Jovens e pessoas que trabalham fora são os mais afetados por covid-19 na cidade de SP, diz estudo

Inquérito sorológico feito pela Prefeitura aponta que 1,3 milhão de moradores de São Paulo têm anticorpos contra novo coronavírus; estimativa não teve alteração em relação a levantamento da quinzena anterior

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Por Priscila Mengue
Atualização:

A quarta fase do inquérito sorológico realizado pela Prefeitura de São Paulo aponta que 10,9% dos moradores maiores de 18 anos da cidade têm anticorpos do novo coronavírus no organismo, o que representa 1,3 milhão de pessoas. Segundo o levantamento, pessoas que trabalham fora têm três vezes mais chances de contrair a covid-19 em relação às que estão em home office.

São Paulo deve atingir marca de 700 mil novos infectados nesta segunda-feira. Foto: Alex Silva/Estadão

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Os dados foram divulgados na manhã desta quinta-feira, 13, pelo prefeito de São PauloBruno Covas (PSDB), em coletiva de imprensa. A etapa anterior do inquérito, que é quinzenal, apontava a contaminação de 11,1% dos moradores. Como o intervalo de confiança é de 1,7%, a gestão municipal interpreta que os dados mostram uma estabilidade da doença na capital. 

Para Covas, o resultado significa uma estabilidade mesmo com os dois meses de reabertura gradual de comércios e serviços, como shoppings, bares e restaurantes. Segundo balanço da Prefeitura de quarta-feira, 12, a cidade tem 258.481 casos confirmados da doençanúmero que é cinco vezes menor do que o estimado pelo inquérito

A contaminação é prevalente entre as pessoas que estão saindo de casa para trabalhar (18,5%), índice que é três vezes maior em comparação a quem está em home office (6,2%). O valor também é alto entre desempregados (12,7%). “Isso revela que provavelmente quem trabalha fora se expõe e quem é desempregado sai em busca de trabalho”, comentou Edjane Torreão, secretária-adjunta de Saúde.

O inquérito aponta trabalhar fora e a flexibilização da quarentena como os principais fatores que justificam a prevalência de casos entre a população de 18 a 34 anos, que têm 2,6 mais risco de contrair a doença que a idosa. “É a principal faixa etária que tem saído de casa para trabalhar”, destacou Covas. 

O comparativo também mostra que a prevalência é três vezes maior entre aqueles que têm ensino médio completo em comparação aos que cursaram o ensino superior. Além disso, pessoas das classes De E têm três vezes mais chance de ter a doença do que as das classes A e B. Já quem mora sozinho ou com mais uma pessoa tem chance de 40% a 60% menor de ter covid-19 em relação aos demais perfis de domicílio.

De acordo com a Prefeitura, o exame sorológico usado na pesquisa avalia a presença de anticorpos para a covid-19 em moradores sorteados aleatoriamente a partir da base de dados do IPTU de 2020, dos hidrômetros de 2017 e do programa Estratégia Saúde da Família (ESF). São selecionados 12 indivíduos com mais de 18 anos para cada área de abrangências das 472 UBS da cidade. A amostra é coletada em domicílio. Ao todo, foram sorteados 5.760 domicílios, nos quais foram feitas 2.532 coletas até 6 de agosto. 

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prevalência dos casos foi na população de 18 a 34 anos, que representa 17,7%, seguida da que tem de 35 a 49 anos, com 10,6%, e a 65 anos ou mais, com 6,8%. Na fase anterior, a prevalência foi entre idosos, o que gerou preocupação e ações da Prefeitura, mas a nova hipótese é que "possivelmente" ocorreu um desvio no levantamento anterior, que teria feito mais coletas entre pessoas da terceira idade. 

Segundo o levantamento, os principais fatores associados à doença seguem relacionados à pobreza e vulnerabilidade social, como baixa escolaridade, menor renda e maior número de moradores em um mesmo domicílio.A prevalência é em pessoas com o ensino médio completo (15,3%), pardas ou pretas (14,8%), da classe D e E (14,3%), que moram com ao menos outros quatro indivíduos (12%) e que não fazem distanciamento social (13,5%). 

“Afeta mais a população com menores índices de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e a população preta e parda da cidade”, destacou Covas.

Além disso, constatou-se que 42,5% são assintomáticos, enquanto 57,5% apresentaram sintomas da covid-19. Entre as regiões da cidade, os casos são mais comuns na zona sul, com 14,7% da população, seguida das zonas sudeste, 11,9%, leste, 11,5%, norte, 7,9%, e centro-oeste, 4,9%.

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Ao todo, o inquérito sorológico terá 9 fases (da fase 0 até a 8), realizadas a cada 15 dias, sempre com o mesmo número de indivíduos sorteados. Em paralelo, também é realizado um inquérito específico para crianças e adolescentes

Prevalência em classes mais baixas e população jovem já era esperada, dizem especialistas

Médico da Clínica de Epidemiologia do Hospital Universitário da USP, Marcio Sommer Bittencourt comenta que a prevalência entre o público jovem se repete em outros países, inclusive europeus, e que tem relação com diversos fatores. “O jovem sai mais de casa, isso não é segredo nenhum, tanto por não respeitar, porque quer sair, porque precisa trabalhar, por achar que o vírus é menos grave do que se diz. Provavelmente é uma combinação de todos esses fatores”, aponta.

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Ele considera esse tipo de levantamento útil para discutir algumas ações, mas ressalta que ainda não há informações suficientes para saber por quanto tempo uma pessoa apresenta sorologia positiva. “Estamos trabalhando com uma informação pela metade.”

Para Marcelo Mendes Brandão, pesquisador do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética e professor da Unicamp, o inquérito pode ser utilizado para guiar algumas políticas públicas de combate e controle da pandemia. Um dos dados que facilita essas ações é o de distribuição geográfica da doença, em que a incidência na região sudeste, por exemplo, é significativamente maior do que na centro-oeste. “O custo depois vai ser muito mais alto para tratar (os casos que se tornarem graves).”

Ele pontua, ainda, que os profissionais que precisam sair para trabalhar por vezes acabam expostos mesmo que estejam em um ambiente controlado, pois podem ter contato com a doença no trajeto. “Lá no início da pandemia, se falava que era iria intensificar as diferenças sociais”, diz.

“Quem tem ensino superior consegue fazer home office, consegue pedir comida, não precisa sair para a rua”, comenta. “O pessoal está trabalhando fora para dar essa comodidade para os outros ficarem em casa.”

Cidade de São Paulo não tem data de volta às aulas

Na coletiva, o prefeito voltou a declarar que a cidade ainda não tem data definida para a reabertura das escolas, tanto privadas quanto públicas. Segundo ele, mais de 500 instituições educacionais estão em reforma para se preparar para a reabertura.

Covas destacou que a retomada ocorrerá apenas após recomendação da Vigilância Sanitária. Pelo Plano São Paulo, criado pelo Governo do Estado, o município estaria apto a reabrir as escolas para atividades não obrigatórias em setembro.

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