Pesquisadora cria absorvente para melhorar higiene menstrual de pessoas de baixa renda

Protótipo biodegradável usa fibras de bambu e banana, espuma de soja ou celulose e tem camada impermeável

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Por Julio Cesar Lima
Atualização:

CURITIBA – A designer de produtos paranaense Rafaella de Bona Gonçalves, de 25 anos, desenvolveu absorventes e tampões biodegradáveis para melhorar a higiene menstrual das pessoas em situação de vulnerabilidade. O estudo e o trabalho renderam a ela a indicação para a primeira edição do Young Inventors Prize do Escritório Europeu de Patentes (European Patent Office, EPO). Os vencedores serão anunciados no dia 21.

Estudo e trabalho de designer renderamindicação para primeira edição do Young Inventors Prize do Escritório Europeu de Patentes Foto: Gustavo Queiroz/EPO

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Rafaella disse ter se inspirado na necessidade encontrada pelas pessoas mais vulneráveis e na forma como isso as afetava. “O design social e o sustentável sempre foram os que brilharam mais os meus olhos. Nos meus projetos, eu tento visar ao social e ao sustentável. Esse é um dos propósitos de minha profissão, um jeito de deixar o mundo um pouco melhor. Desde a faculdade, meus professores mostraram esse caminho do design social e sustentável .Foi o que me inspirou mais. Resolvi pesquisar a respeito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. O primeiro desses objetivos é acabar com a pobreza, então, vi o aspecto da pobreza menstrual”, relatou.

Mesmo com esse incentivo, e com a indicação ao prêmio Rafaella ressalta algumas dificuldades para uma futura produção em escala comercial dos absorventes desenvolvidos por ela. “Os protótipos que estamos fazendo são feitos de forma manual. Essa é uma das dificuldades de desenvolver e produzir em escala, pois não temos maquinário para isso, a gente não dá conta. É mais para teste mesmo. Assim que a gente tiver um maquinário, vai ficar mais viável fazer estudo sobre a matéria prima e escolher aquela que seja biodegradável, mas que possua um poder de escala. Por isso, estamos estudando várias matérias primas”, disse.

O projeto atual, segundo os responsáveis, usa uma fibra de bambu macia para a primeira camada; fibra de banana, espuma de soja ou celulose de madeira para a segunda; e uma camada externa impermeável e biodegradável. A banana, a fibra, é fornecida pela cooperativa Rede Mulheres de Fibra, que também fabrica outros produtos com resíduos de banana e emprega mulheres carentes.

Designer de produtos paranaense Rafaella de Bona Gonçalvesdesenvolveu absorventes e tampões biodegradáveis para melhorar higiene menstrual das pessoas em situação de vulnerabilidade Foto: Gustavo Queiroz/EPO

Rafaella disse que no futuro será necessário dar atenção às questões ligadas à vigilância sanitária. “Como ele não foi para o mercado, ainda está na fase de prototipação, e ainda estamos estudando os materiais, de que forma será o maquinário e como o absorvente se comporta no ciclo menstrual, a gente ainda não fez nenhuma aprovação com a Vigilância. Porém, para que ele vá para o mercado, como é um item de higiene, precisará passar por aprovação.”

Preconceito

Para a designer, houve mudanças de comportamento em relação ao tema da pobreza menstrual, que antes, segundo ela, era percebido com certo preconceito. “Houve uma melhora, desde que eu comecei o projeto, em 2018. Naquela época, quando falava com autoridades políticas, algumas não davam muita bola e chegaram a falar: ‘Ah, agora tenho que me preocupar até com menstruação’. Isso me chocava bastante. Havia muito preconceito, pois era um projeto voltado para pessoas em vulnerabilidade e em situação de rua”, afirma.

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“Acredito que, de lá pra cá, mais gente passou a conhecer o problema da pobreza menstrual, que ficou ainda maior depois da pandemia. A própria ONU fala sobre isso e há uma luta para que as políticas públicas enfrentem a questão. Mas ainda há muito pelo que batalhar nessa área , assim como para exigir das autoridades”, ressalta.

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