07 de julho de 2021 | 15h43
Atualizado 07 de julho de 2021 | 20h02
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou na terça-feira, 6, o uso no tratamento para a covid-19 de dois medicamentos para artrite reumatoide: Actemra (tocilizumabe), da Roche, e Kevzara (sarilumabe), da Sanofi. Utilizados individualmente e combinados com corticoides, ambos podem ajudar na redução de mortes de pacientes de covid-19 em quadro grave ou crítico. A recomendação da OMS se dá após análise de dados de cerca de 11 mil pacientes.
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O estudo foi publicado na revista científica Journal of the American Medical Association (JAMA). Avaliando terapias, um grupo da OMS concluiu que o tratamento pacientes de covid com os chamados bloqueadores de interleucina-6 "reduz o risco de morte e a necessidade de ventilação mecânica."
De acordo com a análise da OMS, o risco de morrer em 28 dias para pacientes recebendo um dos medicamentos para artrite com corticoides, como a dexametasona, é de 21%. Para aqueles que receberam tratamento padrão, o risco é de 25%. Isso significa que, a cada 100 pacientes, mais quatro sobrevivem, diz a OMS.
Além disso, o risco de progredir para ventilação mecânica ou a morte foi de 26% para aqueles que tomaram um dos remédios para artrite combinado a corticoides, em comparação com 33% daqueles que recebem o cuidado padrão. Ou seja, a cada 100 pacientes, sete mais sobrevivem sem ventilação mecânica.
"Atualizamos nossa orientação de tratamento de cuidados clínicos para refletir este desenvolvimento mais recente”, disse a autoridade de Emergências de Saúde da OMS Janet Diaz.
A análise cobriu 10.930 pacientes, dos quais 6.449 receberam um dos remédios e 4.481 receberam tratamento padrão ou um placebo. Os estudos foram realizados nos seguintes locais: King's College London, University of Bristol, University College London e Guy's and St Thomas' NHS Foundation Trust.
Os testes de Actemra e Kevzara para pacientes covid-19 envolveu tentativa e erro, pois várias falhas surgiram conforme as empresas testaram os medicamentos em diferentes grupos de pacientes.
A OMS pediu mais a ser feito para aumentar o acesso a tais medicamentos nos países de renda mais baixa, principalmente os que agora enfrentam aumento de casos de covid-19 e assistem ao avanço de variantes da SARS-CoV-2, juntamente com a falta de suprimentos para vacinas. “Essas são as pessoas que esses medicamentos precisam alcançar”, disse Diaz.
A Food and Drug Administration (FDA), agência federal dos Estados Unidos, emitiu na semana passada a aprovação de uso emergencial para utilização da Actemra em pacientes de covid-19. As vendas de Kevzara aumentaram 30% no ano passado, informou a Sanofi.
Em nota, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que, até o momento, há três medicamentos aprovados para tratamento de covid-19 no Brasil: o remdesivir, que teve o registro concedido pela agência em março, e duas associações de anticorpos monoclonais: casirivimabe + imdevimabe, cuja autorização para uso emergencial foi concedida em abril; e banlanivimabe + etesevimabe, que tiveram o uso emergencial autorizado em maio. Por ora, o tocilizumabe e o sarilumabe apenas receberam autorizações para realização de ensaios clínicos no Brasil.
A Roche Brasil informou ao Estadão que está acompanhando o processo de perto e estudando a viabilidade de submeter a análise do Actemra à Anvisa para a indicação em tratamentos de covid-19. Atualmente, o remédio está aprovado no País para os tratamentos de artrite reumatoide, artrite idiopática juvenil sistêmica, artrite idiopática juvenil poliarticular e arterite de células gigantes.
“É importante ressaltar que a Roche atende integralmente a legislação brasileira e não realiza, nem apoia nenhuma ação de promoção do uso de Actemra (tocilizumabe) para indicações não aprovadas em texto de bula no País”, disse.
A empresa reforçou que, em 23 de dezembro de 2020, comunicou a Anvisa sobre o aumento de demanda e a consequente possível falta das apresentações de 80 mg IV e 200 mg IV de Actemra no mercado brasileiro. Em 31 de março de 2021, a empresa efetuou uma nova notificação à Agência, alertando também sobre a escassez da apresentação subcutânea de tocilizumabe (162 mg).
Segundo a Roche, o cenário está relacionado às circunstâncias de grande aumento no consumo do medicamento, mas não há descontinuação de importação ou redução na quantidade importada de tocilizumabe para o Brasil. “A empresa permanece comprometida em assegurar o tratamento dos pacientes que necessitam de Actemra (tocilizumabe) e está trabalhando com alta prioridade para regularizar o abastecimento do mercado”, disse.
Procurada pelo Estadão, a Sanofi informou que o medicamento Kevzara não está registrado no Brasil e nem é comercializado no País. A empresa reiterou ainda que, como o estudo realizado pela OMS é independente, a Sanofi emitirá um posicionamento a respeito desse tema em breve. A Sanofi ainda não solicitou pedido de uso emergencial do medicamento à Anvisa e, por enquanto, não há previsão de quando isso pode acontecer. /COLABOROU ÍTALO LO RE
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