Todo mundo sabe que não existe uma sociedade sem mentira – algum grau de inverdade, nem que seja por educação, sempre nos acompanha. O problema da mentira é quando alguém busca obter vantagens enganando os outros, injustamente obtendo benefícios que não teria se dissesse a verdade. Vende algo que não é possível entregar para ficar com o dinheiro sem ter o trabalho.
É assim que operam as pseudociências. Trata-se de discursos organizados que alegam levar informações corroboradas pelo rigor do método científico, mas que, na verdade, não se submetem a esse crivo; ou simplesmente não são aceitos os resultados quando são reprovados. Fica claro que elas são uma mentira do pior tipo, pois querem obter vantagens ao se alegarem científicas – mais prestígio, mais poder de convencimento, mais lucro, mais clientes – sem, contudo, ter o trabalho (e muitas vezes pagar o preço) de comprovar suas alegações.
Não se trata de dizer que ciência é a única coisa que importa, longe disso. Um filme não é uma obra científica, e é essencial para a humanidade. Amigos jogando truco não estão fazendo ciência, mas estão desfrutando a vida. Religião, arte, amizade, entretenimento, amor – podemos arriscar dizer que o mais importante para dar sentido à vida não seja científico. E tudo bem, porque nada disso finge ser ciência.
O problema são as práticas – que proliferam especialmente na área ligada ao bem-estar – que dizem ser tratamentos ou formas de se obter resultados como se fossem testados, aprovados e garantidos, induzindo as pessoas ao erro. (Aliás, já fica a dica: desconfie de quem oferece garantia ou expectativas de resultados certos. É sabido que em qualquer prática científica nada é 100% garantido.) Ao fazer isso, elas tiram não apenas dinheiro, mas também consomem tempo e energia das pessoas, iludidas pela falsa aparência de rigor.
Existem muitas formas de se promover o bem-estar já amplamente baseadas em evidências: alimentação adequada (mais alimentos naturais, menos processados), atividade física regular (pelo menos 150 minutos por semana), higiene do sono (em geral, mais de seis e menos de dez horas de sono por noite), identificação e gerenciamento de fontes de estresse, meditação, só para ficar nas mais famosas hoje em dia. Se você investir nelas – ou pelos menos em algumas da lista –, já estará trabalhando bastante por sua saúde física e emocional. E sem correr atrás de enganos ainda aproveitará mais as outras coisas boas da vida que, por serem boas de verdade, não precisam fingir ser ciência.