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OMS reconhece formalmente risco de transmissão do novo coronavírus pelo ar

Organização altera lista dos principais meios de contágio da doença. Com isso, máscaras passam a ser recomendadas para ambientes fechados

Por Érika Motoda
Atualização:

Após pressão de pesquisadores, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou nesta quinta-feira, 9, informe científico em que passa a considerar o risco de transmissão do novo coronavírus pelo ar. Com isso, máscaras passam a ser recomendadas também para ambientes fechados. Nesta semana, 239 cientistas de 32 países endereçaram uma carta à entidade afirmando que há evidências de que haja esse tipo de contágio - o que influencia no desenho de protocolos de abertura de espaços como restaurantes, igrejas, cinemas, faculdades e academias. 

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus Foto: EFE/EPA/SALVATORE DI NOLFI

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Segundo o protocolo atualizado da OMS, “alguns procedimentos médicos podem produzir gotículas muito pequenas (chamadas núcleos de aerossolizadas ou aerossóis) que são capazes de permanecer suspensas no ar por longos períodos de tempo”. Ainda conforme a entidade, os aerossóis com vírus “podem ser inalados por outras pessoas se não estiverem com equipamento de proteção individual apropriado”. 

A OMS ainda citou relatos de surtos relacionados a ambientes fechados, como restaurantes, locais de culto ou de ginástica, e a transmissão aérea em espaços lotados não pode ser descartada. Advertiu, porém, sobre a “urgência” de mais investigação científica sobre o tema. 

Antes, a organização vinha argumentando que o novo coronavírus se espalha principalmente pelas grandes gotículas respiratórias que, uma vez expelidas por pessoas infectadas em tosses e espirros, caem rapidamente no chão. Para a transmissão aérea, a OMS alegava ausência de evidências convincentes. 

Ao tossir ou espirrar, o infectado espalha gotículas de 5 a 10 micrômetros. Geralmente, essas gotículas caem no chão ou em superfícies a cerca de dois metros de distância. Já partículas menores ainda, abaixo de 5 micrômetros, podem ficar suspensas no ar durante horas e “voar” dezenas de metros. Nesse período, podem infectar quem estiver por perto. 

É o que ocorreu em um restaurante em Guangzhou, na China, onde três famílias comemoraram o Ano Novo Chinês em 24 de janeiro, segundo estudo liderado pela Universidade de Hong Kong. Os grupos se sentaram em três mesas alinhadas, a uma distância considerada apropriada pelos protocolos sanitários, mas em um salão com pouca ventilação. Como uma delas já estava contaminada, acredita-se que o ar-condicionado tenha carregado o vírus para as outras, que testaram positivo dias depois. Outros clientes, fora da mesma “linha” de ar, não foram infectados; os garçons também não. 

“Sempre se soube que vírus se transmitem pelo ar. A distância de 1,5 metro é apropriada para gotículas muito grossas. Mas o vírus tem tamanho que permite com que voe em partículas. O tempo de residência de um aerossol de 1 ou 2,5 micrômetros, em ambiente fechado, é de 3 a 4 horas”, explica Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e um dos cientistas que assinam a carta à OMS. 

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“Em um ambiente hospitalar, ninguém tem dúvidas de que o coronavírus se transmite pelo aerossol fino. Por isso que usa-se uma máscara diferente, a N95, com maior capacidade de filtragem. Tem que usar máscara, mas em um restaurante, por exemplo, a pessoa não come através da máscara”, afirma.

Para ele e os 238 colegas, medidas como lavar as mãos e não entrar em contato com fluidos de infectados são adequadas, mas não suficientes. A carta foi idealizada por Lidia Morawska e Donald Milton, das Universidades de Tecnologia de Queensland (Austrália) e de Maryland (EUA), respectivamente, no momento em que Brasil e mais países reabrem a economia.

Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA, disse ontem que ainda não há evidências sobre a transmissão aérea, mas que é “razoável” presumir que ela ocorra. Só um pequeno número de doenças tem a transmissão é atribuída ao espalhamento via aerossóis ou pequenas partículas flutuantes, como sarampo e a tuberculose. 

Ventilação. “Distanciamento é importante, mas nada garante que se um doente entrar lá não vai transmitir o vírus. Se tivesse ventilação no ar, a chance de ter o aerossol em suspensão é muito menor”, diz Saldiva. “Medidas simples, como abrir a janela ou um sistema de exaustão, ajudam muito na dispersão do vírus com a circulação do ar. No comércio, você vê loja com meia porta fechada e uma portinha com barricada dentro. O ideal é colocar a barricada e levantar totalmente a porta.” /COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Confira a seguir alguns dos protocolos atualizados sobre as principais formas de contágio da covid-19.

Contato

As evidências sugerem que o vírus se espalha entre as pessoas através de contato direto, indireto (através de superfícies ou objetos contaminados) ou contato próximo com infectados. Mesas, maçanetas e corrimãos também são vetores de transmissão.

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Secreções

Infectados podem transmitir o vírus por secreções de boca e nariz, liberadas quando alguém infectado tosse, espirra, fala ou canta. As gotículas infecciosas podem entrar por boca, nariz ou olhos. Para evitar o contato com essas gotículas, é importante manter-se a pelo menos 1 metro de distância das outras pessoas, lavar as mãos com freqüência e cobrir a boca com um lenço de papel ou cotovelo dobrado ao espirrar ou tossir.

Aerosol

Alguns procedimentos médicos podem produzir gotículas muito pequenas (chamadas núcleos de aerossolizadas ou aerossóis) que são capazes de permanecer suspensas no ar por longos períodos de tempo. Quando tais procedimentos médicos são realizados em pessoas infectadas em unidades de saúde, esses aerossóis podem conter o vírus . Esses aerossóis podem ser inalados por outras pessoas se eles não estiverem usando equipamento de proteção individual apropriado.

Transmissão de pessoa para pessoa

A OMS informa que a transmissão ocorre principalmente nas pessoas quando apresentam sintomas, e também pode ocorrer imediatamente antes do desenvolvimento dos sintomas, quando ficam próximas a outras pessoas por períodos prolongados. Embora alguém que nunca desenvolva sintomas também possa transmitir o vírus a outras pessoas, ainda não está claro até que ponto isso ocorre e são necessárias mais pesquisas nessa área.

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