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OMS recomenda que grávidas não viajem a áreas afetadas por zika

Entidade, porém, racha e não chega a consenso sobre vírus e mantém como alerta internacional só microcefalia e Guillain-Barré

Por Jamil Chade
Atualização:

GENEBRA - De forma inédita e apontando a proliferação “alarmante” da zika, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou nesta terça-feira, 8, a grávidas que não viajem para zonas afetadas pelo surto e disse que a transmissão do vírus por relações sexuais é “mais comum do que o estimado anteriormente”. Já os serviços de saúde devem estar preparados para um potencial aumento de síndromes neurológicas e de más-formações. 

Segundo a OMS, outro dado preocupante é que 31 países latino-americanos têm transmissões locais de zika. “E veremos mais casos e em mais regiões.” A entidade ainda apelou a governos para que informem as mulheres dos locais com epidemia, para que possam tomar uma decisão se devem ou não engravidar e diz que adiar esses planos “faz todo o sentido”. Campanhas de informação devem ser lançadas e grávidas expostas ao zika precisam ser monitoradas. 

O mosquito 'Aedes aegypti' é transmissor do zika, da dengue e da chikungunya Foto: Luis Robayo/AFP

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Depois de mais de quatro horas de uma reunião de emergência, a entidade incrementou as medidas de controle e, pela primeira vez, admitiu “a possível ligação entre o zika e doenças neurológicas e má-formação”. Um racha entre os cientistas, porém, evitou que a OMS declarasse o vírus como emergência, mantendo por enquanto apenas a microcefalia e a síndrome de Guillain-Barré como foco do alerta, lançado em fevereiro. 

Alarme. A OMS decidiu que não poderia mais esperar. “As mulheres estão muito preocupadas e não podemos ficar aguardando respostas”, disse Margaret Chan, diretora-geral da entidade. “Claramente, quem engravidar nesse locais (de epidemia) pode ter um resultado muito ruim.” De uma forma geral, não há restrição de viagens a locais com zika. “Mas mulheres grávidas devem ser aconselhadas a não viajar.”

Além disso, a entidade constatou que a transmissão sexual pode ser mais frequente. Para a OMS, existem relatos em pelo menos quatro países. São oito casos confirmados, mas há dezenas de suspeitos. “Os modos de transmissão agora incluem relações sexuais e picadas de mosquitos. Tudo isso é alarmante”, insistiu Margaret.

Por isso, os cientistas pedem que “grávidas, cujos parceiros sexuais vivam ou tenham viajado para áreas com zika, devem garantir práticas sexuais seguras ou se abster de sexo pela duração da gravidez”. “As mulheres precisam ser informadas do risco e a contracepção voluntária é algo que deve ser considerado”, disse a diretora-geral.

Para ela, os problemas vão muito além da microcefalia. “Essa é agora apenas uma das anomalias associadas ao zika durante a gravidez. Resultados graves incluem morte do feto, insuficiência da placenta, retardo de crescimento fetal e danos no sistema nervoso central. Evidências apontam que o vírus pode atravessar a placenta e infectar o feto, atingindo os tecidos do cérebro”, afirmou Margaret Chan.

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A diretora ressaltou que nas últimas semanas muitas pesquisas vêm fortalecendo a provável associação, mas não há uma “prova final” da relação entre o zika e os fenômenos neurológicos. “Mas o que vemos hoje no Brasil pode ocorrer amanhã na Colômbia e isso é alarmante”, disse David Heymann, cientista que presidiu a reunião.

Falta de verba freia ações, afirma órgão

Entre as mais de 50 novas recomendações apresentadas nesta terça, uma parte significativa se refere ao desenvolvimento de pesquisas e novos produtos. Mas a OMS adiantou não ter dinheiro para esses projetos. 

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Há um mês, a entidade fez um apelo de emergência por US$ 56 milhões para liderar um projeto mundial em busca de respostas, vacinas e diagnósticos. “Recebemos apenas US$ 3 milhões (5% do valor)”, declarou a diretora-geral Margaret Chan ao Estado. “Precisamos de mais e estamos fazendo um apelo aos governos. É fácil dizer que vamos fazer isso ou aquilo. Mas precisamos de financiamento”, insistiu. 

Entre as recomendações, a OMS pede que se intensifiquem as pesquisas, até em nível histórico, sobre zika, microcefalia e Guillain-Barré. Ainda solicita que seja dada prioridade para a criação de novos diagnósticos, especialmente para grávidas, uma vez que só se vislumbra uma vacina para a zika a médio prazo.