Mutações no genoma diferenciaram descendentes de europeus e africanos

Americanos de origem europeia herdaram um maior número de mutações consideradas prejudiciais para a saúde que seus compatriotas de procedência africana

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Por Efe
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O genoma humano sofreu um processo de mutação intenso e acelerado há entre cinco mil anos que criou diferenças entre os povos de origem europeia e africana na hora de responder às doenças.

Estas mutações ocorreram nas partes do DNA encarregadas de codificar as proteínas e 73% delas apareceram nesses cinco mil anos, um "breve fragmento de tempo" na história da evolução, segundo explicou à Agência Efe o pesquisador Joshua Akey, da Universidade de Washington. Seu estudo, publicado nesta quarta-feira, 28, pela revista científica "Nature", analisa o exoma - a parte codificadora de proteínas do genoma - de 6.515 americanos com antepassados europeus e africanos, e calcula a idade de mais de um milhão de mutações. Os cientistas concluíram assim que o genoma dos seres humanos atuais é "consideravelmente diferente" ao de há cinco mil anos, momento no qual aconteceu uma explosão demográfica pela qual a população mundial subiu das cerca de 10 milhões de pessoas para as sete bilhões atuais. Estas mudanças no DNA são "muito, muito recentes de uma perspectiva evolucionista e resulta realmente chocante que o panorama destas regiões codificadoras de proteínas seja tão diferente do que era há poucos milhares de anos", declarou Akey. Neste sentido, estes resultados demonstram "a marca que a história recente deixou sobre nosso material genético", acrescentou o especialista. A pesquisa revelou ainda que o genoma humano contém uma "quantidade enorme" de mutações raras, cerca de 86% do total de variações, que estão presentes apenas no DNA de uma pessoa ou de um punhado delas. Assim, cada participante do estudo contava com cerca de 150 variações que os cientistas não puderam encontrar em seus progenitores. Segundo Akey, a importância destas mutações está no fato que afetam a estrutura das proteínas e seu funcionamento, e determinam fatores como a suscetibilidade de seus portadores perante distintas doenças ou sua resposta aos tratamentos. Além disso, os americanos de origem europeia herdaram um maior número de mutações consideradas prejudiciais para a saúde que seus compatriotas de procedência africana. Os antepassados europeus destes americanos emigraram da África à Europa e sofreram o que se conhece como "gargalo demográfico", uma queda temporária de sua população. Dado que a seleção natural funciona de forma menos eficiente em povoações pequenas como as que formaram estes indivíduos, seu material genético herdou um maior número de mutações prejudiciais, detalhou Akey, ressaltando que, embora a diferença entre ambos grupos exista, esta é "muito pequena". Determinar a idade destas mutações e o momento no qual se produziram é importante para a reconstrução da evolução humana, assim como para melhorar o estudo de doenças genéticas. Neste sentido, o cientista americano confia que seu trabalho beneficie à pesquisa de doenças como a fibrose cística, a hipertensão, o diabetes e a obesidade.

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