14 de novembro de 2019 | 15h25
A dimensão do problema impressiona: até 80% das pessoas com diabetes tipo 2 morrem em decorrência de complicações cardiovasculares1. O dado é ainda mais preocupante porque muita gente ignora a relação da doença com problemas como infarto e acidente vascular cerebral (AVC)2. De acordo com pesquisa feita pelo Datafolha em 20183, apenas 2% dos entrevistados mencionaram males cardíacos como principal causa de morte associada ao diabetes. O grande medo, revelou o levantamento, ainda é amputar algum membro ou ficar cego em razão da enfermidade4 .
“A realidade é que o diabetes é um dos maiores fatores de risco tanto para o coração quanto para o cérebro”, diz a endocrinologista Hermelinda Cordeiro Pedrosa, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). “O excesso de glicose no sangue, característico da doença pela resistência à insulina e juntamente com elevação de colesterol, leva à aterogênese ou, em outras palavras, a um endurecimento atrelado a uma inflamação das artérias”, explica a médica. “E esse processo acaba concorrendo para a formação de placas que entopem os vasos sanguíneos.”
A grande quantidade de açúcar circulando interfere ainda nas proteínas que transportam o colesterol. Com isso, a gordura se acumula, atrapalhando a passagem do sangue. A hipertensão também tem seu papel nesse roteiro. Isso porque o diabetes é marcado pela resistência à ação da insulina, hormônio responsável, entre outras funções, pelo relaxamento das artérias. Então, se falta dilatação, a pressão dentro dos vasos sobe. Tudo somado vira um estopim para abalos no coração.5
Movimento para Sobreviver
A conscientização sobre esses perigos é tão importante que sete entidades, entre elas sociedades médicas de diabetes e a de cardiologia e a Boehringer Ingelheim e Eli Lilly do Brasil se reuniram para criar o Movimento Para Sobreviver,4 com o objetivo de alertar a população sobre as ameaças fomentadas pelo diabetes e a necessidade de rever o estilo de vida para mudar esse quadro. Alimentação equilibrada e exercícios físicos regulares, claro, entram na equação, juntamente com o uso de remédios para tratar os diferentes fatores correlacionados. “Por décadas se tentou diminuir a mortalidade com medicações para controle de glicemia, do peso, da pressão e do colesterol”, diz o cardiologista José Francisco Kerr Saraiva, presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP). “Ainda assim o risco se manteve alto, sobretudo para quem já apresenta alterações cardíacas ou sofreu um infarto ou AVC.”
A classe de medicamentos dos chamados inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 (SGLT2), ou gliflozinas, descortina um novo caminho no planejamento terapêutico. “O estudo EMPA-REG OUTCOME, feito com pessoas com diabetes tipo 2 e comprometimento das artérias, mostrou que o uso da substância reduziu em 38% as mortes por doença cardiovascular”, exemplifica José Francisco Saraiva. A explicação está na capacidade do medicamento de inibir uma proteína produzida nos rins, a SGLT2, responsável por absorver parte da glicose e do sódio que são filtradas pelos rins.5 Decorrente desse bloqueio, mais glicose e sódio passam a ser eliminados na urina, reduzindo assim as taxas de glicemia, ajudando também a controlar o peso e a pressão.6 “A melhora é tão expressiva que o remédio está sendo testado na prevenção de problemas cardiovasculares inclusive em pessoas sem diabetes”, concluiu o médico.
Referências
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