Número de internações involuntárias no Recomeço dobra

Programa estadual levou 842 pessoas a clínicas em 2016, ante 435 em 2013, ano em que foi criado

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Por Fabiana Cambricoli
Atualização:

O número de internações involuntárias feitas na Cracolândia dobrou nos últimos três anos, segundo dados inéditos do Programa Recomeço, da Secretaria Estadual da Saúde. Procedimento feito contra a vontade do paciente, mas a pedido da família, esse tipo de hospitalização levou 842 pessoas a clínicas em 2016, ante 435 em 2013, quando o Recomeço foi iniciado.

  Foto: ARI FERREIRA | ESTADAO CONTEUDO

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Para ser realizada, a internação involuntária exige, além da autorização familiar, laudo médico atestando a necessidade do tratamento. Já nos casos de internação compulsória, o tratamento é determinado pela Justiça após parecer médico.

Apesar do crescimento das internações involuntárias, a maioria dos pacientes da Cracolândia que vai para reabilitação o faz por vontade própria. No ano passado foram 2.080 internações voluntárias. Ao longo dos quatro anos de existência do programa Recomeço, 8.904 pessoas foram internadas por vontade própria, 2.580, involuntariamente e 23, compulsoriamente.

Os números contemplam apenas as hospitalizações para desintoxicação. Além dessas, 4,3 mil pacientes foram encaminhados para comunidades terapêuticas e outros 12,2 mil seguiram para tratamento nos Centros de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (Caps-AD).

Resistência. Quando foi levado a uma unidade de saúde para ser medicado e descobriu que a família havia pedido, na verdade, sua internação, o motorista Roberto Manzano, de 30 anos, ficou agressivo. “Quis partir para cima da minha mãe”, conta ele, internado há um mês e meio em uma clínica para desintoxicação.

Usuário de drogas desde a adolescência, Manzano viu o vício se agravar nos últimos anos, quando começou a usar o chamado mesclado, mistura de crack com maconha. “Eu comecei a ver bichos, pensava muita besteira”, afirma o motorista. “Passei a ter a fixação que minha mulher estava me traindo.”

A companheira de Manzano – mãe de seus três filhos e grávida do quarto – chegou a dar um ultimato ao marido: ou ele buscava ajuda ou o casamento terminaria ali. Não adiantou. Por isso a família teve de interceder. “Cheguei aqui na clínica querendo quebrar a porta, mas agora eu agradeço porque percebi o que a droga estava fazendo comigo”, afirma ele. 

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