.

A secretária Eliana Honain foi alvo de ataques pelas medidas que resultaram em queda nos casos de covid-19, em Araraquara, interior de São Paulo Foto: Prefeitura de Araraquara/Divulgação

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Enfermeira formada pela Universidade de São Paulo (USP) e professora universitária, a secretária contou que os ataques mais contundentes aconteceram no domingo, 21. “Um pessoal se manifestou conclamando pessoas para intervirem em minha residência. Marcaram em redes sociais o prédio e o meu apartamento. Chamaram gente para fechar a rua para que eu não pudesse sair ilesa, para me forçar a descer para ver como são as coisas”, relatou à reportagem do Estadão. Segundo ela, as pessoas não tiveram o cuidado de manter o anonimato.

A prefeitura fez representação à promotoria local do Ministério Público e encaminhou cópias dos ataques dirigidos à gestora municipal. O MP informou ter recebido a denúncia e encaminhado à Polícia Civil para abertura de investigação. Eliana também procurou a Polícia Civil, como pessoa física, para registrar boletim de ocorrência por injúrias e ameaças. Ela pediu medida protetiva contra os possíveis agressores. “Tomei esse cuidado porque houve quem respondesse ao chamado para o que seriam ameaças à minha integridade física, dizendo ‘topo’ e ‘estou dentro’”, afirmou. Ela atribuiu os ataques a negacionistas. “É uma coisa organizada, que extrapola a nossa cidade. Estamos indo contra a linha que eles defendem.”

Em live, nesta terça-feira, 23, o prefeito Edinho Silva (PT) confirmou ter encaminhado ao MP e às autoridades policiais os ataques dirigidos contra a secretária. “Ninguém tem o direito de atacar e ameaçar ninguém, tampouco uma mulher como ela, que larga a sua vida pessoal, superou a covid-19 e está na linha de frente no combate à pandemia. Eliana se dedica integralmente ao povo de Araraquara e na superação da doença.” Ele condenou o uso das redes sociais para a divulgação de mentiras em relação ao lockdown e às medidas que Araraquara tomou no enfrentamento da covid-19. “Vamos derrotar o ódio e o negocionismo”, disse.

Conforme noticiou a Coluna do Estadão, Araraquara começa a colher resultados esperançosos no controle da covid-19, após ter decretado lockdown no dia 21 de fevereiro último. No dia 5 deste mês, a cidade registrou nove mortes pela doença, o pior momento da tragédia do município de quase 240 mil habitantes. No dia 21, apenas duas mortes foram anotadas. O número de novos casos despencou 57,5% em relação à semana anterior ao decreto. A quantidade de mortes por semana caiu 39% na comparação entre antes e depois do lockdown.

Polícia Civil conclui inquérito sobre ataques a secretária de saúde em Araraquara

A Polícia Civil de Araraquara identificou o autor dos ataques e ameaças em rede social à secretária de saúde. Conforme o delegado Marcelo Umberto Borghi, o homem alegou que não teve a intenção de ameaçar a gestora pública, apenas manifestou inconformidade com as medidas restritivas ao comércio adotadas na cidade. Na tarde desta quinta-feira, 25, o delegado relatou e remeteu o inquérito para o Ministério Público, que ainda vai se manifestar a respeito. Segundo ele, as diligências sobre o caso foram rápidas por envolver uma autoridade municipal e se relacionar com a pandemia.

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“Fizemos a oitiva da denunciante, identificamos e ouvimos as pessoas envolvidas, ficando claro que houve um único autor das postagens, enquanto outras pessoas se limitaram a compartilhar e comentar as publicações. Agora cabe ao Ministério Público avaliar se houve crime e se há necessidade de novas diligências.” 

Correções

Diferentemente do publicado na primeira versão desta reportagem, o Ministério Público de São Paulo ainda avalia se vai iniciar a investigação sobre os ataques relatados pela secretária de Saúde de Araraquara. 

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