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Pandemia da covid-19 completa seis meses no Brasil e deixa lições

Números ainda são muito altos e nenhuma vacina ou tratamento específico contra o novo coronavírus foi descoberto

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Por Roberta Jansen
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O carnaval mal tinha terminado oficialmente quando o Brasil registrou o primeiro caso de covid-19 - pouco menos de 60 dias depois da detecção do vírus no interior da China. Nesta terça-feira, a epidemia completa seis meses em território nacional.

De acordo com o Ministério da Saúde, em 13 de agosto, a doença estava presente em 98,4% dos municípios. São 3,6 milhões de casos confirmados e mais de 115 mil mortes, o que nos coloca na posição de segundo país mais afetado do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. "Uma nova epidemia virá em algum momento", sustenta Roberto Medronho, especialista em saúde pública e professor de epidemiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Não é uma questão de 'se', mas de 'quando' um novo vírus surgirá ou um vírus já conhecido ressurgirá." Os números ainda são muito altos, e nenhuma vacina ou tratamento específico contra o novo coronavírus foi descoberto, a despeito dos esforços científicos sem precedentes. Mesmoassim, especialistas brasileiros dizem que aprendemos lições importantes nos últimos meses. Sobre a doença especificamente e também sobre a humanidade de uma maneira mais geral.

Um coveiro caminha no cemitério Parque Taruma em Manaus. Foto: REUTERS / Bruno Kelly

Listamos abaixo seis delas, que devem nos acompanhar mesmo depois da pandemia.A COMPREENSÃO DA DOENÇA Inicialmente considerada uma doença pulmonar, a covid-19 se revelou uma doença sistêmica, que ataca diversos órgãos e funções do corpo. "Houve uma curva de aprendizado muito intensa", atesta a pneumologista Margareth Dalcolmo, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz. A necessidade de combater a inflamação generalizada, a atenção especial aos eventos circulatórios, a garantia da boa oxigenação do paciente são algumas das práticas que já se tornaram norma no atendimento à covid. Nenhum remédio específico se revelou eficaz contra o vírus, mas vários medicamentos estão sendo usados para tratar os sintomas, como corticoides, anticoagulantes e terapia com plasma convalescente. O preparo da equipe médica também é crucial.

Pessoas com máscaras esperam para pegar um ônibus de transporte público em São Paulo. Foto: EFE / Sebastião O Moreira

"Os melhores resultados não estão associados a novas medicações ou terapias, mas ao preparo da equipe e ao treinamento", afirma o infectologista Fernando Bozza, do Instituto Nacional de Infectologia da Fiocruz. "As boas práticas com os pacientes graves salvam vidas, não as tentativas esdrúxulas de uso de terapias sem evidências científicas."

Paraisópolis tem centros de apoio para pacientes com coronavírus Foto: Tiago Queiroz/Estadão
O esforço para rapidamente sequenciar o genoma do coronavírus identificado em um brasileiro foi liderado por um grupo de pesquisa composto em sua maioria por mulheres. Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO
Mais da metade dos Estados aderiu ao uso de ferramentas de geolocalização criadas pelas operadoras de telefonia ou por startups de tecnologia para enfrentar a pandemia do novo coronavírus. Foto: Nilton Fukuda/Estadão

A HERANÇA PARA A HUMANIDADE "A gente aprendeu muita coisa", diz Margareth Dalcolmo. "Toda uma geração que nunca tinha vivenciado algo semelhante (a última grande pandemia foi a da gripe espanhola de 1918) pode entender de fato o que é uma pandemia de uma doença transmissível. É assustador. É um evento que certamente vai modificar a qualidade de vida no planeta, para o bem ou para o mal." Claudio Ferrari destaca a importância da globalização na pandemia. "Num mundo cada vez mais globalizado, as doenças se tornam universais; as comunidades operam como grandes organismos: adoecemos juntos e nos recuperamos juntos", diz. "Outra lição importante é que é mais fácil matar o mosquito do que fazer as pessoas usarem máscaras e lavarem as mãos; as mudanças de hábitos seguem como o grande desafio para a saúde no século XXI."

Autoridades públicas na Espanha desinfetam locais em Valladolid Foto: EFE/NACHO GALLEGO

A CERTEZA DA PRÓXIMA EPIDEMIA "Estava previsto por várias pessoas que haveria uma pandemia de doença respiratória; até o Bill Gates, num Ted Talks, falou sobre isso", lembra Fernando Bozza. "Mas embora os governos soubessem disso, poucos países se prepararam, a maior parte foi surpreendido, mesmo aqueles que tinham algum plano. E os países hoje que têm o maior número de casos e mortes, Estados Unidos e Brasil, são os que negaram a epidemia, demoraram para dar uma resposta e não tiveram uma resposta coordenada." Roberto Medronho afirma que uma nova epidemia virá em algum momento. "Não é uma questão de 'se', mas de 'quando' um novo vírus surgirá ou um vírus já conhecido ressurgirá." Para os especialistas, é preciso que haja uma política nacional estruturada para enfrentar o problema. "A epidemia gerou a maior queda do PIB global desde que o PIB global é aferido", constata Fernando Bozza. "Ou seja, o custo da pandemia é muito maior do que qualquer medida de prevenção ou mitigação que tivesse sido tomada."

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