28 de fevereiro de 2020 | 12h37
Atualizado 29 de fevereiro de 2020 | 14h07
SÃO PAULO - A ocorrência do coronavírus já em mais de 50 países, em todos os continentes, e o aumento de nações que registram transmissão local da doença levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a elevar o nível de alerta no mundo. O risco de dispersão e de impacto do Covid-19 foi de alto para muito alto.
O anúncio foi feito nesta sexta-feira, 28, pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que afirmou que o contínuo crescimento do número de casos e países afetados é claramente motivo de preocupação. Ele continua defendendo, porém, que ainda é possível trabalhar para tentar conter essa expansão e exortou os países a se prepararem, ficarem alertas e agir rapidamente.
Na quinta-feira, ele já tinha dito que “todo país deve estar pronto para seu primeiro caso, seu primeiro cluster, a primeira evidência de transmissão comunitária e para lidar com a transmissão comunitária sustentada. E deve estar se preparando para todos esses cenários ao mesmo tempo”.
Mas a organização continua evitando usar a palavra pandemia, o que é defendido por alguns especialistas. O Brasil, no entanto, tem discordado.
Nesta sexta, o Ministério da Saúde reiterou o pedido para a OMS atualizar a classificação do coronavírus. “Esta mudança (para pandemia) vai implicar numa redução de busca de relação com o local provável de infecção e vai nos permitir focar principalmente nos grupos etários mais vulneráveis, que são adultos com mais de 60 anos”, afirmou o secretário de Vigilância da Saúde do ministério, Wanderson Kleber de Oliveira.
Ghebreyesus defende que ainda há margem para atuar em contenção de casos. “O que temos visto no momento são epidemias de Covid-19 em vários países, mas a maioria dos casos ainda pode ser rastreada a contatos conhecidos ou a clusters de casos. Não temos evidências, ainda, de que o vírus está se espalhando livremente nas comunidades”, afirmou nesta sexta.
“Enquanto for este o caso, ainda temos a chance de conter o coronavírus se ações robustas forem tomadas para detectar os casos rapidamente, isolar e cuidar dos pacientes e rastrear os seus contatos”, disse.
O vírus que surgiu na China no fim do ano passado já chegou, de acordo com a OMS, até sexta, a 51 países, além da China. Foram cinco novos desde quinta: Dinamarca, Estônia, Lituânia, Holanda e Nigéria (o primeiro país da África sub-saariana).
Após a checagem da organização, o México também informou que registrou seu primeiro caso.
Segundo a OMS, havia 78.961 casos confirmados na China e 4.691 em 51 países. O número de mortes total chegou a 2.858 mortes (67 delas fora da China). Em 24 horas, a China havia reportado 331 novos casos – o valor baixo em um mês de epidemia. Já os novos casos no resto do mundo foram de 1.027.
Dos novos registros, 24 casos foram exportados da Itália para 14 países e 97 casos foram exportados do Irã para 11 países desde quinta. No Brasil, o Ministério da Saúde informou que investiga 182 casos suspeitos, mas continua com apenas um confirmado até o momento.
Especialistas ouvidos pelo Estado defendem que ainda não ter declarado uma pandemia faz sentido. “A partir do momento que isso for feito, significa que há transmissão sustentada em tantos lugares que já não faz mais sentido tentar conter os casos. Se declara pandemia, a China pode não mais se sentir impelida a controlar os 100 milhões de pessoas que estão sob confinamento. Os países que têm transmissão sustentada perdem ou acham que perdem a obrigação de conter. Se virou pandemia, por que vou gastar esforço político e de recursos de fazer cordão sanitário?”, comenta o epidemiologista Eduardo Massad, da Faculdade de Medicina da USP.
“Mas se a China e os outros países não tivessem feito isso, haveria muito mais casos pelo mundo”, diz.
Para o também epidemiologista Eliseu Alves Waldman, da Faculdade de Saúde Pública da USP, deve ser apenas uma questão de tempo para virar de fato epidemia, mas ainda há que se tentar amortizar esse processo. “Numa doença de transmissão respiratória, não existem medidas para pará-la. A expectativa é que o vírus vai mesmo se espalhar. Mas é importante ao máximo retardar o processo, para que a evolução se dê de maneira gradual. Porque quanto mais rápido for, com certeza, mesmo em países desenvolvidos, as estruturas dos sistemas de saúde poderão entrar em colapso.”
Ele aponta ainda que, ao declarar pandemia, a OMS tem de enviar recursos humanos e financeiros para apoiar países mais pobres a lidar coma doença, o que aumenta custos e dificuldades. “Existem motivos para tomarmos todas as providências necessárias e possíveis para evitar o pior – como ter um aumento muito rápido da doença em um número muito grande de países.”
O diretor-executivo do programa de emergências da OMS, Michael Ryan, explicou que a elevação de risco de alto para muito alto reflete o fato de que a doença está surgindo em muitos países e o fato de que alguns estão sofrendo para conter a propagação. E que serve principalmente como mensagem para que os países que têm os primeiros registros ajam rapidamente para tentar conter a propagação. “É um chamado para acordar e ficarem prontos. O alerta é para dizer que podemos conter isso”, afirmou.
Confira as notificações feitas por cada país:
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28 de fevereiro de 2020 | 16h05
Um britânico que estava a bordo do navio de cruzeiro Diamond Princess, retido no Japão por causa do coronavírus, morreu no país asiático, tornando-se a primeira pessoa do Reino Unido a vir a óbito devido à infecção. A informação foi divulgada por fontes do governo japonês nesta sexta-feira, 28, e a identidade da vítima não foi divulgada.
A morte foi anunciada no mesmo dia em que foram confirmados, também no Reino Unido, outros três casos de pessoas afetadas pelo vírus respiratório Covid-19, o que eleva o número de diagnosticados no país para 19.
As autoridades japonesas indicaram que o britânico é a sexta pessoa do cruzeiro, posto em quarentena, a morrer devido ao novo vírus. Outros cinco passageiros da embarcação, todos japoneses, também morreram e mais de 700 foram infectados.
No Reino Unido, entre os novos casos positivos registrados, figuram o primeiro afetado em Gales, que foi infectado durante passagem pela Itália, e outras duas pessoas na Inglaterra que contraíram a doença no Irã, segundo confirmaram hoje o ministro da saúde britânico. O ministro de relações exteriores indicou que está investigando as circunstâncias que cercam a morte da primeira vítima do país.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, deve presidir, na próxima segunda-feira, 2, uma reunião do comitê de emergência a fim de dar resposta ao crescente número de casos positivos detectados na Europa. /EFE
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28 de fevereiro de 2020 | 14h29
RIO DE JANEIRO - A Justiça do Estado do Rio aceitou um pedido do município de Paraty, na região da Costa Verde, a manter em internação hospitalar compulsória um casal de franceses com suspeita de ter contraído coronavírus. A dupla chegou à cidade na segunda-feira, 24, e procurou atendimento na quinta-feira. Desde então, eles estão mantidos em isolamento.
O casal ainda tentou deixar a unidade hospitalar, mas a Prefeitura acionou a Justiça. A informação foi divulgada pela TV Globo e confirmada pelo Estado. O caso tramita em segredo de Justiça.
Apesar da internação compulsória autorizada pelo Poder Judiciário, ainda não foi confirmado que o casal tenha contraído de fato o coronavírus. O caso é um dos nove investigados no Estado como suspeito.
Antes de viajar a Paraty, os dois franceses teria passado quatro dias na cidade do Rio. A dupla chegou ao País vinda de Barcelona, na Espanha.
O Brasil confirmou na noite de terça-feira, 25, o primeiro caso com teste positivo para o novo coronavírus. Trata-se, segundo o Ministério da Saúde, de um homem de 61 anos, residente em São Paulo, com histórico de viagem para a Itália, na região da Lombardia (norte do país), a trabalho, sozinho, no período de 9 a 21 de fevereiro. O paciente, segundo as autoridades, está bem, tem sinais brandos da doença e ficará em isolamento domiciliar.
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28 de fevereiro de 2020 | 12h00
SÃO PAULO - Em muitas cidades do País, o fim de semana ainda é de carnaval e de blocos nas ruas. Mas, com a confirmação do primeiro caso do novo coronavírus no Brasil, surgiu o receio: é preciso evitar aglomerações ou dá para curtir a folia? Especialistas afirmam que a transmissão da doença vinda da China é possível, com a chegada de viajantes de áreas onde já existe surto, mas a chance maior é de contrair outros vírus respiratórios mais comuns, como a influenza. Por enquanto, as autoridades de saúde pública não vetaram a realização de eventos ou deram recomendações expressas de evitar a festa. Em regiões onde já existe epidemia da nova doença, eventos foram cancelados, como ocorreu com o tradicional carnaval de Veneza, na Itália.
Aqui no Brasil, o secretário executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis, disse que a pasta não recomenda o cancelamento de eventos, como jogos esportivos ou blocos de pré-carnaval. Mas, segundo ele, deve prevalecer o "bom senso" e as pessoas que têm sinal de doença respiratória devem evitar locais com aglomeração.
Professora de Infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Nancy Bellei afirma que a disseminação da influenza, já conhecida pelos brasileiros, deve aumentar nas próximas semanas. Para quem vai para a rua, cuidados devem ser tomados, como se afastar de quem tosse ou espirra, pois mesmo no estágio de incubação pode haver transmissão. “Em ambientes abertos, como blocos, a questão é mais o contato próximo. Com gotícula, secreção, o contágio é mais difícil do que em ambientes fechados”, diz ela, também consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia.
O virologista Pedro Vasconcelos também avalia risco maior de contrair outras doenças, como a própria influenza e o sarampo. “Este é o período sazonal da gripe e ela tende a um aumento. A concentração num determinado espaço físico, como é o caso do carnaval, em que as pessoas estão em blocos ou agrupadas em arquibancadas, cria a tendência de que aumente o risco de transmissão de doenças com transmissão respiratória”, diz Vasconcelos, do Instituto Evandro Chagas.
Por causa da identificação do novo coronavírus no Brasil, o governo federal decidiu antecipar a campanha de imunização contra gripe, que vai começar em 23 de março. O imunizante não previne contra a nova doença, mas vai facilitar a identificação dos casos do coronavírus chinês pelos profissionais de saúde. Nos últimos anos, autoridades de saúde pública também têm alertado para a queda nas taxas de vacinação contra sarampo, que também pode levar à morte e tem um potencial de contaminação bem mais alto. Um infectado pelo Covid-19, o novo coronavírus, costuma infectar, em média, outras duas ou três pessoas. Já em relação ao sarampo, essa taxa sobe para 18.
A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal da Saúde, informou que durante o pré-carnaval terá postos médicos montados e disponíveis para a população nos locais de grande concentração durante os desfiles. No domingo, 1º, haverá dois megablocos - da funkeira Anitta e da cantora de axé Daniela Mercury. Segundo a pasta, as tendas serão abertas duas horas antes dos eventos e fechadas quando a Polícia Militar encerrar a programação do local.
Cada posto contará com profissionais da saúde, médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, que estarão à disposição da população para atendimentos pontuais e a indicação de unidades de saúde específicas, caso seja necessário atendimento. Além disso, conforme o Município, os profissionais de saúde também foram capacitados para orientar o folião sobre os cuidados e a prevenção quanto ao novo coronavírus. No fim de semana, também haverá no Anhembi, na zona norte da capital paulista, o desfile das escolas de samba vencedoras do carnaval 2020. / COLABOROU FELIPE RESK
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28 de fevereiro de 2020 | 11h51
HONG KONG - As autoridades de saúde de Hong Kong decidiram isolar um cachorro, que pertencia a um paciente diagnosticado com coronavírus, após testes feitos em suas cavidades nasal e oral terem detectado a presença do vírus no animal. Ele destacaram, no entanto, ainda não ter evidência de que a transmissão possa ocorrer para animais. O cachorrro não tinha nenhum sintoma da doença.
O Departamento de Agricultura, Pescados e Conservação (AFDC, na sigla em inglês) de Hong Kong disse que vai conduzir novos testes para confirmar se o cachorro foi infectado com o vírus ou se as amostras foram positivas apenas por contaminação pelo ambiente. "No momento, o AFDC ainda não tem evidências de que animais de estimação possam ser infectados ou de que eles possam ser uma fonte de transmissão para pessoas", disse o órgão.
O cachorro vai ficar em quarentena por duas semanas. A Organização Mundial da Saúde afirma em seu site oficial que ainda não há evidências de que animais de estimação possam ser infectados com o coronavírus.
Até esta sexta-feira, Hong Kong já havia confirmado 93 casos de infecção do coronavírus, com duas mortes.
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28 de fevereiro de 2020 | 10h12
SÃO PAULO - O novo coronavírus, o Covid-19, foi incluído nos critérios de triagem para doação de sangue pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Ministério da Saúde. A análise - que já avalia a presença dos vírus da dengue, chikungunya e zika - também vai verificar a presença de outras variações de coronavírus, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) e Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers).
A nova orientação também determina que pessoas que estiveram em países com transmissão local dos vírus só poderão doar sangue 30 dias após o retorno dessas regiões. A mesma regra vale para quem teve contato com casos suspeitos ou confirmados da doença. O Brasil tem, até o momento, um caso confirmado de infecção pela doença.
Para quem teve o novo coronavírus, Sars ou Mers, a agência informa que será necessário esperar um prazo de 90 dias após a completa recuperação para que a pessoa possa fazer a doação.
"Já os candidatos que tiveram resfriado comum ou infecções de vias respiratórias causadas eventualmente por coronavírus, mas sem histórico de viagem para regiões endêmicas ou contato com pessoas provenientes destas áreas, não deverão ser considerados de risco para a infecção desses novos vírus. A Anvisa e o Ministério da Saúde informam que não existe evidência, até o presente momento, de transmissão transfusional dos coronavírus e que, por este motivo, a ação é realmente preventiva", informa nota da agência.
Segundo a agência, a medida se baseia na legislação de saúde brasileira, que prevê atualizações nos critérios de seleção de doadores de sangue em situações de emergências e surtos epidêmicos.
Para dengue e chikungunya, o prazo de inaptidão é de 30 dias. Se o paciente teve dengue hemorrágica, o prazo será de seis meses após a completa recuperação. No caso de infecção por zika, a restrição é por 120 dias.
Para essas doenças, há ainda regras para casos de contato sexual com pacientes infectados. Para dengue e chikungunya, quem teve relações sexuais com pessoa que teve a doença nos últimos 30 dias, deve esperar um mês para doar.
"Candidatos à doação de sangue que tiveram contato sexual com pessoas que apresentaram diagnóstico clínico e/ou laboratorial de zika nos últimos 90 dias, deverão ser considerados inaptos pelo período de 30 dias após o último contato sexual com essas pessoas", informa a nota técnica da Anvisa e do Ministério da Saúde.
Segundo a Fundação Pró-Sangue, instituição ligada à Secretaria de Estado da Saúde, pessoas de 16 a 69 anos com boas condições de saúde e que pesam mais de 50 kg podem doar sangue. A triagem verifica impedimentos temporários e definitivos para doação.
Requisitos básicos
Intervalos para doação
Impedimentos temporários
A lista completa dos impedimentos definitivos pode ser lida aqui.
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