OMS diz que há 'acúmulo de evidências' da relação entre zika e microcefalia

Aumento no Brasil de casos de má-formação é 'substancial', afirma Organização Mundial da Saúde, que convocou nova reunião de emergência para reavaliar crise no dia 8, em Genebra

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Por Jamil Chade
Atualização:

GENEBRA - A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que evidências se acumulam sobre uma possível relação entre o vírus zika e casos de microcefalia. O órgão decidiu convocar uma reunião de emergência de especialistas para a próxima terça-feira, dia 8, com a possibilidade de que o alerta mundial seja incrementado para também incluir o próprio vírus.

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No dia 1.º do mês passado, a entidade declarou a microcefalia como emergência internacional. Agora, o diretor de operações da OMS para o zika, Bruce Aylward, disse que o encontro pode mudar a forma pela qual a entidade examina o caso. “Vamos olhar se a emergência continua e qual a natureza disso”, explicou Aylward. “Os especialistas vão tomar uma decisão, se mantêm as recomendações ou se o vírus zika propriamente dito será uma emergência internacional”, afirmou.

O diretor disse, porém, que ainda pode ser cedo para determinar com 100% de certeza a relação entre o vírus e a microcefalia. “Estamos vendo um acúmulo de relação causal”, afirmou. Segundo ele, o aumento dos casos no Brasil é “substancial”. No País, são 641 casos de microcefalia confirmados – 82 associados ao zika e 4.222 ainda sob investigação.

O mosquito 'Aedes aegypti' é transmissor do zika, da dengue e da chikungunya Foto: Sérgio Castro/Estadão

De acordo com Aylward, a OMS ainda não está diante de uma posição de comprovação científica da relação. “Temos visto informações do Brasil cada vez mais consistentes”, disse. “Precisaremos de mais alguns meses para uma comprovação.” Além dos dados no Brasil, a OMS monitora mulheres grávidas de outras regiões, como na Colômbia.

Enquanto as evidências se tornam cada vez mais claras, Aylward ponderou que não existem contraprovas de que outro fator seja responsável pelos casos de microcefalia. “Evidências contrárias não estão sendo registradas. Não temos visto outros fatores”, afirmou.

“Fomos procurar se existem explicações alternativas para a microcefalia. Poderia ser genético, exposição a bebida, drogas e infecções. Em cada local investigado, nada tem sido encontrado para apontar para outras causas. Só nos deixa com essa associação entre o zika e a microcefalia, mas a questão é saber até que ponto é forte essa associação”, explicou.

Divisão. O Estado apurou que não existe um consenso dentro da OMS sobre o que deve ser decidido na reunião da próxima semana. Para parte dos especialistas, ao declarar apenas a microcefalia como emergência internacional, a entidade não conseguiu mobilizar governos no combate ao zika. Uma mudança na classificação, portanto, obrigaria dezenas de países a assumir novos compromissos.

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Para um outro grupo de especialistas da OMS, a entidade pode estar se arriscando, criando um alerta sobre um vírus que, para a maioria da população, tem um impacto pequeno.

O que está praticamente certo é que não haverá uma recomendação contrária à ida de turistas para o Brasil.

Segundo Aylward, os riscos para os Jogos Olímpicos do Rio são “muito baixos”. “O evento vai acontecer no inverno, quando a transmissão já não é elevada nem da dengue. A densidade da população de mosquito é também mais baixa”, afirmou. “Com isso, as chances de zika também caem de forma importante. Os Jogos Olímpicos serão seguros”, disse Aylward.

Disseminação. O diretor da OMS, porém, admitiu que o número de casos e de países afetados pelo zika deve aumentar. “Estamos no começo da alta estação de transmissão no Hemisfério Sul”, explicou Aylward.

Informe da OMS sobre o vírus e a microcefalia divulgado ontem também alertou para a expansão do contágio. “O zika vai provavelmente ser transmitido e detectado em outros países dentro da área geográfica de mosquitos, especialmente do Aedes aegypti.”

Desde 2007, segundo o informe, o vírus já foi registrado em 52 países – apenas no atual surto, pelo menos 41 territórios foram afetados.

“A distribuição geográfica do vírus tem se ampliado desde que foi detectado nas Américas, em 2015”, afirmou o documento. Só no continente americano foram 31 países com casos desde o ano passado. Dos 41 países da crise atual, cinco deles já registraram o fim do surto.

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Sobre microcefalia, a OMS apresentou dados brasileiros e informou que, entre 22 de outubro e 27 de fevereiro, foram 139 mortes de crianças com microcefalia. Desse total, 31 tiveram relação com a má-formação potencialmente causada pelo vírus – 96 casos estão sob investigação e 12 foram descartados.

Para a OMS, a “prova” da relação entre o vírus e a microcefalia “ainda não existe”, mas já declara que há “forte possibilidade” de associação.

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