05 de março de 2021 | 10h00
Depoimento de Leandro Figueiredo, médico das UTIs covid e geral e do Pronto Atendimento da Beneficência Portuguesa de Pelotas, no Rio Grande do Sul.
No dia em que Bolsonaro fala em 'mimimi', Brasil tem novo recorde na média de óbitos pela covid
“No início da pandemia a gente estava bem preparado e não viu todo esse volume de casos. De novembro para cá o atendimento aumentou muito, tanto no pronto atendimento quanto na UTI. Ainda não chegou a faltar leito, mas estamos muito perto disso.
A maior dificuldade em abrir novos leitos é conseguir equipe técnica. O Estado até pode comprar mais equipamentos, mas faltam médicos preparados para atender aquele tipo de paciente.
Com muito esforço, conseguimos mais médicos para ajustar a escala e abrir mais dez leitos. É difícil manter uma carga horária muito grande na UTI covid porque o trabalho é intenso, tu não tem um minuto de descanso. Tu estás sempre tenso, sempre tem alguma coisa para fazer, é um cansaço físico e mental.
Eu trabalho todos os dias das 8h às 18h e faço plantões noturnos nas quartas e sextas-feiras a cada quinze dias. Também faço plantão de 24h em dois fins de semana por mês. Nesse meio-tempo preciso cobrir algum colega que está doente. A gente não tem escolha: tem que se organizar para pegar esses plantões.
O mais triste é que o paciente que vai para a UTI não pode receber visita, é sempre o médico quem dá a notícia. A família fica com muito medo, e com razão, porque o risco de o paciente não sair dali é muito grande.
As pessoas não têm noção da pandemia. Pode não ter ninguém infectado no teu meio, mas a gente que está no hospital vê a gravidade e rapidez com que a doença evolui. A dificuldade de manejo desses pacientes é muito grande. Em um momento o paciente está estável, de uma hora para outra descompensa. Ou tem um grau de melhora, de repente piora e vai a óbito. O recado que fica é a importância de usar a máscara para proteger a si e aos outros e ficar em casa o máximo que der.” /Depoimento a Mariana Hallal
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