A diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, negou, em declaração pública, as acusações de que a entidade exagerou na gravidade do vírus A(H1N1), o que permitiu as farmacêuticas alcançarem grandes lucros.
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"A decisão de elevar o nível de alerta pandêmico (à fase mais alta) foi baseado em critérios epidemiológicos claramente definidos", afirmou a responsável pelo organismo.
Esta declaração é uma reação a um extenso artigo publicado pela revista científica British Medical Journal (BMJ), que enumera fatos colocando em dúvida a imparcialidade das decisões da OMS com relação à pandemia da gripe A.
Na próxima sexta-feira faz um ano da declaração da pandemia, quando os sistemas de saúde de todo o mundo entraram em alerta máximo e adotaram medidas excepcionais para enfrentar a propagação do vírus.
Na semana passada, Chan decidiu manter o estado de pandemia e determinou a revisão até o próximo mês, após receber uma recomendação nesse sentido do comitê de emergência da OMS, composto por cientistas que avaliam periodicamente o assunto.
Segundo a BMJ, alguns especialistas que participaram das decisões da OMS diante da gripe pandêmica receberam remunerações da indústria farmacêutica, concretamente da Roche e GlaxoSmithKline, fabricantes de remédios e vacinas contra a infecção.
O artigo do BMJ foi publicado em coordenação com outro na mesma linha produzido pelo escritório de jornalismo de investigação de Londres, que acusa à OMS de "falta de transparência" na gestão da crise.
Em resposta aos editores do BMJ, Chan afirma que "o bom jornalismo de investigação expõe problemas e suas consequências".
"Potenciais conflitos de interesse são inerentes a qualquer relação entre uma norma, uma agência de regulação, como a OMS, e uma indústria regida pela rentabilidade".
Acrescenta que por isso a "OMS precisa estabelecer e fazer cumprir as regras mais estritas com relação às normas de trabalhocom a indústria, e assim estamos fazendo".
A diretora-geral do organismo esclarece que "em nenhum momento, nem por um segundo, interesses comerciais interferiram nas suas decisões".
Com relação à acusação de que entidade sanitária gerou o pânico injustificado, Chan lembra que - em cada avaliação da pandemia - a entidade informou ao público que a maioria dos pacientes apresentava sintomas leves e a recuperação era rápida, sem a necessidade de tratamento médico.
A responsável da OMS também nega que a decisão de manter em sigilo a identidade dos membros do comitê de emergência, que exerce de autoridade científica no tema da pandemia, teve o objetivo de "encobrir suas deliberações e decisões".
"Seus nomes serão publicados quando o comitê terminar o trabalho (ou seja, quando a declaração de pandemia for levantada)", afirma.
Às críticas à OMS se somou a da comissão de saúde do parlamento do conselho da Europa, que acusa à instituição de ter supervalorizado a gravidade da gripe e critica a rapidez da declaração de pandemia.
Este relatório será submetido ao plenário do órgão parlamentar em 24 de junho.