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Obras em hidrelétrica criam risco de malária no Rio Madeira

Por Agencia Estado
Atualização:

A malária será inevitável entre os trabalhadores que vão erguer as usinas hidrelétricas projetadas por Furnas em consórcio com a Odebrecht em corredeiras do Rio Madeira, cujas licitações estão previstas para acontecer ainda no primeiro semestre deste ano. A construção do chamado complexo hidrelétrico do Madeira está orçada em R$ 20 bilhões. As usinas, que devem aproveitar a força das corredeiras naturais de Santo Antônio, perto de Porto Velho (RO), e Jirau, distante cerca de 150 quilômetros da capital rondoniense, tiveram seu estudo de impacto ambiental entomológico concluído no ano passado pelo Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa), coordenado pelo entomologista Wanderli Pedro, especialista em estudos de impacto ambiental, responsável pelos diagnósticos das usinas hidrelétrica de Balbina (AM) e Tucuruí (PA). Mudanças ambientais "As modificações ambientais resultantes da implantação das hidrelétricas de Santo Antônio e do Jirau poderão provocar alterações no relacionamento entre os organismos e seu ambiente, podendo ter impactos nas doenças endêmicas destacando-se, em especial, a malária", disse Tadei. "A migração de populações humanas para as áreas de empreendimentos, por razões socioeconômicas, são fatores que concorrem para o aparecimento da doença." Como o processo está em fase de licitação, não há como saber quantas pessoas seriam atingidas, mas estima-se que milhares. Obras de hidrelétricas são complexas e atraem muitos migrantes. No caso de Balbina, uma cidade de 14 mil habitantes se formou ao redor da hidrelétrica. Prevenção O Rio Madeira é de água barrenta na qual, segundo o cientista, o principal vetor da malária, o Anopheles darlingi, não se reproduz. "Mas o rio é completamente circundado por igapós onde ocorre uma decantação natural que cria a água preta, ou cristalina, onde o mosquito faz sua reprodução entre as plantas flutuantes ou sobre as águas paradas, em cima das pedras das corredeiras", explicou. "Por isso, a malária ocorre em toda a extensão do Madeira." Ao contrário das hidrelétricas de Balbina e Tucuruí, o projeto das duas novas não prevê o alagamento de grandes áreas para criar lagos, o que reduz, em tese, o impacto ambiental. Mas o cientista lembra que há exemplos clássicos de propagação de malária após intervenções na Floresta Amazônica, como a construção da Estrada Madeira-Mamoré, a exploração de borracha e petróleo, os pólos madeireiros e os garimpos. Ele acredita que ainda assim seja possível reduzir a incidência da doença caso sejam tomadas precauções antes das obras. "É impossível evitar por completo. Mas manter pontos para acompanhamento da evolução da populações de mosquitos, implementar ações rotineiras de controle, como a borrifação dentro de casa e nas áreas de contato com o vetor são essenciais", afirmou. Tela e inseticida No relatório enviado a Furnas no ano passado, o cientista enumerou várias outras medidas que devem ser tomadas. "Uma delas é dotar de telas as casas dos moradores da vila dos trabalhadores que devem se instalar na cidade, além de impregnar os mosquiteiros com inseticida." Também ampliar a rede local de diagnóstico para um atendimento rápido aos pacientes e proceder ao tratamento, em seu local de origem, sem a necessidade de deslocamentos para a procura de recursos de saúde. "Esse procedimento permite que o número de pacientes com malária decresça e, conseqüentemente, a quantidade de mosquitos infectados, ou seja, aqueles que picam pessoas já infectadas."

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