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Nova droga contra a doença da falta de vontade

Por Agencia Estado
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Tristeza, desânimo, insônia, apatia, falta de alegria, de apetite, de desejo sexual ou mesmo de assistir televisão ou tomar banho, acompanhados ou não de pensamentos pessimistas e repetitivos, ataques de ansiedade com palpitações, falta de concentração, dores vagas pelo corpo ou na cabeça. São esses os sintomas comumente associados, na maioria dos casos, a um diagnóstico de depressão. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 400 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem com a doença. No Brasil, esse número chega a 14 milhões. É uma doença bastante comum, em geral tratada com antidepressivos e terapia, obtendo bons resultados. O tratamento é clássico, mas os medicamentos estão cada vez mais modernos. Nos Estados Unidos já está disponível um antidepressivo em adesivo, que libera o princípio ativo através da pele, evitando o contato com o aparelho digestivo. Um antidepressivo não melhora o humor de ninguém; ele corrige o metabolismo dos neurotransmissores no cérebro. O emplastro Emsam (ainda sem nome no Brasil), fabricado pela empresa norte-americana Somerset Pharmaceuticals, de Tampa, no Estado da Flórida, tem como princípio ativo a selegilina, um antidepressivo da classe dos Inibidores da Monoamino Oxidase (IMAO). Esse tipo de medicamento inibe essa enzima, que é responsável pela degradação da serotonina, promovendo o aumento da disponibilidade dessa substância e equilibrando o metabolismo cerebral. Segundo o médico psiquiatra Sérgio Pedro Baldessin, professor da Faculdade de Medicina do ABC, de São Paulo, os medicamentos da classe IMAO em geral são utilizados quando o paciente não responde a outros antidepressivos. "São casos muito específicos, como uma fobia social muito grave", explica. A vantagem do medicamento em forma de adesivo é que os antidepressivos IMAO, tomados por via oral, segundo o dr. Baldessin, podem causar hipertensão grave e, por vezes, fatal, quando combinadas com certos alimentos, como queijos, vinho e carnes. O problema está na presença, nesses alimentos, da tiramina, um aminoácido responsável por controlar a pressão sanguínea. No aparelho digestivo, as drogas IMAO inibem a capacidade do organismo de "quebrar" a tiramina, aumentando o nível dessa substância no corpo e, por conseqüência, a pressão sanguínea. Já com o adesivo - desde que usado em sua dose mais baixa - o paciente pode ser liberado até para comer pizza. Colocado sobre a pele, o Emsam libera a selegilina diretamente para a corrente sanguínea, evitando a passagem pelo aparelho digestivo. O adesivo age durante um período de 24 horas, devendo ser trocado diariamente. Em testes feitos com seis diferentes grupos, os resultados obtidos foram animadores: 42% das pessoas tratadas se recuperaram da depressão em seis semanas. O único efeito colateral detectado nos testes, de acordo com o fabricante, foi uma pequena reação de pele no local onde o adesivo é colocado, que pode sofrer irritação ou apresentar vermelhidão. O Emsam, aprovado pelo FDA (órgão responsável pelo controle de alimentos e medicamentos nos Estados Unidos) no último mês de fevereiro, será distribuído nos Estados Unidos e no Canadá pela indústria farmacêutica Bristol-Meyers Squibb (BMS). Segundo a BMS, não há previsão de chegada do Emsam ao Brasil. Por aqui, o antidepressivo da classe IMAO mais utilizado é o Parnate, em drágeas, produzido pela Glaxo Smith Kline, que tem como princípio ativo a tranilcipromina. O dr. Baldessin lembra, no entanto, que o medicamento em emplastro é apenas mais um recurso entre os vários existentes para o tratamento da depressão. "Não existe um medicamento ideal. A prescrição deve levar em conta as características de cada paciente, as doenças preexistentes e as condições físicas de cada um", diz. Alimentação - Mesmo nos Estados Unidos, embora seja um alívio para muitos pacientes, alguns médicos prevêem que o uso emplastro não vai se tornar comum. Isso porque, em dosagens mais altas, o uso do Emsam também exige que o paciente siga uma dieta. Segundo alguns médicos, esse alerta pode confundir pacientes e dificultar a prescrição pelos profissionais. Além disso, o uso do medicamento exige alguns cuidados, como evitar exposição ao calor, que pode aumentar a absorção da selegilina pelo usuário. Segundo o FDA, o paciente deve evitar saunas, banhos quentes, banhos de sol prolongados e a proximidade com aquecedores quando estiver fazendo uso do adesivo. E, como todos os antidepressivos, o Emsam também traz no rótulo uma advertência de possível aumento de tendência suicida em crianças e adolescentes. Por isso é imprescindível a prescrição médica para esse tipo de medicamento.

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