Pinel e Juqueri resistem, mas buscam novas fórmulas

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Por Agencia Estado
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No País, duas das mais tradicionais instituições psiquiátricas, cujos nomes se tornaram sinônimos da doença que tratam, vêm adotando abordagens alternativas com resultados razoáveis. O hospital Philippe Pinel, em Botafogo, zona sul do Rio, é considerado o berço da psiquiatria no País. Suas origens remontam ao Hospício Pedro II, a primeira instituição do gênero no Brasil, de 1852. De acordo com o presidente do Pinel, Marco Barreira Campos, ali "tudo foi experimentado em termos de inovação". Os programas de geração de renda, por exemplo, reduziram as internações em até 90%. Nos últimos dez anos, as oficinas de artesanato que nasceram como forma de tratamento passaram a ter também caráter profissionalizante. Surgiram a TV Pinel, em que os pacientes foram contratados como bolsistas para elaborar documentários e programas, e a Cooperativa Praia Vermelha, especializada em castanha-de-caju e cupuaçu. Hoje, além de pães, bombons e bolos - já vendidos em lojas - a cooperativa também oferece seus serviços para coquetéis. "A renda é instável e pequena, mas não é assistencialismo. Eles aprendem a gerenciar o próprio negócio, a buscar o melhor preço, a disputar mercado. E não vendem porque são coitadinhos, mas porque o produto é bom", afirma a coordenadora do serviço de reabilitação social, Erinia Belchior. Uma das experiências mais ricas é a do Papel Pinel, em que os pacientes produzem cadernos, blocos e agendas a partir de papel reciclado. "Eles transformaram caixas de remédios, bulas, algo que era muito doloroso, em arte", diz Erinia. Juqueri - No Hospital Psiquiátrico do Juqueri, em Franco da Rocha, município da Grande São Paulo, inaugurado no final do século 19, os internos já foram mais de 16 mil, na década de 1960. No final de 2004, eram pouco mais de mil. Agora são apenas 442. A diminuição do número de internos é resultado da remoção para unidades do interior do Estado de São Paulo e da procura das famílias dessas pessoas. Um processo que começou em 2004, com o programa "De Volta Para Casa", do governo federal. A tarefa não é fácil. Muitos dos internos estão ali há tanto tempo que já perderam por completo o vínculo com a família. Para outros a situação é ainda pior: os parentes já não os querem mais. "O governo oferece R$ 240 para o paciente ir para casa. É capaz de algumas famílias oferecerem o dobro para eles ficarem aqui", diz a psiquiatra Maria Alice Scardoelli, diretora da Divisão de Saúde do Departamento Psiquiátrico 2 do Juqueri. Mesmo com a remoção de grande parte dos internos, o Juqueri não será desativado. Quatro residências terapêuticas, chamadas de "casinhas" pelos internos, ficam na área pertencente ao Juqueri, porém distante do hospital. Ali, os ex-pacientes vivem juntos como em uma "república".

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