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Na crise da covid-19, médicos recomendam 'busca de conexão' para ajudar no isolamento social

Famílias devem conversar pela internet; netos podem ajudar os avós a usar aplicativos

Por Pablo Pereira
Atualização:

Diante do novo quadro de presença do vírus da covid-19, em expansão no mundo e agora se alastrando pelo Brasil, cada vez mais as pessoas serão obrigadas a viver isoladas para se proteger do contágio. Esse cenário está mudando hábitos e deixando as pessoas mais ansiosas. Psiquiatras e psicólogos afirmam que é preciso que as famílias criem formas de proteção também para a saúde mental.

“A situação é muito grave e as pessoas precisam ter cuidado umas com as outras, mas sempre evitando o alarmismo”, afirmou o psiquiatra Renato Mancini, em entrevista ao Estado. Avaliando a evolução brasileira da covid-19 e a necessidade de encarar o isolamento social como forma de quebrar a cadeia de transmissão do vírus, o psiquiatra diz que “é preciso preocupar-se com os mais idosos, recomendar o isolamento deles, mas ajudá-los a enfrentar o momento”. “Temos uma oportunidade de ampliar o uso das facilidades tecnológicas”, disse. 

Entre os moradores de áreas afetadas, há idosos e crianças Foto: Marzio Toniolo/REUTERS

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Para Mancini, uma atividade que pode ajudar a minimizar o impacto do isolamento social entre idosos é a busca por medidas práticas. “Auxiliá-los a usar aplicativos de pedir refeições, por exemplo”, disse o psiquiatra. “Colocar os netos para gravar vídeos para os avós, conversar com eles pelo aplicativo, cada um em sua casa, são medidas que podem inclusive auxiliar também nas atividades com as crianças”, afirma o médico.

Com a agenda carregada no consultório, ele próprio teve de recomendar à sogra que ficasse isolada. “Falei pra ela:eu te amo, mas você tem de ir para a sua casa”, afirmou. “Eu continuo trabalhando, tendo contato com as pessoas e para te proteger você tem de ir para sua casa."

Para Mancini, as pessoas mais idosas têm dificuldade em lidar com a tecnologia e os mais jovens podem ajudar muito neste sentido. “Neste momento, quando a gente está sendo obrigado a se isolar, as ferramentas são uma oportunidade legal para um uso saudável”.“Um personal trainer, por exemplo, pode dar suas aulas ao vivo ou por vídeos”, lembrou o médico. “Os netos podem ensinar os avós a usar apps para fazer compras, fazer lives com as crianças, em vez de ficar nas redes sociais somente vendo fotografias”, lembrou. “O momento é de participar mais da família, isso é fundamental, sempre evitando o alarmismo”, disse o psiquiatra.

Dr. Renato Mancini, médico psiquiatra Foto: Arquivo Pessoal

Rotina. Para a psicóloga Desirée Cassado, formada pela Universidade Federal de São Carlos (UFScar) e mestre em psicologia Experimental pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), especialista em variabilidade comportamental e criatividade em condições adversas, o momento é de redobrar cuidados com as pessoas. “Pessoas não foram feitas para isolamento social”, disse ela. “Sentir-se só é muito prejudicial para a saúde”, lembrou a profissional. Segundo a psicóloga, estudos apontam que o isolamento prolongado deve ser equivalente a fumar 15 cigarros por dia. “O momento é de buscar conexões, procurar formas de evitar a solidão”, afirmou.

De acordo com Desirée, com aulas suspensas, a dica com as crianças é organizar a rotina. “Criança precisa ter rotina nesta hora, desde a higiene pessoal às tarefas de ler, estudar,”, ensinou. “Monte uma agenda, criança precisa de previsão e controle do futuro imediato. Precisam de previsibilidade”, disse. “Isso pode ajudar a evitar as angústias e vale igualmente para os adultos e idosos”. Para ela, é fundamental hoje que as pessoas “não antecipem angústias”, tratando cuidadosamente de assuntos sem pressionar os pequenos e adolescentes com eventuais perdas futuras.

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