21 de julho de 2008 | 16h50
O Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (Lafepe) produzirá a versão pediátrica do remédio mais usado no mundo contra a doença de Chagas, mal que causa 50 mil mortes por ano no continente americano, e distribuirá a preço de custo em todos os países da América Latina. O projeto será possível graças ao acordo de associação assinado nesta segunda-feira, 21, em Recife entre o Lafepe e a Iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, em inglês). O acordo prevê que o Lafepe produza a versão infantil do benzonidazol e o distribua a preço de custo nos 21 países das Américas Central e do Sul onde a doença é endêmica e onde há 8 milhões de pessoas com o parasita no sangue. "Como não existe um remédio contra a doença de Chagas especialmente feito para crianças infectadas, hoje o remédio é dividido em várias frações, chegando a 12, para ser dado às crianças", explicou à Agência Efe o porta-voz da DNDi no Brasil, Flávio Guilherme Pontes. "Esta estratégia é arriscada porque possíveis erros no fracionamento podem reduzir a eficácia do remédio, assim como afetar sua qualidade, sua absorção pelo organismo e sua segurança", acrescentou Pontes. Desde os anos 70 o benzonidazol é o principal medicamento usado para o tratamento do mal de Chagas em todo o mundo. Atualmente, o Lafepe é único laboratório do planeta a contar com tecnologia de produção do benzonidazol, transferida pela multinacional Roche ao Governo brasileiro. O remédio adaptado para as crianças deverá estar à disposição dos pacientes no final de 2009, segundo a DNDi, associação criada em um esforço conjunto entre vários colaboradores, entre eles a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os Médicos Sem Fronteiras e o Instituto Pasteur. "A associação entre o DNDi e o Lafepe é uma resposta à comunidade internacional que trabalha no combate ao mal de Chagas e que definiu entre as maiores prioridades a versão pediátrica do benzonidazol", segundo Isabela Ribeiro, representante da DNDi no Brasil. O acordo prevê que o Lafepe produza a versão pediátrica do remédio em colaboração com a DNDi, que o apoiará no processo de registro, nas gestões de pré-qualificação perante a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e na definição das estratégias de distribuição nos países endêmicos. O Lafepe se responsabilizará pelos estudos para o desenvolvimento da fórmula e validação dos métodos, pelo fornecimento dos documentos necessários para o registro do produto e das matérias-primas, equipamentos e pessoal técnico necessário. "Estamos felizes em poder trabalhar com o apoio técnico e administrativo da DNDi. Este acordo permitirá o fornecimento do produto em quantidade suficiente para atender a demanda dos países no qual o mal de Chagas é endêmico", afirmou o presidente do Lafepe, Luciano Vasquez. O diretor-executivo da DNDi, Bernard Pécoul, afirmou que a associação faz parte da estratégia da organização para investigar e desenvolver novos e melhores remédios contra a doença de Chagas. A DNDi, que se dedica ao desenvolvimento de remédios contra as chamadas doenças negligenciadas por não interessarem aos grandes laboratórios e que afetam principalmente os países pobres, realiza atualmente estudos clínicos de seis novos remédios e está na fase pré-clínica de outros quatro. A doença do Chagas, descoberta pelo médico brasileiro Carlos Chagas, é causada pelo Trypanosoma cruzi, um protozoário flagelado que usa como hospedeiros animais silvestres e domésticos. O parasita entra na circulação sanguínea do homem após este ser picado pelo mosquito barbeiro, que por sua vez picou antes animais infectados com o Trypanosoma cruzi.
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