Nova linhagem da Ômicron, BA.2 avança no Brasil, mas testes positivos para covid seguem em queda

Subvariante tem sido apontada como uma das principais responsáveis pelo avanço de casos em países da Europa e da Ásia; no Brasil, pesquisadores ainda buscam entender se avanço da linhagem irá acarretar em alta de casos

PUBLICIDADE

Por Ítalo Lo Re
Atualização:

SÃO PAULO – A proporção de casos prováveis da linhagem BA.2 da variante Ômicron, mais transmissível, subiu de 3,8%, em relação ao total de diagnósticos positivos, para 27,2% em três semanas no Brasil, aponta levantamento do Instituto Todos pela Saúde (ITpS). Em contrapartida, a taxa de positividade dos testes para detecção do coronavírus continua em queda. O índice, que chegou a 60% no início deste ano, agora está em 4,5%. Paralelamente, a média móvel de casos caiu 26% em duas semanas no País.

A BA.2 tem sido apontada como uma das principais responsáveis pelo avanço de casos em países da Europa, como Reino Unido e Alemanha, e da Ásia – recentemente, a China decretou lockdown por conta da alta de casos. No Brasil, pesquisadores ainda buscam entender se o avanço da variante irá acarretar em alta de casos a médio prazo.

Teste de covid-19 em posto drive-thru montado em shopping em Brasília;nova linhagem da Ômicron, BA.2 avança no Brasil, mas testes positivos para covid seguem em queda Foto: Gabriela Biló/Estadão - 12/01/22

PUBLICIDADE

De acordo com os dados divulgados pelo ITpS, a BA.2 representava 3,8% dos casos de covid diagnosticados pelos laboratórios privados DB Molecular e Dasa por meio de testes moleculares, como RT-PCR, no dia 27 de fevereiro. Duas semanas depois, no dia 19 de março, a sublinhagem passou a corresponder a mais de um quarto dos diagnósticos positivos (27,2%), indicando rápido avanço.

Apesar disso, a taxa de testes positivos para covid manteve tendência de queda e chegou a 4,5% em relação ao total de diagnósticos realizados. Isso significa que, em grupos de pouco mais de 20 pessoas que realizam testes moleculares para covid, atualmente apenas uma pessoa tem resultado positivo para a doença. No auge do pico da variante Ômicron, no meio de janeiro, ao menos 12 pessoas desse mesmo contingente testariam positivo no País.

Como a circulação do vírus está hoje em um patamar mais baixo, o ITpS destacou que o número de testes realizados também teve queda, o que dialoga com a baixa de casos observada no País. Entre 13 e 19 de março, DB Molecular e Dasa realizaram 4,4 mil exames para detecção do SARS-CoV-2, sendo 192 deles positivos. Desde o início do levantamento, em 5 de dezembro de 2021, o ITpS analisou mais de 118,6 mil testes – grande parte deles em janeiro, por conta da alta demanda

Até 19 de março, o banco de dados Gisaid, que reúne informações de sequenciamento genético, apontava 131 casos de BA.2 no Brasil. Segundo o pesquisador do Instituto de Medicina Tropical da USP e coordenador de pesquisa e desenvolvimento da Dasa, José Eduardo Levi, grande parte desses diagnósticos positivos pode ter vindo do Rio de Janeiro, que tem registrado alta expressiva da linhagem da Ômicron. 

Dados compilados pela Dasa apontam que a fatia de diagnósticos positivos para covid ocupada pela BA.2 triplicou no Estado. No período de 19 de fevereiro a 5 de março, a linhagem correspondia a 10,2% dos casos de covid analisados no Rio. Entre 6 e 19 de março, o índice saltou para 30,2%. "Já se pode dizer que é uma tendência de que a BA.2 vai dominar o espaço, mas ainda com viés de queda nos casos", diz Levi. "Não é algo que deve ter o mesmo impacto do que está acontecendo na Europa."

Publicidade

O pesquisador explica que, em geral, o tempo estimado para que uma variante de preocupação faça explodir o número de casos é de cerca de 60 dias entre o primeiro diagnóstico positivo e o pico. "Nós detectamos a BA.2 no Brasil no começo de janeiro, já se passaram dois meses. Nós tivemos o período crítico da Ômicron e o carnaval, inclusive com duas semanas para ver o efeito que ele poderia ter tido, e não vimos aumento de casos acarretado pela BA.2", aponta. 

Para Rodrigo Stabeli, diretor da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em São Paulo, mesmo com os indicadores em baixa, os ciclos da pandemia são diferentes na comparação entre o Brasil e os países da Europa – o que reforça a necessidade de acompanhar a BA.2 de perto nas próximas semanas. Principalmente porque, reforça o pesquisador, a Organização Mundial da Saúde (OMS) indicou que a linhagem está sendo predominante na alta de casos em outros continentes.

"Na Europa, geralmente os casos sobem primeiro. Então, a gente já vê alguns países, principalmente aqueles que desobrigaram máscara, como Inglaterra, Alemanha e Suíça, com aumento no número de casos e positividade", destaca Stabeli. "Esse aumento pode chegar, sim, ao Brasil. É o que a gente espera (que deve ocorrer), dada a desobrigação do uso de máscaras na maioria dos Estados brasileiros", complementa.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Conforme mostrou o Estadão, o número de capitais que liberaram totalmente o uso de máscaras chegou a nove na última semana. Segundo Stabeli, como a covid-19 se trata de uma doença respiratória, a obrigatoriedade do uso do acessório de proteção deveria ser o primeiro item a ser colocado como política pública e o último a ser retirado.

Dados reunidos pelo consórcio de veículos de imprensa apontam que, nesta quarta-feira, 23, o número de novas infecções pela covid notificadas no Brasil foi de 45,5 mil, enquanto a média móvel de testes positivos na última semana é de 36,1 mil – o que representa queda de 26% na comparação com o indicador de duas semanas atrás. Ao mesmo tempo, o País notificou 294 novas mortes pela doença entre terça e quarta, deixando a média móvel de óbitos em 295 (o valor é 41% menor em relação há 14 dias antes). No total, o Brasil tem 658.067 vítimas da covid e 29.729.157 casos acumulados da doença.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.