A família da dona-de-casa Maria das Graças de Jesus Araújo, de 51 anos, que foi transplantada por engano, no Rio, disse que vai entrar na Justiça para pedir indenização e que só ficou sabendo que ela foi vítima de erro quando o caso foi divulgado na imprensa. Ela fez um transplante de rim no dia 5 de março, mas o órgão que recebeu havia sido selecionado e era compatível com uma outra paciente, de nome parecido, Maria das Graças de Jesus, 60. Veja também: Recadastramento tira 400 pacientes de lista de transplante Legislação nacional ignora uso de órgão 'marginal' Médico não considera ter furado fila em transplantes no Rio Lista única e transplante de fígado Grupo defende médico preso e pede cota de transplantes Operação Fura-Fila complica ainda mais transplantes no Rio A troca foi descoberta quando a paciente que deveria ter recebido o rim foi ao hospital fazer exames de rotina e os funcionários leram em seu prontuário que ela constava como transplantada. O caso começou a ser investigado por uma sindicância da Secretaria Estadual de Saúde, que resultou no afastamento da coordenadora da Central Estadual de Transplantes, Ellen Barroso. A conclusão foi a de que houve falha administrativa e falta de checagem dos dados da lista de espera. O cunhado de Maria das Graças Araújo, João Paulo da Silva, procurou nesta quarta-feira, 20, a Defensoria Pública estadual para dar entrada na ação indenizatória. Segundo ele, depois de ter sido operada, sua cunhada nunca mais foi a mesma. "Ela ficou menos de uma semana em casa, não conseguia urinar e começou a inchar muito". De volta ao Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, onde havia feito o transplante, Araújo passou por outras duas operações. Na última delas, no dia 22 de abril, retiraram o rim que ela havia recebido. " Os médicos disseram para a minha mulher (irmã dela) que tinha dado rejeição e que não tinha mais jeito". No dia seguinte, 23 de abril, a dona-de-casa morreu. No relatório que enviou para a comissão de sindicância, o cirurgião Renato Torres informou que a paciente morreu de infecção generalizada, e não em decorrência de incompatibilidade com o órgão transplantado. "Minha cunhada era negra e tinha 51 anos, não entendo como puderam confundi-la com uma mulher branca e de 60 anos. Foi erro médico e nós vamos atrás de Justiça", disse Silva. "O médico tinha que ter percebido o engano", afirmou. Maria das Graças Araújo sofria de problemas nos rins há nove anos. Há quatro, entrou na fila de transplantes porque ambos os órgãos não funcionavam mais. Era obrigada a fazer hemodiálise três vezes por semana. A filha Luciene, 28, que morava no mesmo terreno, era quem cuidava dela, que já não podia trabalhar. A dona-de-casa era casada, tinha outro filho e cinco netos. O secretário de Saúde, Sergio Cortes, não quis comentar o assunto, que, segundo ele, estava sendo respondido pela subsecretaria Jurídica e de Corregedoria. O subsecretário, Pedro Henrique Di Masi, não foi encontrado até a conclusão desta edição.