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Para cada mal, uma narrativa

Criada em universidade americana, a narração na medicina humaniza tratamentos e a relação médico-paciente

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Por Redação
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Desde 2016, o neurocientista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Afonso Neves tem uma missão em sua rotina cheia de atividades: despertar o sentimento de empatia e compaixão entre os estudantes de Medicina

Câmpus da Escola Paulista de Medicina, na Vila Clementino, zona sul da capital paulista Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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Para embasá-lo, ele criou na universidade o projeto Narrativas em Saúde, que inclui o oferecimento de um curso de extensão e de uma disciplina chamada Medicina Narrativa, oferecidos anualmente e abertos tanto à comunidade médica quanto a outros interessados.

Essa troca de saberes tem raízes nos anos 1990, quando uma ala da Medicina passou a defender práticas mais humanizadas na saúde pública. A professora Rita Charon, da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, foi uma das pioneiras, ao propor uma disciplina universitária dedicada à arte de contar a história de uma doença (e de sua cura). Nela, os médicos reveem, por escrito ou oralmente, a história dos males de cada paciente. O exercício ajuda a sensibilizar profissionais com as vivências e as particularidades de cada caso, o que, no limite, leva a respostas terapêuticas mais originais, humanas e individualizadas.

O despertar da empatia começa desde o início da graduação na Unifesp. No primeiro semestre, é oferecida a disciplina “iniciação à prática médica”, na qual os alunos visitam e conhecem o dia a dia de uma instituição e, como tarefa, devem produzir um texto sobre a experiência, lê-lo para a turma e conversar sobre o caso em sala de aula. “A narração possibilita um processo importante, pois dá ferramentas para que o profissional da área da saúde aflore sua sensibilidade no processo empático”, acredita. 

Para a médica Maria Auxiliadora de Benedetto, que pesquisa há décadas processos de narração em Medicina, quando se pede a um estudante que escreva a história de um paciente e que a apresente aos colegas, os resultados são surpreendentes. “Eles relatam que, ao registrar por escrito uma história, o aprendizado em relação a questões humanas se aprofunda.” 

Sobre os avanços no debate a respeito das práticas de teleatendimento, Afonso defende que ele deve ser um aliado na Medicina Narrativa, espécie de complemento da Medicina baseada em evidências. “Precisamos observar aspectos sociais, culturais e emocionais no protocolo médico. Nós tratamos de uma pessoa, não de órgãos.”

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