MPF questiona o Ministério da Saúde e a Anvisa sobre o planejamento e escolha de vacinas da covid-19

Coronavac virou centro de disputa entre Bolsonaro e Doria nos últimos dias; presidente cancelou compra de imunizante chinês

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Por Andreza Galdeano
Atualização:

O Ministério Público Federal (MPF) instaurou procedimento para questionar o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre o planejamento e escolha de vacinas contra a covid-19. O ofício foi assinado por procuradoras de São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco. Todos os órgãos têm 15 dias para responder os pedidos. Isso ocorre após as divergências entre o governo federal, de Jair Bolsonaro, e o Executivo paulista, de João Doria (PSDB), relacionadas à adoção de um imunizante contra a covid-19

O Ministério da Saúde deve informar sobre cada etapa de testes das possíveis vacinas, além de esclarecer quais medidas serão adotadas para implementação do acordo com o Instituto Butantã, de São Paulo, que desenvolve o imunizante Coronavac, em parceria com o laboratório chinês Sinovac. Para a Anvisa, foram solicitadas informações científicas sobre a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, do Reino Unido, e uma estimativa para finalizar a etapa de testes.

Criada pela empresa chinesa Sinovac, vacinaCoronavac está em testes no Brasil Foto: Alex Silva/Estadão

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As procuradoras também questionam os motivos para não incluir na lista do Ministério da Saúde todas as outras vacinas que estão em desenvolvimento pelo mundo, além do imunizante de Oxford e a Coronavac. Também há pedido para que a Secretaria de Estado de Saúde paulista apresente quais seriam os termos do acordo a ser firmado com o Ministério da Saúde para garantir a compra de 46 milhões de doses da vacina coronavac no último dia 20. 

Na semana passada, o ministro da saúde, Eduardo Pazuello, confirmou a assinatura de um protocolo de intenções para a compra do imunizante e Bolsonaro disse que mandou "cancelar" o acordo, alegando que a Coronavac não tem comprovação científica e o "descrédito" de grande parte da população ao fato de o imunizante ser originalmente da China. O produto está na fase 3 de testes, a mais avançada no desenvolvimento desse tipo de produto.  Por trás da mudança de postura de Bolsonaro, também está o incômodo com o protagonismo que a Coronavac deu a Doria, adversário político de Bolsonaro. A postura do presidente motivou críticas de especialistas, governadores e políticos. 

"A secretaria deve informar se houve alteração do planejamento, divulgado também em 20 de outubro, já que o presidente da República afirmou expressamente, via rede social, que a vacina produzida em São Paulo não seria adquirida", solicita as procuradoras. Nesta segunda, Bolsonaro questionou se não seria melhor investir em remédios para a cura da doença em vez da vacinação. O presidente deve conversar com o chefe da pasta sobre o assunto.

Em contato com a reportagem, a Secretaria de Estado da Saúde informou que está disponível para quaisquer esclarecimentos sobre a Coronavac. "A pasta, por meio do Instituto Butantan, tem como objetivo disponibilizar aos brasileiros uma vacina comprovadamente segura e eficaz, após a conclusão de todos os estudos clínicos e as devidas aprovações nos órgãos regulatórios, como a Anvisa."

A secretaria ainda pede para o Ministério da Saúde "honrar o compromisso assumido publicamente no último dia 20 e  adquirir o imunizante, garantindo uma vacinação gratuita para proteger a população."

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Procurado pelo Estadão, o Ministério da Saúde ainda não se manifestou. 

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