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'Pele boa é a que você tem', declara Kéren Paiva

Uma das precursoras no debate sobre o movimento da pele livre nas redes sociais, ela defende que é preciso se amar na própria pele

Foto do author Ana Lourenço
Por Ana Lourenço
Atualização:

É quase um rito de passagem se incomodar com a pele durante a adolescência. As mudanças do corpo, os hormônios, as comparações, tudo nos faz questionar: somos bonitas o suficiente, somos aceitas o suficiente? Kéren Paiva, de 25 anos, era mais uma menina incomodada com a aparência, até que ela decidiu se perguntar por quê. 

“A gente começa a entender que existe uma sociedade que lucra em cima da nossa insegurança, e isso foi essencial para eu tirar a culpa de ter uma pele acneica”, diz. A partir daí, a menina de então 17 anos virou uma das vozes mais importantes do movimento #pelelivre nas redes sociais e passou a ajudar outros que, assim como ela, sofriam com a pressão para ter uma pele perfeita. “Pele boa é a que você tem”, afirma ela.

A mineira Kérenrevela não ter expectativa de selivrar de vez daacne, mas sabe que tem de viver em paz com ela mesma Foto: KÉREN PAIVA

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Acordar, passar bases e corretivos, ir para escola e voltar com algum tipo de fórmula mágica para a pele. Esse era um dia comum na vida de Kéren. Ela, que começou a ter acne aos 11 anos, teve de lidar com bullying, opiniões não requisitadas e muita insegurança por boa parte da sua vida até se reerguer e assumir a acne com orgulho. 

“A adolescência foi uma época difícil pra mim porque a acne sempre foi vista de um jeito muito errado. As pessoas acham que é sujeira, descuido e, como eu acreditava que era culpa minha, tentei várias coisas malucas para me livrar da acne”, lembra ela, citando pomadas e tratamentos. “Até tentei aquele famoso com isotretinoína, que é, sim, muito forte e traz diversos efeitos colaterais. Fiz 9 meses desse tratamento e tive uma recidiva. Foi quando entendi que minha acne é resistente.” 

A adolescência foi uma época difícil para mim porque a acne sempre foi vista de um jeito muito errado. As pessoas acham que é sujeira, descuido e eu acreditava que era culpa minha

Kéren Paiva

Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a acne atinge 56% da população adulta, sendo uma das doenças mais comuns do mundo. Em alguns casos, como o de Kéren, são pessoas que tratam da pele a vida toda, justamente por ter algum tipo mais resistente. “Muito mais do que a estética, a acne causa dores no corpo e consequências emocionais e psicológicas. Impacta na qualidade de vida da pessoa, pode levar a transtornos alimentares e psíquicos e isso é muito sério. Cada tentativa que não dava certo me gerava mais frustração.”

Até que em 2017 ela conheceu a influenciadora Layla Brígido. “Quando a vi falando sobre autoestima, apesar de não ser diretamente sobre a pele, virou uma chave na minha cabeça para eu começar a pensar de uma forma diferente de como me via antes e a ver que era possível eu me sentir bonita. Foi aí que fui atrás de informação para entender de onde vinha a minha acne de verdade. Desde então, comecei a questionar o que me foi imposto. Como eu era descuidada se me cuido, me limpo?”, reflete. 

Quando começou a falar sobre essas questões online, ela percebeu que não era a única a se sentir mal por causa da acne. “Eu vi ali na internet, na criação de conteúdo, uma forma de colocar minha voz para fora. Para tentar comunicar coisas que eu sentia, via, vivia, e acabei atingindo pessoas que também passavam por tudo isso. Eu sabia que existia, mas não imaginava nunca a proporção que tomou”, diz a respeito dos seus mais de 50 mil seguidores. 

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A PELE. Hoje, a mineira de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, segue em tratamento, mas com outras propostas. “Não tenho expectativa de nunca mais ter acne. Antes, quando usava a pomada, era na base do ódio, não como um momento de cuidar de mim. A gente perde o significado do que é cuidado com a pele, a gente está ali numa vontade desesperada de ter pele perfeita e vira um processo mais nocivo do que era para ser.”

Assim como o skincare, a maquiagem também era um fardo. Kéren lembra que um frasco de base durava no máximo um mês, na tentativa de esconder detalhes de sua pele. “Queria tudo apagado, queria tirar o foco do meu rosto e hoje vejo que uso sombras coloridas, pedrarias e uns 10 quilos de iluminador”, brinca. 

Segundo ela, o mais difícil é parar de buscar a pele perfeita e normalizar as texturas do rosto. “Foi um processo que começou por dentro, quando passei a me entender e me ver diferente, para depois conseguir externar isso”, explica. “Ao falar sobre isso, eu evoluí e comecei a amadurecer o processo. Não podemos esperar que as pessoas nos vejam de maneira diferente, a gente tem de se ver primeiro. Quando nos enxergamos dessa forma, isso muda o olhar deles sobre nós.” 

Em suas redes, Kéren sempre repete: pele boa é a que você tem. “É sobre a liberdade de viver na pele que eu vivo. Não tem como eu arrancar e colocar outra, então preciso viver em paz comigo, em paz com ela. E minha pele tem uma função para muito além da aparência. Seria injusto eu viver com essa culpa.

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