‘Não acho que a melhor estratégia seja reabrir hospitais de campanha’, diz especialista
Médico e sanitarista, colunista do Estadão avalia que cidades devam procurar criar vagas em hospitais já existentes
Entrevista com
Gonzalo Vecina Neto, médico
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Gonzalo Vecina Neto, médico
06 de janeiro de 2021 | 05h00
Com o novo aumento de casos da covid-19 no País, prefeitos e governadores têm retomado a aposta em hospitais de campanha. Para o médico Gonzalo Vecina Neto, não há uma resposta definitiva, mas acredita que “o importante é acompanhar a curva de ocorrência de casos que deverá ser crescente nos próximos dias por causa do relaxamento social da população'', afirma ele, colunista do Estadão e ex-secretário municipal de Saúde de São Paulo.
"Em alguns Estados já estamos vendo algo próximo ao colapso da oferta de leitos de UTI”, alertao sanitarista. Mas, acrescenta Vecina, a melhor saída para os gestores é investir na estrutura hospitalar já existente.
Começa a haver pressão para o aumento de leitos disponíveis. Não acho que seja a melhor estratégia reabrir os hospitais de campanha, de maneira geral. O que os municípios em particular deveriam fazer é estabelecer rapidamente diálogo com os governos estaduais - que têm a responsabilidade de oferecer cobertura hospitalar secundária e terciária. Muitos municípios, principalmente os de médio porte, têm estrutura hospitalar própria que, neste momento, certamente vai ser melhor usada. O mais adequado não é fazer hospitais de campanha, estruturas onerosas e temporárias, mas expandir leitos para atender pacientes com covid em hospitais já existentes, uma alternativa que se mostrou mais adequada inclusive no momento mais crítico da pandemia.
Estamos nos aproximando do número de casos que já tivemos, embora com mortalidade inferior. Mas estamos com perspectiva de uma pressão importante sobre o sistema de assistência hospitalar e a resposta que os municípios devem dar é negociar com os governos estaduais e fazer o acompanhamento da pandemia em sua região, estar preparados para ampliar o número de leitos nos hospitais já existentes, inclusive na rede privada. Não é tarefa fácil. Em algumas circunstâncias, mais raras, pode-se sim pensar em refazer hospitais de campanha, que são mais caros e temporários. A dificuldade maior para expandir leitos e oferecer estrutura de atendimento para os pacientes não é só os equipamentos, mas também os profissionais de saúde. Particularmente com médicos que tenham boa experiência em medicina intensiva e enfermeiras, bastante raras.
Não acho que foi erro desmontar os hospitais de campanha, acredito que desativar leitos de hospitais já existentes poderia ter sido de uma forma mais devagar. Porém, agora não se pode olhar para trás. Agora é tentar reativar estes leitos que foram desativados na medida que ocorrer a demanda para isso. Esta sensibilidade é que os governadores e prefeitos têm que ter a partir de agora.
Eu iria fazendo à medida que a demanda ocorresse. Pode ser que isso atrase um pouco o atendimento, mas manter um banco de profissionais que saibam onde estão os respiradores, os monitores, os leitos físicos para montar o mais rapidamente possível essa estrutura à medida que os casos voltem a crescer. É óbvio que não dá pra fazer mágica. Claro que é preferível se adiantar, mas há a questão da escassez de recursos.
Sem dúvidas isso representa um risco para os gestores. Provavelmente muitos nem chegaram a desviar verba, mas faltou comprovar que as verbas foram adequadamente usadas, então existe um lapso a ser preenchido e isso terá custo político, sem sombras de dúvida. Em alguns Estados e municípios sobrou esse ‘cheiro de corrupção’. Vamos ver como os os tribunais de Contas, órgãos de controle e auditorias irão se comportar em relação a essa evidência que resta ser comprovada.
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