07 de abril de 2020 | 14h50
Recuperado de um tratamento contra o novo coronavírus, o coordenador do Centro de Contenção para a doença no Estado de São Paulo, David Uip, se esquivou de perguntas sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina durante sua internação, e minimizou a importância de resultados no seu caso pessoal. Ele tem sido questionado sobre o uso do medicamento, que ainda não tem resultados cientificamente comprovados para o tratamento da covid-19, após ter recebido alta.
‘Não é pelo fato de eu estar de volta que não sofri, que não tive risco’, diz David Uip após covid
“Eu não me prescrevi, eu não me receitei, eu fui cuidado por médicos da minha confiança”, disse Uip, que é infectologista. “É algo absolutamente pessoal e, como eu respeito os meus pacientes, eu gostaria de ser respeitado em algo que é muito pessoal e muito particular. Não faço isso para esconder nada, mas não quero transformar o meu caso em modelo para coisa alguma."
Uip também disse que participou pessoalmente da decisão de mudar a recomendação para o uso das substâncias em tratamentos no País. O protocolo foi alterado após uma reunião na última quinta-feira, 31, com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e outros médicos.
Desde a semana passada, após chegarem a um consenso na reunião, a recomendação dos órgãos de saúde é de que a cloroquina e a hidroxicloroquina só sejam usadas após uma autorização formal do paciente, feita no momento em que ele é internado. Até então, o remédio era usado a partir do momento em pacientes, com quadros mais graves de saúde, eram entubados com respiradores.
“Nessa reunião, à distância, estava presidente do Conselho Federal de Medicina (Mauro Luiz de Britto Ribeiro), que avalizou essa decisão”, contou Uip. “Isso é absolutamente cabível dentro das leis que regem a saúde no País.”
O uso da cloroquina e da hidroxicloroquina tem sido constantemente defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), apesar de especialistas avisarem que os resultados com o uso da substância são preliminares, e que casos individuais de sucesso não são suficientes para determinar se o tratamento é seguro em escala maior.
Há casos de pacientes infectados com coronavírus que foram tratados com cloroquina e, mesmo assim, acabaram morrendo. Isso ocorreu com a primeira vítima do vírus na Bahia, um homem de 74 anos que ficou internado durante 12 dias. Os resultados de estudos que apontaram o sucesso da substância nos tratamentos têm sido questionados internacionalmente.
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