ONGs se mobilizam para ajudar favelas no Rio a combater covid-19

Comunidades no Estado totalizam ao menos sete mortes pelo novo coronavírus

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Por Roberta Jansen
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RIO - Eliana Sousa Silva está à frente da campanha A Maré diz Não ao Coronavírus, cujo objetivo é distribuir cestas básicas e produtos de higiene a pelo menos seis mil famílias que vivem no complexo de favelas, na zona norte do Rio. Depois de três semanas vivendo sob medidas de restrição por causa da epidemia da covid-19, já falta comida na mesa de muitos moradores das comunidades mais pobres do Rio e produtos básicos para higiene pessoal. Pelo menos sete mortes por covid-19 já foram registradas em cinco favelas cariocas: Rocinha (2), Vigário Geral (2), Maré (1), Manguinhos (1) e Cidade de Deus (1). Autoridades sanitárias temem uma rápida disseminação da doença e um elevado número de mortes nas comunidades devido à alta densidade populacional e à falta de saneamento básico. Os primeiros a correr em apoio aos moradores das comunidades mais pobres foram justamente as ONGs, como a Redes da Maré, fundações e lideranças comunitárias. Somente no Rio, são pelo menos quinze movimentos grandes para a distribuição de comida e produtos de higiene pessoal e limpeza em comunidades.

Complexo da Maré, na zona norte do Rio. Foto: Marcos Arcoverde/Estadão

Além das condições precárias das moradias e, muitas vezes, da falta de água, a maioria dos moradores das comunidades é formada por trabalhadores informais. Eles não têm como se manter em isolamento sem sair de casa todos os dias para trabalhar, sob o risco de não ter o que comer. “E muito difícil cumprir os protocolos de isolamento, distanciamento social, uso de álcool gel nas comunidades”, pondera Eliana , falando sobre a Maré. “São 140 mil pessoas vivendo numa área de 4,5 quilômetros quadrados, há uma dificuldade real de fazer esse distanciamento acontecer. Seria preciso uma estratégia de prevenção diferente para não haver uma contaminação em massa.” Mas o governo do Estado e a prefeitura também lançaram ações emergenciais voltadas para as áreas mais carentes. Desde a última quinta-feira, a Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb) já realizou ações de higienização em mais de 50 comunidades. “As operações de higienização nas comunidades vão permanecer durante o período que for necessário para minimizar os riscos de contaminação por contato pelo novo coronavírus”, explicou o presidente da Comlurb, Paulo Mangueira. “Vamos avaliar a cada dia onde os serviços devem ser intensificados, avaliando a frequência de acordo com o fluxo de moradores.” Para tentar minimizar a questão da falta de água em algumas comunidades – foram mais de 500 queixas de desabastecimento nas últimas semanas –, a Cedae informou que atua em operações de atendimento à população com 450 funcionários nas ruas, 250 deles nas comunidades. Segundo a empresa, há 40 novos caminhões-pipa somente para atender a essas áreas, além da instalação de caixas d'água em áreas de ocupação irregular. A Secretaria de Assistência Social reservou  mil quartos de hotéis para abrigar idosos e outras pessoas em condições mais vulneráveis que não tenham condições de se manter em isolamento nas comunidades. Até agora, no entanto, apenas 43 quartos foram ocupados.