Para prever o futuro climático, cientistas analisam o passado

Método do Serviço Geológico dos EUA analisa fósseis e compara período antigo aos dias de hoje

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Por Redação
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A chave para descobrir quais serão as condições climáticas para o resto do século pode estar no passado. Cientistas do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês) estão analisando características de períodos longínquos da história - cerca de 3 milhões de anos atrás, quando o planeta tinha temperaturas parecidas com as de hoje em dia - para prever o que pode acontecer nos próximos anos.

 

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Eles concluíram que no período Plioceno - entre 3,15 e 2,85 milhões de anos atrás - a Terra era úmida e quente, parecida com as condições atuais. As temperaturas e a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera na época também são similares, segundo o USGS. Com tais conhecimentos, os cientistas conseguem simular o que o aquecimento global pode modificar no planeta.

 

O método da "retrovisão" necessita de ferramentas não comuns na paleontologia, que estuda as evidências fósseis. Técnicas de análise radiocarbono funcionam para colher informações de apenas 1 milhão de anos atrás. Em vez disso, os paleoclimatologistas que estudam as condições climáticas antigas encontram o que precisam em camadas sedimentares no fundo do oceano ou em restos de folhas, objetos cujos isótopos de carbono estável são analisados.

 

Mark Pagani, da Universidade de Yale, deu mais detalhes. Quando uma alga do Plioceno absorveu dióxido de carbono no processo de fotossíntese, produziu carbono orgânico com características sensíveis à concentração de CO2 na água. Essas características se preservam em fósseis que ajudam a determinar quanto de carbono havia na atmosfera no período.

 

"Precisávamos descobrir o que havia na terra, onde as plantas cresciam, onde estavam as montanhas, o nível de mar, essas informações', disse Harry Dowsett, do USGS. Com essas técnicas, os cientistas conseguem estimar os níveis de dióxido de carbono de até 150 milhões de anos atrás em alguns locais, segundo Pagani.

 

No Plioceno médio, as temperaturas eram aproximadamente 2°C mais quentes que as temperaturas médias atuais - mesmos níveis que, apontam análises, teremos em 2100. Os níveis dos oceanos eram 21 metros maiores que os atuais. Os dinossauros já haviam sido extintos e os animais - inclusive o homo sapiens - eram parecidos com os de agora.

 

Um dos problemas para prever o futuro com base no passado, porém, reside na presença da atividade humana agora. A produção de dióxido de carbono é majoritariamente proveniente do homem e da sociedade, e não da natureza, como ocorreu no Plioceno. As projeções, por exemplo, mostram um menor aquecimento do Atlântico Norte do que ocorre no passado. "O que acontecer ali é crucial para o Ocidente", disse Mark Chandler, da Nasa.

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Mas há quem acredite que o homem não tem tanto papel nas mudanças climáticas. Patrick Michaels, do Instituto CATO, afirma que as mudanças climáticas ocorreram de fato, mas ocorreram naturalmente e de forma crítica. "O problema não é o calor, e sim a sensibilidade das mudanças de temperatura aos níveis de dióxido de carbono na atmosfera", explica. 

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