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Pandemia no Brasil piora, mas só 1/3 cumpre isolamento; especialistas recomendam 70%

Brasil supera marca de duas mil mortes diárias pela covid-19; SP espera reduzir em quatro milhões o total de pessoas em circulação nas ruas com medidas restritivas

Por Paula Felix , Roberta Paraense e Fábio Bispo
Atualização:

SÃO PAULO, BELÉM E FLORIANÓPOLIS - Apesar do aumento de casos de covid-19, pressão nos hospitais e Estados anunciando medidas restritivas, os índices de isolamento social no Brasil ainda estão distantes dos 70% preconizados por especialistas para frear a disseminação do vírus. Segundo dados do Monitor Estadão/Inloco o índice no País estava em 34,4% nessa terça-feira, 15.  O Ceará registra o índice mais alto de isolamento, com 43%. No fim do ranking, estão Espírito Santo (31,2%), Mato Grosso do Sul (31%) e Santa Catarina (30,3%). São Paulo teve taxa de 33,5%. Na quarta-feira, 17, a média móvel de óbitos pela doença no País ultrapassou a marca de dois mil pela 1ª vez. 

No Estado de São Paulo, o índice também é monitorado pelo Sistema de Monitoramento Inteligente de São Paulo (SIMI-SP), que nesta terça apontou 44% de isolamento. A diferença está na metodologia. Enquanto os dados oficiais são baseados em sinais capturados pelas antenas de operadoras de telefonia, os analisados pelo Monitor Estadão/Inloco partem de informações obtidas diretamente de sensores presentes nos sinais de GPS e Wi-Fi de aparelhos celulares – um modelo reconhecido por entidades em computação, como a Conference on Economics and Computation e o Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), nos Estados Unidos.

Estado de São Paulo teve registro de aglomeração em praias, festas clandestinas e áreas comerciais nas últimas semanas Foto: Werther Santana/Estadão

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Em abril e maio do ano passado, quando os dados do SIMI-SP flutuavam entre pouco mais de 45% e menos de 60%, o governo do Estado enfatizava a importância de atingir os 70% de isolamento. Agora, por mais que a medida seja recomendada, a gestão estadual não trabalha com um índice como meta, de acordo com a secretária de Estado de Desenvolvimento Econômico, Patricia Ellen.

Ela diz que as medidas da fase emergencial devem reduzir a circulação de pessoas e, consequentemente, a transmissão do vírus. “Fizemos uma estimativa e, com as mudanças do teletrabalho, vamos ter redução de até 4 milhões de pessoas circulando e melhora do isolamento.” Patricia ressalta também que a população precisa colaborar e entender que a restrição de circulação tem como objetivo evitar o colapso nos hospitais e salvar vidas.

Para o infectologista Julio Croda, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que também é professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e da Escola de Saúde Pública de Yale, apenas com uma taxa de isolamento na casa dos 70% é possível reduzir o número de casos e conter a grave situação dos hospitais. 

“Fase emergencial ainda não é lockdown. Nunca chegamos a um nível de 70% de isolamento e, para evitar a transmissão rápida, só acima de 70%.” Croda explica que duas semanas de lockdown seriam suficientes para alcançar este resultado. “Só acima de 60% que tem a taxa de contágio abaixo de 1 com queda lenta e progressiva. Com 50%, não tem aceleração, mas não tem redução. É estabilidade com platô elevado.

Apesar de ordem de fechamento, Belém tem aglomeração do entorno de mercado

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 No terceiro dia de lockdown em cinco municípios da região metropolitana do Pará, o movimento nas ruas era menos intenso do que em dias normais, mas ainda sim era possível ver muitas pessoas circulando nos locais públicos. Consumidores e trabalhadores se aglomeravam no entorno do mercado do Ver-o-Peso, em Belém. Já nas Avenidas Nazaré e José Malcher, duas das mais movimentadas do centro, por volta das 11h30, a movimentação de veículos estava tranquila, sem engarrafamentos, como é comum em dias sem restrições.

Objetivo do Plano São Paulo é evitar aglomerações e o avanço da covid Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A partir dessa quarta, quem for flagrado nas ruas sem um motivo elencado nas atividades essenciais do decreto estadual publicado na segunda-feira fica passível de multa de R$ 150. Até terça, a fiscalização era de cunho educativo. Agora, barreiras com agentes da segurança pública foram montadas nos principais corredores de cinco cidades para tentar coibir a circulação indevida.

“Estamos retornando com a divulgação desses dados e, no primeiro dia da publicação, já em vigor o lockdown, nós tivemos o Pará como o segundo melhor isolamento social do Brasil e Belém como o melhor isolamento entre as capitais do País. Claro que ainda precisamos melhorar, ainda é muito aquém do que é desejado pelos órgãos de saúde, mas reflete justamente o efeito do lockdown”, explicou o secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Pará, Ualame Machado.

Durante o bloqueio total das atividades, a maior dificuldade do belenense é manter o distanciamento social dentro do transporte público. Os trabalhadores precisam ficar espremidos dentro dos coletivos, para ir e voltar para casa. “É impossível não pegar o vírus dentro de um ônibus lotado. Tem pessoas que vêm na porta, penduradas. Com o calor, tiram a máscara para enxugar o suor”, lamenta a babá Antônia Silva, de 42 anos.

Comércio cobra ajuda em Santa Catarina

Em Santa Catarina, desde terça-feira, 16, os estabelecimentos comerciais não podem mais abrir entre 18h e 6h. O setor do comércio foi um dos que resistiram à adoção de medidas mais rígidas e cobrou que os fechamentos venham acompanhados de outras medidas. “Entendemos a necessidade das restrições, mas nenhuma ação será efetiva se não ocorrer vacinação e testagem em massa e, principalmente, fiscalização nas aglomerações como temos visto todos os dias”, declarou Marcos Brinhosa, presidente da Câmara de Dirigentes e Lojistas de Florianópolis.

A infectologista Carolina Cipriani Ponzi avalia que o aumento de infecções, além de levar o sistema de saúde ao colapso, contribui para aumento de mortes e as chances de o Sul do País dar origem a novas variantes do vírus. “Quanto mais os vírus se replicam, maiores são as chances de sofrer mutações. Se deixarmos o vírus se espalhar solto por aí estaremos permitindo que tenhamos uma nova variante brasileira além da P1 (cepa identificada originalmente em Manaus, que estudos já mostraram ser mais transmissível)”.

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Carolina explica que por isso há a necessidade de se ampliar o distanciamento social e evitar número elevado de pessoas com o vírus ativo circulando. “Paradoxalmente, por mais que esteja na mídia todos os dias que há taxa elevada de transmissão e colapso no sistema de saúde, a gente ainda vê pessoas sem máscara na rua, ou usando no queixo, fazendo chá de bebê, festas de casamento. Se todo mundo fizesse a sua parte de distanciamento social, não seria necessária medida tão drástica como lockdown”, afirmou.

Correções

Diferentemente do que publicamos originalmente, Ceará figura como o Estado com maior índice de isolamento. Pará fica em segundo lugar. 

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