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Na pandemia, serviço de entrega de remédio em casa ajuda a aliviar sensação de isolamento

Rede de farmácias resgatou essa prática de entrega a domicílio sem recorrer a portadores ou motoboys

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Por Gonçalo Junior
Atualização:

Os mais jovens não viveram isso. Décadas atrás, os profissionais das farmácias de bairro costumavam aparecer na casa dos clientes para entregar um remédio pedido pelo telefone ou aplicar injeção. Era um atendimento mais próximo, que deixa muitos com saudade. Nesse momento de necessidade de isolamento social, uma rede de farmácias está resgatando essa prática de entrega a domicílio sem recorrer a portadores ou motoboys. Como no passado, é o próprio farmacêutico quem leva o medicamento.

A atendente da farmácia Jisele da Silva Dantas entrega remédios para o cliente Adolfo Martins no Paraíso, em São Paulo Foto: Tiago Queiroz / Estadão

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Nessa modalidade, o cliente liga para a farmácia mais próxima de casa (com limite de até 300 metros de distância) e solicita o medicamento, que será entregue a pé por um atendente do próprio estabelecimento, sem custo adicional. É o caso do cliente Adolfo Martins, de 56 anos. Com frequência quinzenal, ele pede medicamentos para os problemas respiratórios do filho, para o tratamento psiquiátrico da mulher e a diabete da sogra.

A foto da receita costuma ser enviada por whatsapp. As receitas controladas são retiradas na hora da entrega. “É um serviço mais cômodo. É o comércio que vem até nós”, diz Adolfo, produtor de protetores faciais. “Sou muito brincalhão, abraço e cumprimento todo mundo. É gostoso ver que a pessoa que me atendeu no balcão, ou outro funcionário, fazendo entrega em casa. O sentimento é maior."

A iniciativa surgiu a partir dos pedidos dos próprios clientes, conta Renato Raduan, vice-presidente de Operações da RD – RaiaDrogasil. Com o avanço da pandemia, centenas de clientes, principalmente aqueles habituais, começaram a fazer pedidos por telefone. A maioria era de idosos solicitando ajuda por causa da quarentena. A média diária de pedidos pelo telefone está entre 4 mil e 5 mil nas cerca de duas mil lojas em todo o Brasil desde março. O total de atendimentos é de 600 mil por dia, considerando todas as outras formas de atendimento. “É um número expressivo, considerando que não fizemos divulgação do serviço. Os dados superaram nossa expectativa."

O número de atendimentos atual se restringe a telefones fixos das lojas. A intenção da rede é oferecer também o serviço por mensagens de texto em celulares. Independentemente da duração da quarentena, o serviço deve continuar. “A crise estimulou um sentido de irmandade e de comunidade nas pessoas. Pessoas fazem a compra do supermercado para o vizinho e cantam 'parabéns para você' nos prédios. Fazer a farmácia voltar a cuidar da comunidade está dentro desse contexto”, diz Raduan.

Serviço vira oportunidade de bate-papo para idosos

Os funcionários contam que as entregas também se tornaram uma oportunidade para pessoas em isolamento, principalmente idosos, terem um momento de bate-papo. A conversa começa pelo telefone, na hora do pedido, e se estende no encontro pessoal. “Os idosos são os mais gratos. Agradecem muito. Até ganhei um ovo de Páscoa. A gente também se sente acolhido”, conta a atendente Jisele da Silva Dantas, de 19 anos, que atua na rua Tutoia, no Paraíso, zona sul de São Paulo. “Uma das clientes se abraçou e disse para eu sentir o abraço dela. Fiz o mesmo e disse que estava sentindo. Foi emocionante”, completa a atendente.

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Funcionários da Drogasil fazem entrega de remédios na casa dos clientes para buscar atendimento mais humanizado Foto: Tiago Queiroz / Estadão

Em alguns casos, os farmacêuticos deixam os remédios com bilhetes escritos manuscritos com mensagens de solidariedade. Os contatos respeitam as regras do distanciamento social. Muitos atendentes já tiveram de recusar abraços de agradecimento. Para fazer entregas, eles passaram por um treinamento especial e reforçam as práticas de higienização, como o uso do álcool em gel e os equipamentos de proteção individual (EPI). 

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